terça-feira, 7 de abril de 2015

Crenças populares Geresianas


Perdidas nas brumas dos tempos, as vivências do passado vão-se diluindo numa memória que se vai amarelando como as páginas de um velho livro e esmorecendo como a velha tinta dessas mesmas páginas.

Nos nossos dias, com a verdadeira invasão cosmopolita e a descaracterização das aldeias e modos de ser serranos, muitos costumes foram arredados para o esquecimento, não merecendo por vezes sequer, um registo escrito ou uma lenda oral.

As gentes da Serra do Gerês possuíam um conjunto de crenças, quase uma ciência popular, originada do seu modo de vida serrano. A observação dos ciclos da Natureza levou a surgissem perdidos nas memórias de antanho, essas crenças que marcavam os dias da serra.

Por exemplo, na Noite de Natal costumavam sair das suas casas e pela meia-noite iam à porta da rua com uma acha acesa que era tirada do lume. Chegando à porta, levantavam ao alto assa acha acesa para ver de que lado vinha o vento. Conforme a direcção tomada pelo fumo saído da acha, o ano seguinte teria o tempo influenciado desse quadrante, dizendo então que ficavam com as «têmporas» do norte, ou do sul, etc., ou «fica-nos o tempo do norte, ou sul» Se o vento fosse do norte teriam então um ano frio, que nem mata nem cria. Se o vento fosse do sul, o tempo seria quente; se fosse de nascente, teriam chuva de repente (ano chuvoso com chuva quente); se fosse de poente, teriam um ano invernoso com chuva fria.

Outros usavam ir à mesma hora às cortes do gado e viam para que lado estavam virados os bovinos que estivessem deitados e, conforma a cabeça estivesse voltada para o norte, sul, nascente ou poente, assim o ano futuro correria.

Uma outra crença baseava-se no facto de ocorrer trovoada durante a lua de Janeiro. Assim, caso isso ocorresse, quem ficaria governando o resto do ano seria o lado a partir do qual a primeira vez rugisse o trovão, ficando prejudicada a indicação das «têmporas» se não houvesse concordância com ela.

Tudo isto regulava o tempo até ao Espírito Santo (Maio - Junho), pois a partir daí formava-se novo vaticínio naquele dia.

Adaptado de "Gerez - Notas Etnográficas, Arqueológicas e Históricas"; Sousa, Tude M. de; Coimbra; Imprensa da Universidade, 1927

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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