Na freguesia de Cabril nunca houve conhecimento de fornos comunitários e quase todas as casas tinham o seu forno, com o seu tamanho a variar dependendo da grandeza da casa e do agregado familiar. Havia casas que era necessário um carro de bois de lenha só para o aquecer.
As pessoas das várias aldeias da freguesia, também praticavam um sistema que lhe chamavam as "tornas" que não era mais que uma forma de garantir sempre pão fresco, pois quando coziam o pão também coziam para os vizinhos, e os vizinhos faziam igual, e esse sistema de "tornas" era uma garantia de ter sempre pão fresco em casa, pois coziam sempre em dias diferenciados.
O pão era e é sagrado. Se caia pão ao chão, involuntariamente, devia beijar-se 3 vezes. Não se devia por a mesa sem nela colocar antes o pão. O pão da consoada não endurecia e tinha a virtude para as dores de cabeça. O pão que era benzido no carolo de S. Sebastião não apodrecia.
Quando a massa era colocada na maceira para levedar, dizia-se sempre esta oração, fazendo uma cruz na massa, com a mão direita:
S. Vicente te acrescente,
S. Mamede te levede,
S. João te faça pão,
Pela graça de Deus e da Virgem Maria,
Padre-nosso, Ave Maria
Ou então, dependendo das aldeias:
S. Mamede te levede
S. Vicente te acrescente
S. Agostinho te faça gostosinho
Terminada a tarefa de meter o pão no forno, o forneiro dizia, fazendo 3 cruzes com a pá, na boca do forno:
Deus te acrescente,
O Diabo te arrebente,
pela graça de Deus e da Virgem Maria. P-n. A-m
Rezem por alma de quem o cá deixou.
Nos dias de hoje, em todas as aldeias da freguesia de Cabril não são mais de meia dúzia de pessoas que ainda continuam a cozer o pão desta forma ancestral.
Texto e fotografias © Ulisses Pereira (Todos os direitos reservados)
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