quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Trilhos seculares - Do Arado a Lagarinho

 


A visita ao Curral de Lagarinho é uma jornada única por paisagens que nos envolvem desde o primeiro momento. Nesta caminhada respira-se a Serra do Gerês e a tradição da vezeira, neste caso, da Vezeira de Fafião através dos seus currais - uns ainda em uso, outros há muito abandonados.

Tal como muitas caminhadas, esta inicia-se no Arado e segue pela estrada florestal em direcção ao Curral de Malhadoura rodando os Cabeços de João Seda. Após passar pelo Curral de Malhadoura com o seu peculiar abrigo pastoril e o conjunto de grandes rochas empilhadas, segue a estrada em direcção ao Curral dos Portos e depois ao Curral de Tribela, seguindo então na direcção de Pinhô passando pela Ponte de Servas sobre o animado Rio Conho. Esta parte do percurso está integrada no traçado da GR50 Grande Rota da Peneda-Gerês que aqui já viu a sinalética corrigida (nomeadamente a que assinalava a paisagem de fundo do Vale do Rio Conho indicando agora a toponímia correcta da Roca Negra e da Roca de Pias).



Passando o Curral de Pinhô, e deixando o traçado da GR50 que se dirige para Fafião, vamos prosseguir a Este pela estrada até esta terminar junto de um grande sobreiro e aqui tomamos um carreiro que nos levará por entre o bosque até entroncarmos com o Trilho da Vezeira de Fafião. Chegando a este percurso, tomamos a direcção ascendente para Pousada. Aqui surgem várias opções de percurso: podemos virar a Poente e seguir para o Curral de Pousada, seguir a Norte em direcção ao Curral de Pradolã (e mais adiante Vidoeirinho e Rocalva), seguir a Noroeste em direcção ao Curral de Bicos Altos ou então seguir a Nascente, através de um carreiro que vai passar a Ribeira dos Bicos Altos / Corga de Carnicente e seguir para o alagado Curral de Bebedoiro, há muito abandonado.

O carreiro vai então começar a subir para o Cortiço e seguir pela vertente até atingir uma bifurcação. Seguindo à esquerda vamos em direcção ao Curral da Amarela, mas decidimos seguir à direita para atingir o nosso objectivo: o Curral de Lagarinho. O carreiro ainda vai sobrevivendo há «recente» limpeza e facilmente se percorre a ladeira que percorre a corga sinuosa. 



O Curral de Lagarinho encontra-se «escondido» num dos extremos da serra sobranceiro ao Vale do Rio do Porto da Laje e a paisagem que nos oferece se nos dispusermos a caminhar mais algumas centenas de metros só é comparável com o que veremos na Sesta da Amarela sobranceira ao marco triangulado de Lagarinho. Aqui, a Serra do Gerês veste-se com as suas melhores paisagens ao longo de profundos vales levando-nos às alturas de Porta Roivas, Borrageiros e Palma, ou do imenso Iteiro d'Ovos até aos distantes píncaros de Cidadelhe e Torrinheira. Isto é o Gerês em ácidos com emanações de adjectivos que temos de inventar para descrever tamanha paisagem, tamanha beleza, tamanha grandiosidade!

Seguindo velhas mariolas, encetamos o caminho em direcção à Sesta da Amarela. À medida que íamos subindo, a paisagem afundava-se e os píncaros serranos iam ganhando altivez. Em pouco tempo chegava à Sesta da Amarela seguindo depois para uma das mais belas paisagens que a Natureza nos reserva na geresiana serra. Perante nós, erguendo-se dos confins da Terra, Porta Roibas assume-se como uma verdadeira porta de entrada para o Reino Maravilhoso de Miguel Torga. Ali, o granito foi esculpido por milénios de trabalho dos cursos de água, pelo movimento do planeta, criando uma paisagem única em toda a Serra do Gerês. 



Aquela paisagem prende-nos, embriega-nos e leva-nos para um ambiente hipnotizante do qual não queremos sair. Ali, na vertente da serra, somos pequenos perante tamanha grandiosidade. Porém, é sempre chegada a hora do regresso, pois nos dias de Outono, as sombras movem-se depressa e a noite chega quase sem avisar.

Deixando a Sesta da Amarela para trás, seguiu-se em direcção ao Curral da Amarela e daqui baixamos para o Curral dos Bicos Altos seguindo o carreiro que passa entre o Cortiço e os Bicos Altos. No Curral dos Bicos Altos foi tempo para um já merecido descanso e do almoço, visitando também a Pala dos Bicos Altos (o antigo abrigo pastoril daquele curral natural).



Após algum tempo no Curral dos Bicos Altos, seguimos para o Curral de Pousada (Carvalhosa) passando sobre o Tope Ruim, seguindo depois pela vertente da Roca de Pinhô ao longo da entrada do Vale do Rio Conho e baixando para o Curral de Pinhô. O regresso fez-se pelo caminho florestal, passando o Porto Velho em direcção ao Curral de Tribela e daqui para o ponto de partida.

Foi uma caminhada com 16,1 km e com um D+ de 758 metros, totalizando 2.708,8 km percorridos em 2022 com um total de D+ 118.934 metros.

Ficam as fotografias do dia...




































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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