segunda-feira, 13 de abril de 2015

A ocupação humana do Vale do Alto Homem: a problemática dos abrigos no Cabeço do Modorno


No artigo 'Para um estudo da ocupação humana do Vale do Alto Homem' elaborei um pouco sobre a presença de vários abrigos toscos na margem direita do Rio Homem entre a Água da Pala e a Corga do Concelho imediatamente antes das Curvas do Febra.

Ora, nesse artigo mostra-se que a existência destas abrigos demonstram que a ocupação do Vale do Alto Homem iria muito para lá da sua intensa utilização no acesso à Mina do Salto do Lobo (mais tarde Minas dos Carris), sendo utilizado como acesso ás pastagens de altitude em Carris, Abrótegas, Lamas de Homem, Amoreira, etc., além de outras actividades, tais como o contrabando e a carvoaria (Teixo).

Porém, uma particularidade que sempre me intrigou foi o possível acesso ao alto do Cabeço do Modorno e mais recentemente a existência de abrigos toscos na vertente Poente desse cabeço.

Ao se analisar a Folha 31 da Carta Militar editada com os trabalhos de campo realizados em 1949, verificamos a existência de um carreiro que, proveniente da margem do Rio Homem, se dirige ao topo do Modorno. Conhecendo o terreno e as suas vertentes inclinadas, somos questionados sobre a utilidade de tal carreiro, ainda mais tendo em conta que o cabeço não passa como que uma crista que se projecta no Vale do Homem.

Recuemos ao período antes de 1942. Nesta altura, como já por diversas vezes referi noutros textos e como é descrito no livro 'Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês', o caminho que percorria o Vale do Alto Homem iniciava-se perto da Cascata de S. Miguel e percorria a margem esquerda do Rio Homem até à sua passagem para a margem direita do rio na Água da Pala, prosseguindo vale acima até passar novamente para a margem esquerda após vencer os declives escarpados que surgem na proximidade do Modorno. A razão para a passagem de margens é óbvio, pois as inclinações na margem esquerda do Rio Homem não permitiam a sua utilização para um simples carreiro de pé-posto. Isto torna-se óbvio para quem já percorreu o actual caminho para as Minas dos Carris, onde pode observar o intransponível declive na passagem do Modorno.

Bom, se assim é, é premente se colocar a questão sobre a existência de abrigos toscos, de facto pequenos muros, na vertente Poente do Modorno. E ainda mais é premente questionar sobre a sua utilidade numa zona onde o acesso a pé seria quase, senão, impossível numa altura onde aquela margem não era rasgada pela estrada mineira.

O recente fogo que consumiu a vegetação de parte do Vale do Alto Homem, pôs a nú esses vestígios que sem dúvida merecem um olhar mais atento e um estudo mais cuidado. Sem dúvida que esta será uma problemática à qual irei dedicar algum tempo de visita naquele local.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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