Os Prados da Messe foram há já alguns anos um dos primeiros locais que visitei na Serra do Gerês. Naquela altura, as caminhadas para lá tinham um sabor a grandes jornadas pela montanha depois de uma viagem de horas desde Braga que tornava a serra como algo muito longínquo.
De facto, a viagem pela estrada nacional nas velhas camionetas da Empresa Hoteleira do Gerês era, em si mesma, já uma aventura e quando começávamos a ver os recortes da serra ao descer para Rio Caldo vindos de Sta Maria de Bouro, crescia em nós o borboletar de algo que sabíamos ia ser muito especial... para outros, era mesmo só o enjoo...
A Serra do Gerês são montanhas de emoções que escondem, ainda hoje, segredos que se vão revelando a cada caminhada. Uns são segredos que já os teremos visto em ocasiões anteriores, outros - efémeros - vão-se revelando numa paisagem de uma cabra a dominar o cenário no seu trono no alto das Albas. E são estes segredos, cenários e paisagens que nos fazem querer lá voltar de novo, e de novo, e de novo!
Iniciamos a caminhada, como muitas outras, na Portela de Leonte junto da velha casa florestal. Construída na primeira metade do Século XX e hoje abandonada aos elementos, esta casa é um exemplo da presença dos Serviços Florestais que tomaram posse da serra em 1888. Com o ar fresco da manhã, decidi alterar o sentido da caminhada e em vez de enveredar directamente para o Vidoal, decido prosseguir na direcção da Albergaria, passando pelo Ranhado.
Chegando à velha casamata da Albergaria, iniciei a «longa» subida pela Costa de Sabrosa. Esta é uma subida que exigem um esforço considerável e feita de tarde (com o Sol a incidir) torna-se uma descida pesada no final da qual restam 3 km até Leonte.
A subida da Costa de Sabrosa leva-nos a percorrer o Vale do Rio do Forno até chegarmos à Lameira das Ruivas. Pelo caminho vamos observando a beleza das paredes alcantiladas do Pé de Medela e as escarpas do Cabeço do Porto do Corno Godinho que se vão alterando numa metamorfose paisagística. Lá no fundo, o Rio do Forno vai-se fazendo escutar por entre um denso e impenetrável arvoredo. São estes vales fechados que escondem muita da riqueza do nosso Parque Nacional.
A chegada à Lameira das Ruivas assinala o final da subida da Costa de Sabrosa, mas ainda faltam vencer alguns (pequenos) declives até começar a descer para os Prados da Messe. Nesta parte mais «plana» do percurso já avistamos o Cantarelo com o seu Cabeço (esquerda) e a Lomba do Cantarelo, ainda escondida. Aos poucos, vamos também começar a ver a alguma distância o carvalhal dos Prados Caveiros. Ao longe, as serranias do Parque Nacional também se assumem em bicos de pés, com a Louriça a marcar o topo da Serra Amarela e os contornos da imensa Soajo e da Serra da Peneda a marcar o horizonte.
Continuando a ladear a Lameira das Ruivas, entramos numa pequena depressão antes de iniciar a curta subida para a Lomba de Burro e depois descer para os verdejantes Prados da Messe. A vezeira ainda não chegou a estas paragens, se bem que as cabanas de pastoreio já estão preparadas para ela. Recentemente queimados, os prados vão retomando o seu aspecto verdejante que, contrastando com o rude cinza do granito, vai tornando o entorno num cenário bucólico.
Da paisagem dos Prados da Messe ressaltam três pormenores de especial, sendo os próprios prados em si que se alongam para o Curral da Pedra, as Albas à sombra das quais os prados adormecem e a velha ruína da antiga casa dos Serviços Florestais. Os Prados da Messe encontravam-se foram do limite do perímetro florestal do Gerês, mas no entanto albergavam este edifício que foi construído no Verão de 1908, segundo Tude de Sousa no seu livro "Serra do Gerez - Estudos, Aspectos, Paizagens". As suas pedras foram utilizadas para alargar o abrigo pastoril ali existente.
Deixando os Prados da Messe segue-se caminho para o Porto de Vacas e após atravessar o ribeiro, inicia-se a subida para o icónico Prado do Conho com o seu abrigo pastoril. O nome do prado advém da grande rocha que ali existe ('conho'). Aqui, já se vislumbra o profundo vale de Fechinhas (Fichinhas) bem como os altos de Porta Ruivas, Borrageiros e Mourisca. A caminhada irá continuar em direcção à Lomba de Pau com o seu curral aberto e forno pastoril, prosseguindo depois pelas Lamas de Borrageiro e Gralheiras, para depois descer para a Chã da Fonte após um vislumbre o Arco do Borrageiro.
Passando a Chã da Fonte descemos para o colo da Preza, uma verdadeira varanda panorâmica sobre o Vale de Teixeira / Cambalhão, e prosseguimos para o Vidoal para apreciar os magníficos escarpados da Roca d'Arte, Lavadouros, Cântaros, Pé de Medela e Carris de Maceira, tendo o Pé de Cabril em contra-luz. O fotogénico Prado do Vidoal está à sombra do Outeiro Moço e é a última paragem antes de se iniciar a descida final para a Portela de Leonte.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
2 comentários:
Obrigado por tão completa descrição; assim aprendi algum topónimo que eu desconhecia, como Lameira das Ruivas, que eu identificava de Prados Caveiros; ou como Outeiro Moço, Roca d'Arte e Cântaros, apesar de que estes dois últimos não os posso identif icar. Amo esse percurso.
Olá!
Obrigado pelo seu comentário!
A Lameira das Ruivas e os Prados Caveiros são zonas distintas. Chega-se à Lameira das Ruivas após a subida da Costa de Sabrosa ainda antes de se avistar os Prados Caveiros.
O Outeiro Moço é fácil de identificar ao se colocar em frente à cabana pastoril do Vidoal, o Outeiro Moço é o alto à sua direita na direcção da grande mariola no centro do prado. Ainda estando na mesma posição, a Roca d'Arte é a parede aprumada na sua frente e os Cântaros é a corga mesmo antes de Carris de Maceira.
Cumprimentos,
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