Uma das questões que se coloca sobre a designação "Minas dos Carris", é o porquê de se referir no plural, isto é, «minas» em vez de «mina», tal como "Mina de Borrageiros" ou "Mina Mercedes As Sombras".
Na verdade, o complexo mineiro nos píncaros serranos do Gerês era composto por várias minas, ou melhor, por várias concessões mineiras, sendo a principal a Mina do Salto do Lobo.
A área próxima do marco geodésico dos Carris foi extensivamente batida em busca de afloramentos de volfrâmio na primeira metade de 1941. A 24 de Junho, Domingos da Silva, da pequena aldeia de Outeiro - Montalegre, entrega na Câmara Municipal daquele concelho um manifesto mineiro para assegurar os direitos de concessão no sítio denominado ‘Salto do Lobo’ onde teria descoberto volfrâmio e outros metais por simples inspecção de superfície. Domingos da Silva determina o centro do que denomina como ‘Corga do Salto do Lobo’, medindo 550 metros para o Norte e o manifesto mineiro fica registado com o n.º 303. O pedido de alvará de concessão tem lugar a 12 de Setembro e dá entrada na Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos quatro dias mais tarde. O pedido é feito para o sítio ‘Salto do Lobo ou Carris’, designação depois rasurada e sendo-lhe atribuído o n.º 10.730. No entanto, e segundo um documento originário da Sociedade Mineira dos Castelos Lda., que mais tarde exploraria as diversas concessões mineiras, outros registos mineiros haviam já sido realizados a 15 de Maio de 1941 (registo n.º 283 “Salto do Lobo”), a 6 de Junho (registo n.º 296 “Carris”), a 16 de Junho (registo n.º 299 “Corga das Negras”) e a 28 de Julho (n.º 327 “Carris”).
A 16 de Setembro de 1941 dá entrada a Memória Descritiva da Mina de Estanho e Volfrâmio “Carris ou Salto do Lobo”, de Domingos da Silva.
No Verão de 1941 a Serra do Geres terá sido percorrida por inúmeras pessoas em busca de um futuro melhor sob o signo do volfrâmio e prova disso é que a 19 de Julho de 1941, Aníbal Pereira da Silva, residente na Venda Nova, descobre por inspecção de superfície a existência de volfrâmio e de outros minerais no local denominado como ‘Corga das Negras’ não muito longe do Salto do Lobo.
A 22 de Julho é registada na Câmara Municipal de Terras de Bouro com o n.º 19 a mina de volfrâmio de Cidadelhe e a 30 de Julho tem lugar uma série de registos mineiros na Câmara Municipal de Montalegre, nomeadamente Pinhedo (registo 330), Lamalonga n.º 1 (registo 331), Lamalonga n.º 2 (registo 332) e Lamalonga n.º 3 (registo 333). O volfrâmio em Lamalonga é também descoberto por Aníbal Pereira da Silva através de inspecção na superfície e solicita o direito à concessão a 30 de Julho de 1941.
A grande procura de concessões mineiras acabou por trazer conflitos em muitas regiões do país e a zona dos Carris não foi excepção. A 11 de Julho de 1941 dá entrada na Câmara Municipal de Montalegre um pedido de registo mineiro por parte de José Maria Gonçalves de Freitas, de Montalegre, com a designação “Carris e Salto do Lobo”, sendo-lhe atribuído o registo mineiro n.º 318. O pedido de concessão mineira daria entrada na Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos a 20 de Setembro, sendo-lhe atribuído o n.º 10.994. Os éditos mineiros para esta concessão seriam publicados no Diário do Governo de 14 de Outubro de 1941, e com este manifesto dava-se início a um conflito que iria durar quase dois anos que iria prejudicar o desenvolvimento mineiro naquela zona da Serra do Gerês, com os diferentes lados a demarcarem sucessivas concessões para assim impedirem o aceso mútuo à concessão principal.
Em princípios de 1940 a empresa Rohstoff-Verwertungs-AktienGeschellschaft (Rowak) – pertencente ao grupo HGW (Hermann Goering Werke) – é reorganizada para procurar recursos industriais em países amigos do Eixo, pois Adolf Hitler estava já a preparar a invasão da União Soviética. Nessa altura, a Rowak recebe instruções para organizar a comprar de volfrâmio e estanho em Portugal, sendo financiada pela Geschellschaft fur Electrometallurgie (GfE) através da Sociedade Minero-Silvícola, Lda. Nesta altura, a GfE podia efetuar negociações directamente com a empresa portuguesa e a Rowak não podia controlar as transacções entre elas.
A 18 de Dezembro de 1940 surge o primeiro plano da Operação Barbarossa com o objectivo de invadir a União Soviética. Isto levaria ao corte do fornecimento de petróleo, minérios e metais que eram necessário para a máquina de guerra alemã. Assim, tornava-se urgente segurar o fornecimento destes produtos a partir de outras fontes. A invasão da União Soviética ocorre a 22 de Junho de 1941, dois dias antes da entrega na Câmara Municipal de Montalegre do registo de Domingos da Silva que lhe assegurava os direitos de concessão no sítio denominado ‘Salto do Lobo’.
Todo o impasse que existia nas explorações de volfrâmio na área dos Carris, seria finalmente resolvido em finais de Fevereiro de 1943 com a entrada em cena da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., uma sociedade comercial por quotas com sede social na cidade do Porto e que tinha como sócio gerente Hans Carl Walter Thobe que trabalhava na empresa Zickermann S.A.R.L., Lisboa. Walter Thobe já havia trabalhado com a Sofindus, sendo possivelmente financiado por esta. A Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., com sede na Rua da Constituição, Porto, tinha uma conta bancária no Banco Espírito Santo, naquela mesma cidade.
Segundo Karl Thobe, filho de Hans Carl Walter Thobe, foi a Sociedade Minero-Silvícola, Lda. que a partir de meados da Segunda Guerra Mundial impulsiona o aproveitamento das concessões mineiras em Carris.
O papel de Walter Thobe seria fulcral no desenvolvimento das concessões nos Carris, “participando na criação das condições para o desenvolvimento e exploração das Minas dos Carris, tais como a difícil abertura e reacondicionamento do estradão de acesso, desde a Portela do Homem, até ao centro nuclear da mina, a concessão do Salto do Lobo, a construção dos edifícios sociais e industriais, e a instalação e posta em marcha dos equipamentos para as operações de extracção e tratamento de minério.”
Chegados a um acordo com a Sociedade Mineira dos Castelos, tanto o grupo encabeçado por José Maria Gonçalves de Freitas como Domingos da Silva, Lda., iriam ceder os direitos dos respectivos registos mineiros.
Assim, o complexo mineiro é composto por várias concessões (minas), sendo as principais a Mina do Salto do Lobo (2234), a Mina da Corga das Negras I (2806) e a Mina da Lamalonga n.º 1 (3120).
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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