O dia antevia a chegada em força da chuva ao Parque Nacional da Peneda-Gerês. De manhã cedo, o vento dançava por entre os cedros de Leonte e levantava num correrio as folhas caídas do princípio do Outono. Não estava frio e por vezes o ar parecia tépido de trovoada, tal como as nuvens que iam preenchendo a tela azul do céu.
Com as fontes e os rios já mais animados devido às chuvas dos dias anteriores, a paisagem engalanava-se para algo, um festim da Natureza que se transmuta à medida que as folhas do calendário são arrancadas e atiradas para o borralho da memória.
Neste dia, queria fazer algo que já não fazia há muito tempo, mas que apesar de já calcorreado, me daria o prazer da descoberta de «novas» paisagens e velhas sensações. É difícil fazermos uma caminhada na Serra do Gerês e chegarmos ao final sem o coração cheio de paisagens únicas que apenas estão ao alcance de quem as verdadeiramente sente. Muitas vezes, podemos caminhar dezenas de quilómetros e não vermos ou sentirmos o que uma caminhada mais pequena nos pode oferecer. Na maior parte das vezes, as pequenas incursões oferecem-nos um vislumbre de locais já visitados, mas com paisagens «desconhecidas».
Neste caso, e com saída da Portela de Leonte, rumei ao Vale do Rio Maceira e ao Curral de Maceira. Atravessando o Rio Maceira, passei pela Pala da Sónia (ou Pala do Canudo), subindo e descendo (de volta ao rio) pelo Lameirão do Teixo. A paisagem que se vislumbra é a de uma montanha enrugada sobre si mesma, repleta de pequenas corgas e singelos vales por onde descem torrentes de água que formam cascatas ao longe, tal como acontece na Fecha de Fontaíscos sobranceira à Costa de Covilhão. Aqui, no fundo do vale, a perspectiva que se tem de Carris de Maceira, do colosso do Pé de Medela ou da Corga dos Cântaros, definem a essência dos espaços selvagens da Serra do Gerês.
Subindo a encosta, cheguei às imediações da Roca d'Arte que nos dá uma bela perspectiva do Prado do Vidoal tendo como pano de fundo o Pé de Cabril, por um lado, e do Vale de Maceira, por outro. De seguida, desci pela Corga de Lavadouros para o velho Curral de Lavadouros passando pela Fecha de Lavadouros. Daqui, o carreiro levou-me ao Vidoal e depois ao Curral da Raiz pela Corga de Mourô à vista da Quina de Mourô, baixando depois pela Costa da Cantina até perto da Cascata de Leonte. Caminhando por poucos metros na EN308-1, segui para o Escalheiro e finalmente, caminhando pelo velho e esquecido caminho florestal, chegava ao ponto de partida junto da Casa Florestal de Leonte.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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