segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Era apenas um carvalho... ou azevinho, o que torna o caso mais grave


Após a escrita deste texto, foi-me referido que a árvore que foi cortada não terá sido um carvalho, mas sim um azevinho o que a confirmar-se torna o caso ainda mais grave.

No texto "Qual a solução para a estupidez humana? Abater uma árvore, resulta sempre!" fazia referência a uma intenção por parte da Câmara Municipal de Terras de Bouro em abater um carvalho com a justificação de que tapava "...a visibilidade de quem quer fotografar às lagoas."

Passo naquele lugar há dezenas de anos e a presença do carvalho jamais me impediu de fotografar a Cascata do Arado. Sempre o fiz com a segurança necessária para o fazer e porque o bom senso, mesmo nos dias em que as condições o permitiriam, sempre me disse que nunca deveria passar para lá do muro de pedra que ali existe «desde sempre». Porém, a vaidade do facebook e a palermice das selfies fala mais alto pelos corredores não só da Câmara Municipal de Terras de Bouro, bem como pelos corredores do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. É quase como dizer, "Eh, pá, não nos chateiem e façam o que vocês quiserem porque isto já não tem salvação! Cortem a porra do carvalho!"

Era «apenas» um carvalho, muitos poderão dizer. Um carvalho aqui, outro ali! Um estacionamento permitido aqui, outro ali! Um caixote do lixo por recolher dias a fio, e um outro ali...

Muitos apregoam que a gestão do Parque Nacional da Peneda-Gerês deva ser partilhada com os municípios nos quais está inserido e esta ideia até tem a sua razão de ser. Porém, ao ler o seguinte "Esperemos que o ICNF nos conceba a gestão daqueles espaços das cascatas, a começar pela zona do Arado" para o qual a Câmara Municipal de Terras de Bouro tem "...um projecto para valorizar os acessos..." começo a ter receio depois do que foi ali feito para que os turistas que nunca mais voltam ao nosso único Parque Nacional, possam dar o máximo às suas vaidades.

Estes turistas esquecem-se de uma coisa chamada 'bom senso' e não medem e nem têm a menor ideia das consequências dos seus actos quando se arriscam na estupidez do bom ângulo para a fotografia. Infelizmente, muitos destes actos irreflectidos levam à tragédia.

No fundo, perante o risco, arrisca-se tudo num auto-retrato com a cascata mais bonita do momento ou uma passagem para a outra margem que está condenada a um pescoço partido e uma fractura exposta!

Assim, e como estamos a criar uma sociedade medíocre chegamos ao cúmulo de ter de alterar a paisagem para que os turistas de ocasião, aqueles que nunca mais voltam ao Gerês, possam tirar a sua vaidosa fotografia sem correrem o risco de se estatelarem no fundo do abismo.

A proposta da Câmara Municipal de Terras de Bouro fica assim como uma ideia peregrina para que se possa tornar o Geres mais seguro para os incautos, alterando o que tem de ser alterado para que o turista possa regressar seguro com a sua bela fotografia.

De seguida, esperamos a terraplanagem de parte da Serra do Gerês quando alguém se empoleirar na barreira metálica do miradouro da Pedra Bela na fugaz tentativa de fotografar a Capela de S. João em Pitões das Júnias. Como o acto de soberba estupidez irá resultar na queda, a solução será terraplanar a serra num reflexo de estupidez igual ao anteriormente cometido!

No entanto, investir na educação, prevenção, sinalética e avisos... isso dá muito trabalho e ao fim e ao cabo, era apenas um carvalho!

Fotografia © Paulo Figueiredo (Todos os direitos reservados)
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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