segunda-feira, 29 de março de 2021

Serra do Gerês - Do Campo do Gerês à Calcedónia

 


O Trilho da Cidade da Calcedónia (PR1 Terras de Bouro) é mais conhecido pela famosa Fenda da Calcedónia, resultado das vicissitudes do granito e da geologia da zona. De facto, atravessar a Fenda da Calcedónia é o principal objectivo de muitos que demandam aquele percurso, porém, por ali há muito mais para ver e, principalmente, descobrir.

Localizado na freguesia de Covide, o povoado da Calcedónia era, nas suas origens, um povoado da Idade do Ferro, que posterior teve ocupação romana. O povoado situava-se num afloramento granítico conhecido como Cabeço da Calcedónia cujo cimo se atinge atravessando uma estreita fenda (a Fenda da Calcedónia ou Quelhão, como sempre foi conhecida) situada entre duas enormes lajes.

Como era característico destes povoados, localizava-se a meia encosta, protegido por uma muralha construída com grandes blocos de granito e aproveitando os penedos existentes. No interior do reduto, encontravam-se várias construções de planta retangular, construídas com pedra irregular, que apresentavam uma espessura aproximada de 0,5 m e uma área de 5x8 m de largura.

As ruínas do povoado encontram-se nas escarpas limitadas a Norte e a Oeste da Calcedónia. Das construções retangulares, dificilmente hoje se reconhecem os alicerces. Mais visíveis são partes da muralha, que chega a ter cerca de 2 m de espessura e 4 m de altura. Abaixo do recinto muralhado aparecem, ainda que raros, vestígios cerâmicos, na sua maioria fragmentos de pasta escura, grosseira e brilhante de mica. Foram também encontrados fragmentos de tegullae e de ímbrices, testemunho da ocupação romana. 

As informações sobre o Trilho da Cidade da Calcedónia podem ser encontradas aqui.

O Trilho da Cidade da Calcedónia é um trilho pedestre de pequena rota com um traçado circular e com uma distância de 7 km. Apresenta zonas de declives acentuados, transformando-o num trilho de dificuldade média / elevada. Segundo o prospecto informativo deste trilho, este "...deve ser percorrido num passo certo de forma a facultar ao pedestrianista a plena fruição, o contacto ambiental e, mais importante, a reflexão sobre este mundo de estruturas culturais e vivências milenares que, hoje, facilmente tendem a se esgotar."

Este trilho requer a alerta a todos os sentidos no meio de um caos de formas graníticas. Vamo-nos aproximando do seu ponto elevado ao nos agacharmos para passar por secretas passagens encobertas por retorcidas árvores. Para trás fica um mundo real e por entre os recortes, foge pelo recanto do olho a forma metálica dos guerreiros de outros tempos em busca dos mares eternos. Os passos dos Argonautas levam-nos para o interior da Terra, o submundo que nos faz questionar sobre as nossas crenças, sobre a realidade que por vezes temporariamente nos cega com falsos símbolos de divindades que num duplo milénio nos atormenta e nos castiga com a escuridão, pestilências, morte e castigos. É nos píncaros serranos após brotar das entranhas da Terra que encontramos o nosso verdadeiro ser...

É assim o Trilho da Cidade (perdida) da Calcedónia...

Ficam algumas fotografias do percurso que percorri com ligeiras alterações e sem atravessar a Fenda da Calcedónia, saindo do Campo do Gerês pelo traçado da Geira Romana e indo até Covide para iniciar o PR1. No final, e já após descer a encosta Oeste, utilizei os caminhos florestais para voltar ao Campo do Gerês.





















Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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