Esta caminhada pelos trilhos seculares da Serra do Gerês levou-me desde a Portela de Leonte até ao topo do Vale da Lomba de Pau, num dia frio de Inverno que se fazia ver pela geada e cristais de gelo que adornavam as partes mais abrigadas da montanha.
Saindo da Portela do Homem, rumei pelo antigo caminho que a ligava à Albergaria passando pela velha fonte dos Serviços Florestais. Caminhando algumas dezenas de metros por entre cedros, azevinhos e velhas árvores, passava ao lado do Curral de S. João do Campo antes de subir novamente à estrada até atingir a ponte sobre o Rio Maceira. Aqui, flecti à direita e entrei no vale do Rio Maceira seguindo para o Curral de Maceira por entre um carreiro tapeteado de gelo e escorregadio onde era preciso um certo cuidado ao progredir.
A passagem pela ponte de madeira que vence as duas margens do rio, foi como passar numa ponte de gelo onde os cristais a adornavam e se erguiam na sua pequenez num enfeite incomum. O próprio Curral de Maceira era um cenário branco e gélido onde os raios de Sol não se atreviam - por enquanto - a entrar. Passando o curral rumei à procura do Sol que já iluminava a encosta que iria subir em direcção ao Curral de Carris de Maceira. A subida fez-se com tempo e apreciando a paisagem que se transmutava, com o Pé de Cabril a ganhar importância no horizonte à medida que o Vale de Maceira se ia afundando e as corgas se tornavam mais pronunciadas.
Chegando à pequena chã, não muito longe dos Curral das Tábuas, o horizonte já se alargava para as distâncias da Serra da Peneda e das terras galegas, enquanto os cimos do Pé de Medela e Carris de Maceira iam ganhando importância. Continuando a demanda, chegaria ao Curral de Carris de Maceira pelo Norte, após apreciar a magnificência das Fragas da Corneda, continuando então na direcção dos sopés graníticos dos promontórios altivos que por ali dominam a paisagem.
Nesta caminhada tinha por objectivo passar por uns pequenos muros que se «escondem» em Carris de Maceira e que sempre me despertaram a curiosidade. Pergunto-me qual teria sido o seu objectivo? Complementar as palas ali existentes como um resguardo dos ventos aos pastores? Mas, existindo ali perto o Curral de Carris de Maceira, qual a utilidade destes abrigos? Ou teriam tido outro objectivo? No livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" (Rui Barbosa, Dezembro de 2013) são referidos registos mineiros efectuados na Câmara Municipal de Terras de Bouro com a designação "Carris de Maceira", nomeadamente o registo n.º 99 (de 24 de Março de 1943) e o registo n.º 38 (a 2 de Abril de 1945). Porém, não são visíveis sinais de mineração nas proximidades, o que não significa que não tenha ocorrido! Os muros podem também ter sido utilizados como resguardo de pernoita na zona por parte de quem demanda aquelas paragens em busca de aventura nas montanhas, mas sem um testemunho mais fidedigno, será impossível saber o seu verdadeiro uso.
Deixando Carris de Maceira para trás, segui para o topo da Corga da Cântara e tomei o carreiro que passa atrás do Cabeço da Cântara, levando-me a entrar no Vale da Lomba de Pau que ainda se encontrava polvilhado com os restos do nevão. Percorrendo o vale até ao seu topo, a paisagem vai-nos mostrar os píncaros geresianos desde o Pé de Medela e Carris de Maceira, passando nas Albas, Cabeço do Cantarelo, Torrinheira (Cabeço da Cova da Porca, Estorrinheira), Cidadelhe, Lamas de Homem e Outeiro do Pássaro, seguindo para Borrageiros, Porta Roivas, Palma, Iteiro d'Ovos, Meda de Rocalva, Roca Negra e finalmente. Borrageiro, oferecendo também uma magnífica vista sobre o Porto de Vacas, Fechinhas e, mais adiante, Conho.
Deste bordo alcantilado, conseguimos ver o nosso ponto de guia, o marco triangulado da Lomba de Pau, seguindo na sua direcção e depois parando junto do abrigo pastoril do Curral de Lomba de Pau.
A parte final do percurso levou-me para a Chã das Gralheiras, Lamas de Borrageiro e Fonte da Borrageirinha, descendo para o Colo da Preza e seguindo pelo Vidoal para a Portela de Leonte.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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