terça-feira, 2 de junho de 2009

Para uma história das Caldas do Gerês, pelo Dr. Ricardo Jorge (II)

Continuo a reprodução dos textos do Dr. Ricardo Jorge com os quais pretendia em 1891 traçar uma história das Caldas do Gerês. Estes textos foram publicados nesse ano na obra "Caldas do Gerez - Guia Thermal" e são uma primeira aproximação, que chamarei de académica, para um traçado histórico da vila termal.

Para manter o rigor do texto, decidi não o adaptar ao português actual mantendo assim as características da nossa língua mãe em finais do Século XIX.

"(...)

Que no angusto valle thermal penetrasse o romano, tão apaixonado frequentador de caldas, nada o comprova; entre as nascentes e o seu caminho interpunha-se o quase inacessivel espinhaço da serrania. Apenas d'esse tempo piedosa lenda reza do martyrio d'uma santa, que por aquellas quebradas despenharam os pagãos; é a Santa Euphemia, a padroeira das Caldas, dona da capellinha mandada erigir por D. João V.

A descoberta das Caldas, segundo consta dos depoimentos dos primeiros gerezistas, foi casual; attribuem-n'a a uns pastores, que deram um dia pelas fontes vaporosas a jorrar da penha. O certo é que, como todos contestes o asseveram, o verdadeiro descobridor das Caldas, foi o cirurgião da aldeia gereziana de Covide, Manoel Ferreira d'Azevedo. O humilde clinico do sertão instigou os enfermos tolhidos a buscarem nas fontes thermaes o remedio d'achaques rebeldes, bebiam da agua, banhavam-se em pôças abertas no chão, e alojavam-se em cabanas improvisadas. Mas a penosa peregrinação era bem compensada pelas milagrosas curas.

Estas levas annuaes d'enfernos devem ter começado com toda a probabilidade em 1699; esta a grande data inicial d'um descobrimento therapeutico que honra a memoria do ignorado cirurgião de Covide, um benemerito da humanidade enferma."

Fotografia: postal do Gerês que mostra as bicas e os poços termais demolidos em 1897.

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