A primeira luz do dia já definia os contornos da montanha e o vento soprava forte no vale que nos levaria às Minas das Sombras. O caminho foi-se fazendo à medida que a paisagem se ia transformando. O negro da noite já há muito que se escondera e dera lugar aos tons coloridos que iam ganhando força à medida que o Sol ia espreitando acima do horizonte. Os picos serranos iam-se iluminando com tons amarelados até tomarem as suas cores naturais.
A dificuldade inicial do caminho para as Sombras foi sendo ultrapassada a bom ritmo na esperança de vermos a paisagem matinal das ruínas inundadas com o brilho solar que ofuscava os olhos e as lentes. Em poucos minutos toda a serra estava iluminada e apenas resistiam algumas sobras que se iam recolhendo imperceptivelmente.
Percorrendo os velhos trilhos que vão resistindo à passagem dos dias, ao fundo via-se o grande Curral da Amoreira ainda na sombra enquanto o Cabelo da Cova da Porca, Cidadelhe e outros altos serranos estavam já iluminados pela brilhante luz de um novo dia. Lá ao longe, víamos uma enorme coluna que nos fazia lembrar o inferno dos fogos florestais que assolavam o país.
Com a luz a ir-se alterando a cada minuto as paisagens iam-se diferenciando de forma rápida. Naqueles momentos é sempre interessante tentar jogar com as sombras que se vão projectando longas. Assim, as velhas perspectivas e os familiares tons vão tendo uma outra dinâmica e uma outra presença naquele local.
Passeando pelas ruínas, calcorreando ao lado de velhas passagens, os cenários que se apresentam são conhecidos, mas proporcionam visões às quais não estamos habituados.
Tendo comigo velhas fotografias, vão-se comparando as épocas passadas com o silêncio e a desolação dos nossos dias... por vezes, quase que se escutam os sons de outrora, as conversas dos homens e os gritos das crianças que brincam... Olhando a imensidão das Negras repara-se num pequeno incêndio que consumiu uma parte da serra há poucos dias. De repente, cinco ou seis grandes vultos levantam num gracioso voo. As grandes aves vão-se aproximando para verem o que havia acabado de surgir lá no alto. Certamente que esperavam que fossemos presas fáceis, porém, infelizmente para elas (felizmente para nós) não teríamos um aspecto comestível. Acabariam por seguir voo em direcção para os lados Nevosa, mas uma vez ou outra a curiosidade faria voltarem para «perto» de nós... Cada visita aos Carris tem a sua surpresa!
Desta vez, passeamos pelas velhas escombreiras dos trabalhos a céu aberto que assinalam de forma inconfundível a orientação do filão que em tempos alimentou os trabalhos mineiros. Estendendo-se entre a represa dos Carris e para lá do Salto do Lobo, o filão de mesmo nome ainda mostra em alguns locais os sinais do minério.
Terminada a passagem pelas ruínas e uma visita à lavaria, iríamos regressar pelo Salto do Lobo. Lá ao longe, no Penedo da Saudade, duas sombras marcavam a presença dos corvos que parece terem arranjado residência no complexo. Passagem pelo Salto do Lobo e pelos terrenos do campo de futebol para rumar para a Amoreira, passando num velho curral de nome desconhecido, um outro segredo a desvendar!
Algumas fotografias do dia...
Sem comentários:
Enviar um comentário