domingo, 21 de março de 2021

O Castelo de Castro Laboreiro e a Cascata de Laboreiro

 


A subida ao Castelo de Castro Laboreiro é daquelas pequenas caminhadas que têm de ser feitas quando se visita (por muitas vezes que se o faça) a vila castreja.

A caminhada ao castelo pode ser feita seguindo as indicações mais evidentes que nos conduzem por uma série de pequenas escadarias talhadas no granito e que nos ajudam a vencer o declive até à entrada das muralhas. Porém, penso que a melhor opção é tornar a visita num percurso circular que nos leva a visitar o alto do Monte de Castro Laboreiro e depois, na sequência do regresso, fazer uma visita a um «miradouro» que nos permite ter uma visão interessante sobre uma série de moinhos e cascatas no Rio Laboreiro.

Assim, entrando no percurso para o alto do Monte de Castro Laboreiro, teremos quase de seguida a oportunidade de apreciar uma interessante formação geológica que em determinado perfil nos faz lembrar a silhueta de uma tartaruga. Esta será uma das paisagens mais fotografadas em todo o Parque Nacional da Peneda-Gerês e é um verdadeiro ex-libris das paisagens castrejas. Após passar esta paisagem, não vamos iniciar de imediato a subida para o castelo, mas sim tomar um carreiro à nossa direita e que nos irá ajudar a subir a vertente Poente do Monte de Castro Laboreiro. Este seria um dos acessos ao castelo, pois em algumas partes do caminho nota-se ainda o cuidado na colocação de um piso lajeado que facilitava a progressão nos tempos idos.



De notar que, este caminho (que obviamente pode ser também utilizado no regresso) vai também vencer o declive até ao alto e em algumas zonas poderá ter uma inclinação mais acentuada do que na opção Nascente. 

Chegando então à entrada do castelo, da antiga fortificação medieval, quase em ruínas, é possível descortinar restos das muralhas, parte da torre de menagem e uma velha cisterna. A porta principal, designada Porta do Sol, é visível do lado nascente, enquanto a Porta da Traição ou do Sapo, no lado norte, dá acesso ao terreiro interior.

O sítio da Direcção Geral do Património Cultural dá-nos uma descrição pormenorizada deste castelo:

A praticamente 1000 metros de altitude, e localizado em pleno sistema montanhoso da Peneda-Gerês, numa linha interior da fronteira entre o Alto Minho e a zona de influência de Ourense, o castelo de Castro Laboreiro é um dos mais emblemáticos monumentos militares nacionais, mais pela localização geográfica aberta aos planaltos galegos, que pela sua pretensa importância no quadro da história militar portuguesa.


As suas origens são-nos completamente desconhecidas, mas a maioria dos autores que se lhe referiram coincide no facto de a fortaleza ter desempenhado importantes funções desde a primitiva (re)conquista do território. É desta forma que podemos compreender a ligação da família condal de D. Hermenegildo à fortaleza, na primeira metade do século X e em consequência do chamado repovoamento de Afonso III. As escavações aqui efectuadas, na década de 70 do século XX, revelaram materiais da Alta Idade Média, esperando-se, para breve, conclusões mais objectivas acerca desse espólio (LIMA, 1996, p.89, nota 21).

No século XII, no âmbito da afirmação de Portugal como reino independente, a vila de Castro Laboreiro foi alvo de constante atenção por parte de D. Afonso Henriques, cujo castelo conquistou em 1141. Desconhecemos quais as obras então patrocinadas e a organização estrutural adoptada. Deveria compor-se de um pátio interior com torre de menagem isolada, à maneira dos castelos românicos, mas as múltiplas transformações porque passou levaram à total reformulação dessa primitiva estrutura.


Cento e cinquenta anos depois, no reinado de D. Dinis, teve lugar a reforma que conferiu o aspecto geral que a fortaleza ainda mantém e que, por essa altura, estaria parcialmente arruinada (ALVES, 1987, p.67). Se a acção deste monarca no Alto Minho é mais conhecida pela criação de póvoas ribeirinhas ao longo do curso final deste rio, a campanha do castelo de Castro Laboreiro testemunha, por outro lado, a atenção que a raia seca mereceu à coroa, fruto de um reinado que concedeu especial importância à defesa activa do território.

O projecto então concebido compôs-se de dois recintos muralhados, de dimensão e funcionalidade diversa. No topo, muito provavelmente correspondendo ao primitivo reduto do século XII (ou anterior), edificou-se o núcleo principal, com torre de menagem e cisterna, que corresponde ao verdadeiro centro militar do conjunto. Para Sul, um segundo recinto, de maior amplitude e acessível apenas por uma porta, servia para "recolher gados e bens em épocas de invasão" (ALMEIDA, 1987, p.182). Esta característica parece ser única no nosso país e prova como a actividade ganadeira foi primordial na vivência das comunidades serranas medievais de Castro Laboreiro.


A descrição que Duarte d'Armas fez da fortaleza, nos inícios do século XVI, mostra um castelo altaneiro perfeitamente isolado do povoado, este situado a uma cota consideravelmente inferior. O núcleo militar era reforçado por cinco torres quadrangulares (incluindo a de menagem), e possuía duas portas, a do Sol, que levava ao interior do recinto maior, e uma outra que colocava em comunicação os dois redutos.

Parcialmente reformulado ao longo da Idade Moderna, o castelo de Castro Laboreiro não mais voltou a ser alvo de um programa reformador do mesmo nível do projecto dionisino. Nas guerras de armas de fogo, Laboreiro foi importante apenas pela sua localização estratégica, numa zona interior de difícil acesso. Os próprios caminhos do restauro do Portugal novecentista relegaram a fortaleza para segundo plano. Quando, por todo o país estado-novista, os castelos eram objecto de intervenções que visavam a recuperação de uma suposta originalidade medieval, actuando, por essa via, como elemento de propaganda do próprio regime, Laboreiro permaneceu à margem desse vasto processo, decorrendo os indispensáveis trabalhos de restauro numa data já tardia (1979-1980) e tendo-se limitado a actuações de consolidação e de reforço estrutural, sem adulterações assinaláveis.

De facto, a posição altaneira do Castelo de Castro Laboreiro é única e permite-nos uma paisagem magnífica não só a curta distância - sobre o vale do Rio Laboreiro, brandas, inverneiras e aspectos da montanha - como a grandes distâncias, percebendo-se os contornos da serra soajeira, da Amarela e Gerês.

Iniciando a descida, vamos perdendo altitude à medida que percorremos as escadarias talhadas na rocha granítica e já em baixo, vamos tomar um caminho que nos leva às imediações do museu. Porém, antes, viramos à direita e seguimos o carreiro até chegar a um pequeno «miradouro» que nos permite ver uma pequena sequência de moinhos e a Cascata de Laboreiro. O regresso faz-se pelo mesmo percurso, seguindo depois na direcção do museu e do lugar da vila.













Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

2 comentários:

Albertino disse...

Isto não é Serra da Peneda. É serra do Laboreiro se os próprios galegos e os documentos antigos assim o dizem porquê raio insistimos nós portugueses na peneda? https://gl.m.wikipedia.org/wiki/Serra_do_Laboreiro

Rui C. Barbosa disse...

Um tema de facto interessante!

A Serra do Laboreiro situa-se no norte de Portugal, no concelho de Melgaço, no distrito de Viana do Castelo. Esta serra é muitas vezes conhecida por planalto de Laboreiro, onde se situa a freguesia de Castro Laboreiro. Insere-se no Parque Nacional da Peneda-Gerês.

É por vezes apelidada de planalto do Laboreiro ou planalto de Castro Laboreiro, uma vez que a zona mais alta da serra tem um relevo de formas arredondadas e declives suaves, comparativamente com as serras existentes nas proximidades, nomeadamente a Serra da Peneda. Contudo, apesar do pouco relevo, existe um ganho de altitude de cerca de 400 metros desde o centro de Castro Laboreiro até ao cume do Giestoso. O Giestoso é o ponto mais elevado e proeminente, atingindo 1336 metros de altitude e uma proeminência topográfica de 339 metros. Dada a magnificência das paisagens e a beleza natural, o Giestoso é um dos locais mais atrativos do concelho de Melgaço. Além do Giestoso, esta serra tem também relevos mais acentuados junto aos vales. Das zonas de relevo mais acentuado destaca-se a área da Pena de Anamão, a sul da parte central.

Com 1336 metros de altitude, é a mais alta do concelho de Melgaço, a quarta mais alta do distrito de Viana do Castelo e a 29ª montanha mais alta de Portugal Continental. Em termos de proeminência topográfica, ocupa o primeiro lugar no concelho, o 7º no distrito e o 32º a nível nacional.

Nesta serra nasce o rio Castro Laboreiro, ou simplesmente Laboreiro. O rio nasce na vertente oeste da serra, a cerca de três quilómetros a Leste da Branda de Portos. Ao infletir para sul, marca os limites entre esta serra e a Serra da Peneda. O rio desagua no rio Lima, junto à povoação do Lindoso.