sábado, 24 de agosto de 2013

Carris - O porquê de um nome?


Um dos aspectos que mais interesse me desperta na Serra do Gerês, é tentar perceber a origem dos nomes dos orónimos serranos. Se alguns destes nomes são de fácil compreensão em relação à sua origem, outros apesar de parecerem óbvios, não o são.

Veja-se o caso do orónimo 'Carris'. Quando falamos neste nome, a primeira ideia que nos surge é que a zona foi assim baptizada devido à existência das minas de volfrâmio. Aliás, são várias as fontes na Internet (possivelmente induzidas em erro por uma fonte inicial) que apontam para que a origem deste orónimo esteja associada à existência dos carris pelos quais se moviam as vagonetas onde se transportava o minério extraído das entranhas da Terra. Ora, tal não corresponde à verdade.

Já em finais do século XIX surgem referências ao orónimo 'Carris' e mesmo no seu primeiro livro, Tude de Souza publica um mapa onde 'Carris' surge bem explícito. Tendo em conta que a exploração de volfrâmio nos Carris só se inicia em 1941, logo a teoria de que o local foi baptizado devido aos carris das minas cai por terra sem qualquer sustentação.
Panorâmica do complexo mineiro dos Carris


Então, de onde surge a designação 'Carris'? Existem duas teorias que podem explicar esta origem. A primeira apontam para que o nome tivesse surgido devido ao possível alinhamento dos dois filões de volfrâmio que supostamente afloravam à superfície e que à distância poderiam formar o que parecia uma linha de caminhos de ferro, isto é um par de carris. Nesta altura não é possível atestar desta existência pois não existe uma prova visual de que assim fosse e no terreno não é visível qualquer formação que nos leve a deduzir o nome, pois o filão foi explorado à superfície em algumas zonas.

De facto, nas Minas dos Carris (e mais precisamente na concessão do Salto do Lobo) deu-se a exploração de dois filões de volfrâmio, a saber o Filão Salto do Lobo e o Filão Paulino. A exploração do Filão Paulino é posterior à exploração do Filão Salto do Lobo, e aquele filão foi explorado em profundidade.

A segunda teoria para o aparecimento do orónimo 'Carris' pode estar relacionada com a existência de um local ou zona de passagem de vários trilhos (carreiros ou carris) de montanha. Esta teoria é suportada pela existência de um grande número de abrigos de montanha naquela zona. Estes abrigos podem ter sido utilizados pelos pastores das vezeiras, pelos carvoeiros, pelos mineiros e pelos contrabandistas. Destas quatro actividade, a mineração é a mais recente e a zona é conhecida e referenciada como sendo uma zona de pastagens (Curral dos Carris e outros), uma zona de carvoeiros (Corga da Carvoeirinha ou Carvoeira, e fabrico de carvão perto da Nevosa / Marabaixo) e como uma zona extrema de passagem pelos contrabandistas. O local pode também ter servido de zona de passagem das aldeias transmontanas para as aldeias minhotas ou mesmo dos peregrinos para o santuário da Abadia ou de S. Bento da Porta Aberta.

Destas duas teorias, inclino-me mais para a segunda.

Fotografia: © Rui C. Barbosa

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