terça-feira, 13 de dezembro de 2016

A respeito do artigo sobre a cabra montês publicado no Notícias Magazine


O artigo recentemente publicado no Notícias Magazine e ao qual faço aqui referência, mereceu uma interessante análise do Nuno Valverde sobre o seu conteúdo e objectivo. De facto, o artigo de Ricardo J. Rodrigues intitulado "O troféu de caça mais valioso do mundo é português", apresenta uma visão enviesada da realidade existente no nosso único Parque Nacional e tenta valorizar a vida animal como apenas um aspecto económico. Tentando transformar o PNPG numa grande coutada de caça, o artigo esquece-se de que este espaço é, na realidade, o santuário da vida animal por excelência em Portugal.

Mais uma vez reforço o apelo à vigilância e à denúncia desta gente. Devemos estar atentos e impedir que a caça à cabra selvagem seja uma realidade no nosso único Parque Nacional.

Fica aqui, e com a respectiva autorização, a interessantíssima visão de Nuno Valverde sobre este texto.

Este artigo, publicado num dos maiores grupos da imprensa nacional, em síntese, resume-se a transformar uma espécie em vias de extinção (e que, efectivamente, esteve extinta em Portugal por um século) num mero, mas “valioso” troféu de caça. Mais, toda esta peça jornalística é um verdadeiro louvor à caça, às artes e aos seus «heróis». As próprias citações de pessoas, identificadas como ambientalistas ou conservadores da Natureza, parecem ter sido encaixadas no texto para justificar, talvez mesmo defender, a caça da espécie… como troféu.

Identificados os problemas dos caçadores legais: a necessidade de comprar licenças em Espanha, o incomodativo “verniz estalado”, de forma “imediata”, talvez imponderada, nas redes sociais por alguns grupos mais radicais (leia-se, um Partido eleito, com Grupo Parlamentar); a concorrência da caça furtiva e à insuficiência de recursos humanos de um Parque Nacional em prestar um serviço de fiscalização suficiente aos caçadores (como se fosse esse o propósito de um Parque Nacional!), foi dado o verdadeiro mote deste artigo, agora reduzido à verdadeira intenção do seu autor: lançar a proposta de legalizar a caça a cabra-montês. Não como controlo populacional ou gestão cinegética mas sim, como um troféu da caça.

Algures por aqui, o objecto de interesse deste texto, a cabra-montês, extingue-se. Talvez como ela própria foi extinta no nosso território pelos mesmos heróis que o artigo enaltece. Afinal, esta espécie é, para estes senhores, apenas, um mero troféu. Uma forma de satisfazer um ego que se alimenta da morte e justificada pela arte da caça e por um potencial retorno económico, indexado, quiçá, “à perfeição da cornadura”.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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