quarta-feira, 24 de março de 2021

"Carris" topónimo mineiro na Serra do Gerês?


De forma geral, a grande percentagem de quem visita as Minas dos Carris associa este topónimo, isto é 'Carris', às vias do caminho-de-ferro por associação aos carris utilizados no interior e exterior das galerias mineiras.

Porém, tal não é verdade e o topónimo precede a exploração mineira na Serra do Gerês, surgindo até noutras localizações, tais como 'Carris de Maceira' ou 'Carris de Fontaiscos'.

No livro "Pela Serra do Jurês e ao Longo da Jeira - História da Toponímia", de Fernando Silva Cosme, refere que "Quanto a Carril e Carris, Cândido de Figueiredo cita-os como provincianismo beirão e transmontano significando 'caminho estreito, carreiro'. Devem ter tido este sentido o Carril de Corujeira de Riucaldo e os Carris de Paredes de Covelães, que são num sítio onde agora passa a estrada mas antes havia aí muitos carreiros. No Jurês Carril também indica um rego e Carris, no plural, passou a designar uma mina de volfrâmio em virtude de ser comum nelas explorarem o minério lavando o terreno através da abertura de carris 'regos para neles meter água e pôr à vista o volfrâmio". Na plataforma mais alta da Serra do Jurês encontram-se, com este sentido, os simplesmente Carris e Carris de Maceira, conhecidos desde há muitos séculos e explorados durante a última Grande Guerra."

Esta explicação acaba por ser muito confusa e, na verdade, não explica o porquê do topónimo naquele local, parecendo até que a designação surge devido aos carreiros (carris) abertos para a descoberta de volfrâmio. Não concordo com tal explicação! Isto não explica de todo a origem dos topónimos 'Carris de Maceira' e 'Carris de Fontaiscas'.

Em "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", refiro que "Uma das teorias acerca da origem do nome ‘Carris’ surge devido à possível existência de dois afloramentos paralelos que fariam lembrar os trilhos (carris) de um caminho-de-ferro. Porém, serei mais da opinião de que o topónimo 'Carris' surge do grande número de trilhos de montanha (carril) que se juntariam não muito longe do pico serrano que hoje ostenta esse orónimo. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia Ciências de Lisboa e editado pelas Edições Verbo em 2001, define um «carril» como um caminho estreito, carreiro ou atalho. A zona é salpicada por um grande número de fornos e abrigos de montanha que numa pequena área atinge mais de 50 construções. Não é possível explicar este número somente pela existência das minas (sendo obviamente muitos deles anteriores a estas) e provavelmente as construções terão sido utilizadas não só pelos primeiros mineiros, mas também pelos carvoeiros, pastores, contrabandistas e possíveis peregrinos em deslocação para o São Bento da Porta Aberta ou para São Tiago de Compostela, vindo das terras do Barroso ou das mais longínquas aldeias de Trás-os-Montes. Já na sua obra “Caldas do Gerez – Guia Thermal”  de 1891, o Dr. Ricardo Jorge (imagem em cima) apresenta um mapa do denominado Gerês Florestal onde está assinalado o marco geodésico dos Carris."

As explorações de volfrâmio naquela área remontam ao início dos anos 40 do século XX e como tal não poderia ter sido a actividade mineira a atribuir o nome àquele alto geresiano.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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