quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Santuário de Nª S.ra das Neves


O Ulisses Pereira tem levado a cabo vários trabalhos relacionados com Cabril que são de um importantíssimo interesse histórico e etnográfico. Um desses textos pode ser lido aqui e hoje apresento mais um destes trabalhos, neste caso sobre o Santuário de Nª S.ra das Neves.

Em lado algum foram encontrados documentos referentes a edificação da Capela da Senhora das Neves, talvez por ter sido uma reconstrução e não uma edificação de raiz. No manuscrito do padre Diogo Martins Pereira (1744), a edificação da capela é citada como tendo sido uma reconstrução das ruínas da antiga Capela do Mosteiro de Pondras, por iniciativa do padre João Martins Pereira do lugar de Chelo (1720). 


O manuscrito cita também "a maior excelência que tem dentro dos seus termos este lugar é o santuário de Nossa Senhora das Neves que algum dia foi habitado por religiosos de S. Bernardo (Ordem Cisterciense) que nos primeiros anos pagavam os deste lugar de (são Lourenço) alguma pensão ao Mosteiro da Senhora das Unhas, sito na Vacarissa de Pitões que hoje não recadam por não concorrerem com nada para satisfação da igreja de Nossa senhora das Neves e se comutou esta pensão em um tostão, a cada morador deste lugar, para ali se festejar a Nossa Senhora a 5 de Agosto. 

Pascoal Martins que foi da Freiria (Pincães) tinha ali tal devoção a Nossa Senhora que a maior parte do tempo andava lá sempre com obras abertas de pedreiros, carpinteiros, pintores e o fazia de esmolas que mendigava abaixo e acima, e não era pouco o que juntava e tudo ali consumia, ainda do seu pagava muito. 

A capela foi benzida em 1740 pelos padres de Cabril, Simão Barroso de Fafião e João Martins Pereira do lugar de Chelo, a quem se deve a construção da capela, e alguns populares que dirigem uma provisão ao Arcebispo de Braga para aprovação dos estatutos e a erecção da confraria das almas, na Capela da Senhora das Neves, no monte de Pondras. A 10 de Julho de 1746 todo este processo é concluído e a dita confraria formada. 

O manuscrito do padre Diogo Martins Pereira na descrição que fez da edificação da capela refere de uma maneira clara e convicta a existência do Mosteiro de Pondras, com conhecimento de causa pois foi contemporâneo da edificação. 

Também se serve da história oral, que é sempre uma excelente fonte para se fundamentar factos históricos.


O manuscrito de 1744 refere que "É esta imagem a Nossa Senhora muito devota, porém não é a mesma que tinham os religiosos, antigamente, no seu mosteiro de Pondras, porque foi levada dali pelos cristãos que fugiram para a Vacarissa de Pitões de onde os mouros tinham sido enxotados pelos cristãos como se disse, na batalha de Matança, e já para Pitões, os cristãos fugiram mais seguros que vinham de aquela parte perseguindo os mouros e os vinham expulsando, e assim a esconderam na corca de um grande carvalho que aí acharam; e foram continuando com a guerra contra os mouros e se esqueceram da imagem que ao depois de muitos anos foi achada milagrosamente por um cavalheiro que dizem era conde de Pitões, e andando a caça com os seus monteiros e cães chegaram àquellas brenhas de Vacarissa estando os cães na mata dela não quiseram sair até que foi necessário ir ver a causa e os acharam ao redor do carvalho que tinha aquele tesouro da imagem e um que era mais possante e metia a boca e as unhas pelo buraco da corca do carvalho e assim tirando o cão e metendo o braço tiraram a imagem de Nossa Senhora, e por isso se chama nossa Senhora das Unhas, e é hoje hospício de religiosos digo do régio Mosteiro de S. Bernardo chamado Oseira no Reino de Galiza, e ali tem religiosos Bernardos que de lá mandam recadar suas rendas, que têm por Barroso, que algum dia pertenciam a Pondras."



Na BENEDICTINALUSITANA no capítulo lV do ano 889 refere que o mosteiro já pagava pensão a Sé de Braga.

Quero agradecer ao Paleologo Bento Miranda Pereira por permitir que este trabalho possa ter sido feito e pela sua obra e pela sua vida de investigação dedicada a freguesia de Cabril um bem haja e um obrigado.

Fotografias e texto © Ulisses Pereira (Todos os direitos reservados)

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