Recentemente, um grupo de montanhistas e amantes do Parque Nacional reuniu-se para propor ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) a recuperação do antigo abrigo de montanha existente na Mata de Albergaria, Serra do Gerês.
O objectivo desta iniciativa era de levar a cabo a reabilitação de um antigo Abrigo de Montanha - dentro da área de jurisdição do PNPG - entretanto votado ao abandono. No fundo seria intenção de alguns praticantes do montanhismo, que são, por inerência desta actividade, também eles guardiões da Natureza e dos seus valores, encetar um processo negocial com as entidades competentes para que esta recuperação fosse efectiva.
A resposta do ICNF surgiu e pretende matar à nascença esta ideia. No fundo, o tal como acontece com cerca de cinco dezenas de antigas casas florestais na área do PNPG, o ICNF prefere que os edifícios e património com história se degrade, a serem recuperados e a terem uma utilização que por si só seria benéfica para a preservação dos espaços protegidos. A cópia da resposta do ICNF encabeça esta publicação.
Não vou tecer muitos comentários sobre esta missiva, apenas peço para que todos façam um exercício de memória e tentem recordar o que é a Mata de Albergaria nos meses de Verão e de que forma esta situação se coaduna com as justificações apresentadas pela burocracia do ICNF.
O ICNF (e por consequência o PNPG) vive agarrado a um negócio que em tempos fez com a falida Pan Parks e o resultado é a inexistência de facto de um parque nacional. Quando se fizer a revisão do plano de ordenamento, será altura de apontar os erros e dar sugestões.
O assunto que justifica estas palavras é por demais conhecido das partes interessadas, e desinteressadas, para que se perca tempo em explicações e contraditórios dos preceitos legislativos que impendem sobre o PNPG, e em especial sobre a vossa ciosa guarda da Mata de Albergaria.
Importante é a incoerência em permitir o uso e abuso de uma área sensível, sob pretexto da época estival, por parte de turistas e voyeurs, num cenário susceptível de vergonha e indignação por parte de quantos protegem e admiram a Natureza, enquanto estes guardiões são vigiados, taxados e ignorados na argumentação sobre a importância de ali se reerguer uma simples casa-abrigo para montanheiros. Não uma residência, uma pensão, um bar ou um bordel de mais fácil licenciamento, mas um simples abrigo de duas dúzias de metros-quadrados que outrora já serviu esse fim nobre de acolher na intempérie ou favorecer o repouso depois de uma jornada pela serrania. Mas esta é uma realidade alheia ao legislador e aos seus braços persecutórios, aos polícias que herdaram o chão da valorosa Guarda Florestal sem terem herdado o seu património edificado ou o seu estatuto respeitável.
Confesso ter ousado colocar-vos a questão de se reabilitar aquela casa-abrigo de iniciativa própria, mas não o teria feito se não soubesse interpretar o interesse de muitos mais cidadãos e a justeza desta causa. Da vossa parte, como é uso do executivo, limitaram-se a um parágrafo que, apesar de extenso e recheado de razões, nada nos disse, absolutamente nada. O que é de esperar, passe a inocência da expressão, é ouvir de viva voz, dialogar, encontrar soluções, abrir portas aos que vêm de boa-fé. Uma assinatura num papel é inútil sempre que subscreve prepotência e faz a vénia à indolência. Vossas senhorias estão de passagem, como nós outros, os princípios que nos movem é que não, pelos piores e pelos melhores motivos. Digo-o no plural, como afirmo que ainda esta procissão vai no adro e que haverá engenho e arte para que, no Parque Nacional, venha a haver um tecto sem exclusão e onde se possa celebrar essa estranha confraternização com a montanha.
No uso das faculdades democráticas
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
2 comentários:
Infelizmente vivemos numa comunidade sem visão e imersa em medos. Como disseste e bem Rui, só no verão é que não há problema de haver visitação e barafunda na Zona Tipo I. Obrigado por nos informares. Chegará o dia...
Parabéns pela iniciativa.
Tem a minha admiração e apoio.
Espero que, apesar das dificuldades a "procissão" prossiga e que, num futuro próximo, se possa concretizar.
Imagino o potencial das Casas Florestais.
Cumprimentos.
Paulo Santos.
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