O dia 8 de Maio assinala o 50.º aniversário do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
O Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) foi criado em 1971 e integra a Rede Nacional de Áreas Protegidas, gerida pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).
É o único Parque Nacional em Portugal por possuir ainda ecossistemas relativamente extensos e pouco alterados pelo Homem, uma grande biodiversidade e valores naturais de interesse para a conservação.
Ocupa uma área com cerca de 70 mil hectares, distribuídos por 5 concelhos: Melgaço, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Terras de Bouro e Montalegre. Geograficamente, abrange o Planalto de Castro Laboreiro e o Planalto da Mourela. Entre os dois situam-se as serras da Peneda, Soajo, Amarela e Gerês.
Tem uma forte presença humana, sendo habitado por cerca de 9.000 pessoas. A agropastorícia, outrora a principal fonte de rendimento das famílias, dá agora lugar a novas atividades económicas, assumindo maior peso o sector secundário, o comércio e os serviços.
O PNPG localiza-se numa região montanhosa, com cotas geralmente acima dos 700 metros, atingindo os 1.545 metros de altitude na Nevosa (serra do Gerês).
O território apresenta uma geodiversidade muito relevante, resultante da sua longa história geológica, iniciada há cerca de 400 milhões de anos. O relevo irregular e acidentado e a morfologia granítica são das principais características deste território, sendo frequentes na paisagem as medas, os borrageiros, as rochas em forma de cogumelo, os tors, as bolas graníticas, as pias, entre outras formas geológicas. Nos cumes das principais serras existem vestígios deixados pelos glaciares - (vales em U, circos glaciários, moreias, rochas aborregadas), testemunhos de um clima bem mais frio que o atual. Destacam-se ainda os inúmeros vales e corgas que albergam uma densa rede hidrográfica (parte das bacias dos rios Minho, Lima, Homem e Cávado), alimentada pelos maiores índices de pluviosidade do país. A diversidade mineral é também significativa neste território. O volfrâmio, estanho, berilo, e mesmo o ouro, já foram outrora aqui explorados. As características únicas da água que brota das diversas nascentes permitem utilizá-la para fins medicinais e como água de mesa.
As condições do meio físico e a existência de um clima de influência atlântica, mediterrânica e continental determinam, por outro lado, a excecionalidade desta área protegida em termos de habitats e biodiversidade.
A flora do Parque Nacional é um verdadeiro tesouro botânico, com espécies que possuem um grande valor florístico, como é o caso do feto-do-gerês, do narciso-de-trombeta, do lírio-do-gerês, da orvalhinha e da pinguicola. Muitas plantas são endemismos ibéricos e outras encontram neste território o único local de distribuição em Portugal. Os carvalhais, os bosques ribeirinhos, os pinhais, as turfeiras e os matos são alguns dos habitats mais importantes ou característicos deste Parque.
A esta diversidade botânica alia-se um importante valor faunístico, com a ocorrência de espécies emblemáticas como o corço, símbolo do Parque Nacional, o lobo-ibérico que, apesar de estar classificado como espécie em perigo de extinção, mantém neste território uma população estável ao longo dos últimos anos e a cabra-montês que apresenta uma população em crescimento depois de ter sido extinta nos finais do século XIX e reintroduzida há pouco mais de uma década. Na avifauna assinala-se uma grande diversidade de espécies, embora muitas aves sejam migradoras e por isso apenas podem ser observadas em algumas épocas do ano. Destacam-se pelo seu estatuto de conservação o tartaranhão-cinzento, a gralha-de-bico-vermelho, o cartaxo-nortenho e a narceja que tem no PNPG o único local de reprodução conhecido para Portugal. Das espécies associadas aos cursos de água e meio ribeirinho referem-se a truta-de-rio, a panjorca, a lontra, a toupeira-de-água, a rã-ibérica, a salamandra-lusitânica, o lagarto-de-água, entre outras. Destacam-se ainda a ocorrência de espécies com particular importância como a marta, o arminho, a víbora-de-Seoane e a víbora-cornuda, entre as muitas que marcam presença no Parque.
O território do PNPG foi palco de uma ocupação humana desde os tempos do Neolítico, do qual datam as grandes necrópoles megalíticas, como a do Planalto de Castro Laboreiro. A arte rupestre é também marca imponente de um passado remoto, destacando-se o santuário do Penedo do Encanto, em Lindoso, datável da Idade do Bronze. Da ocupação pré-romana são muitos os habitats fortificados que pontuam os altos, como o Castro de Outeiro, na freguesia que lhe dá o nome. Da presença romana, além de todo um substrato cultural, ficaram os vestígios de vários equipamentos, sendo a Geira (via romana) um caso excecional pelo bom estado de conservação e pela quantidade de miliários. Dos tempos medievos evidenciam-se os grandes castelos, como o de Castro Laboreiro e o de Lindoso, mas também a religião marcou o seu lugar, sendo o Mosteiro de Santa Maria das Júnias um dos melhores exemplos.
Somam-se à paisagem milenar outras construções mais recentes, criadas pelo homem de forma engenhosa para resistir às agruras da serra. Os fojos, os espigueiros, os moinhos, os fornos comunitários, as levadas, as calçadas e os abrigos de pastores são alguns exemplos e marcas do espírito do comunitarismo e entreajuda que caracterizava as comunidades serranas, que ainda hoje se revela em muitas atividades tradicionais ligadas à agricultura e à pastorícia.
Além dos vestígios materiais, o património imaterial desta região é considerável, mantendo-se até hoje exemplos únicos de exploração do espaço, de manifestações religiosas e de práticas comunitárias.
Fonte: GR Peneda-Gerês
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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