Uma caminhada em Primavera por paisagens de nevoeiro com as nuvens a agarrarem-se ao granito como num último estertor de um Inverno que por vezes parece que teima em ir embora.
O dia nasceu húmido e cinzento com o céu a descer à Terra. As nuvens corriam pachorrentas ora encosta acima, ora encosta a baixo. Por vezes, uma lá se atrasava e a paisagem abria-se um pouco mais para se fechar logo de seguida. Os horizontes foram quase sempre curtos amortalhados em tons de um cinza que se ia tornando mais claro ou escuro com as vicissitudes do vento.
Iniciei o percurso como muitas vezes já o fiz, subindo a decrépita escadaria de pedra ainda dos Florestais em direcção ao Miradouro do Arado e rumei serra acima até à margem esquerda da Ribeira de Giesteira. Seguindo em direcção do curral com o mesmo nome, enveredei depois pela trepada da Corga do Urso até atingir o caminho florestal que me levou a novo carreiro e depois a Coriscada. Com um nevoeiro cerrado, as paisagens iam-se limitando aos vultos dos velhos carvalhos que se perfilavam pelo curral onde o novo abrigo pastoril jaz destroçado e destelhado. Segui depois pela a encosta de Arrocela e passei acima do curral, flectindo depois à direita para chegar ao topo da Corga Giesteira. Por esta altura, o nevoeiro começava a dar tréguas e permita a visão dos colossos graníticos que por ali marcam presença e guardam a entrada para o Cando. A Roca de Pias, altiva, deixava na sua base brotar a água que alimenta o Rio Conho.
Os objectivos seguintes passavam por descer a Corga Giesteira e depois de passar Entre-Águas, iniciar a magnífica subida pela Corga das Cerdeiras até atingir o Estreito. Assim foi, de forma pausada por entre as cores da Primavera que pujantemente cobriam o estreito vale. As últimas vezes que por aqui havia passado, teriam sido em épocas mais secas e o som dos ribeiros e riachos que se despenham pelas veredas e encostas não se fazia sentir. Todo o recorrido, seguindo o carreiro pastoril, foi uma profunda experiência num dos recantos peculiares que a Serra do Gerês tem para oferecer por esta altura do ano.
A subida é bastante dura e requer, quanto mais não seja para apreciar a paisagem que se is paulatinamente afundando atrás de mim, algumas paragens. A chegada ao Estreito trás-nos a visão do incomparável Vale do Rio Laço tendo ao fundo o Curral da Touça e estando coberto de um tapete de tapeçaria de tons amarelo e violeta. A Primavera Geresiana no seu esplendor!
Rumei então a Pradolã e descendo a corga granítica ao lado do Tope Ruim, cheguei ao extremo de Pousada, continuando pelo Trilho da Vezeira de Fafião até encontrar a ligação para Pinhô. Daqui, desci à Ponte de Servas e segui para Tribela, Portos e Malhadoura, terminando o percurso onde havia iniciado, junto à Ponte do Arado.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)