A desertificação do «interior» do país não é assunto novo e não está limitada à segunda metade do século XX. Por outro lado, as zonas rurais foram as mais afectadas por um êxodo que exanga os espaços longe dos maiores centros urbanos, tornando ainda mais difícil a resistência a uma (quase) inevitabilidade.
De facto, a busca por velhas construções e abrigos pastoris alagados na Serra do Gerês, leva-me a concluir que este território foi sofrendo uma perda lenta, mas constante, de população. Reflexo disso, é o abandono das actividades pastoris e o consequente abandono dos currais de montanha.
Esse abandono é já reflectido em 1907 quando Tude de Sousa, no seu "Mata do Gerês - Subsídios para uma Monografia Florestal" faz a listagem dos currais a ser utilizados pelas vezeiras que decorriam dentro do perímetro florestal do Gerês.
Assim, a vezeira do Vilar da Veiga (e Gerês) ocupavam os currais do Vidoeiro, Secelo, Mijaceira, Leonte, Prados e Lomba de Pau, tendo 1.320 (Vilar da Veiga) e 612 (Gerês) cabeças de gado de diferentes espécies.
A vezeira de Rio Caldo ocupava os currais da Laja, Raiz, Vidoal, Maceira e Arado, tendo 98 cabeças de gado de diferentes espécies.
A vezeira de Covide, com 1.342 cabeças de gado de diferentes espécies, não tinha currais dentro do perímetro florestal do Gerês, mas os seus animais pastavam na mata. Fora do perímetro florestal possuíam os currais de Lameirinha, Peneda, Felgueira e Lubagueira.
A vezeira do Campo do Gerês ocupava o curral de Leonte de Baixo (ou Curral de S. João do Campo), sendo este o único dentro do perímetros florestal, tendo 890 cabeças de gado de diferentes espécies. Fora do perímetro florestal ocupavam os currais de Gamil, Bustelo, Prado, Prado Marelo, Tirolirão e Mourinho.
A vezeira de Vilarinho da Furna ocupava os currais de Albergaria, S. Miguel, Prados Caveiros e Calvos, tendo 1.615 cabeças de gado de diferentes espécies.
A vezeira de Cabril ocupava os currais de Absedo, Abrótegas, Lamas de Homem e Pássaro, dentro do perímetro florestal do Gerês, tendo 1.390m cabeças de gado de diferentes espécies.
As vezeiras da Ermida e Fafião pastavam os seus gados dentro do perímetro florestal, mas não tinham currais no seu interior, tendo (em conjunto) 1.910 cabeças de gado de diferentes espécies.
A vezeira de Lindoso, com 300 cabeças de gado de diferentes espécies, não possuía currais dentro do perímetro florestal do Gerês, mas os seus animais pastavam na mata.
A vezeira de Vila Meã (Galiza) utilizava os currais das Albas e Amoreira, tendo 160 cabeças de gado bovino.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
5 comentários:
Excelente! Temos de apurar, quais os currais que ainda hoje são utilizados pelas vezeiras! A vezeira de Rio caldo hoje ainda utilizará esses currais todos? Não me parece. Fiquei curioso porque não foi referido o de carvalha das éguas nem o do vidoeiro. Serão posteriores a essa data? Outra coisa que estranhei foi o de absedo. Pensei que não se sabia qual era a vezeira a que pertencia. Mas parece que segundo tude de Sousa seria utilizado pela de cabril. Qual era o perímetro florestal? Não me consigo lembrar.
Documentos espetaculares! Tenho mesmo de começar a investigar mais as vezeiras.
Já agora, o rui consegue me dizer algum sitio onde ainda se possa conseguir um exemplar de um livro de tude de Sousa relacionado com o Gerês? Não é nenhum em específico, quero apenas saber
Francisco, é tentar directamente com a CM Terras de Bouro.
Ok! Acho que encontrei exemplares online da biblioteca. Também Descobri uma versão online do livro gerez. O curral de absedo seria utilizado pela vezeira de cabril?
Óptimo!
O Absedo seria utilizado pela vezeira de Pincães, se bem que há quem diga que o mesmo curral fosse também utilizado por Vilarinho. Aqui no Campo do Gerês, chamam-lhe 'Cagarrouço'.
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