quarta-feira, 16 de maio de 2012

Trilhos Seculares - Arado, Arrocela e Areeiro

Para desanuviar das lutas, lá consegui finalmente fazer um percurso na Serra do Gerês tirando partido do que dizem ser o último destes dias de calor. A minha ideia era a de passar pela Corga do Areeiro e visitar um ou outro curral... e assim foi.

Despertar fora de horas e romagem ao Gerês, nestes dias mais termal. Abastecimento local e partida para o Arado através da Pedra Bela. O dia nascera fresco mas rapidamente ficaria mais quente, porém ameno. Mochila pronta, água no cantil, chapéu na cabeça e bastão na mão, lá comecei a solitária caminhada que no fim sumaria cerca de 15 km com muitos altos e baixos, e que bons que foram! Seguindo pelo estradão florestal, tomei o desvio ainda antes de chegar ao Curral da Vezeira e segui em direcção ao primeiro objectivo. Já por lá havia passado em sentido contrário com 'O Maior da Figueira' uns meses antes, mas desta vez o abrigo não estava ocupado pela solitária cabra... ou seria um bode... demoníaco! Duas ou três fotos e segui o meu caminho seguindo os velhos trilhos seculares que tanto nos querem tirar com as malditas taxas!

Após passar o velho pinheiro à sombra do qual havia almoçado há meses, procurei a derivação do caminho para o Curral de Arrocela e entrando assim  na Corga de Giesteira. Aquele fantástico trilho proporciona paisagens e emoções, fazendo lembrar os filmes de aventuras por onde se caminha num equilíbrio periclitante! Alguns minutos mais tarde ali estava ele à sombra do imponente gigante granítico que lhe dá o nome, o Curral de Arrocela. Bem «escondido» de olhares curiosos e Vigilantes, é sem dúvida um bom local para adorar as estrelas de um céu nocturno! Pequena paragem para fazer líquidos... para fora e para dentro, bebendo a fresca água da montanha que ali brota numa simpática e singela fonte, verdadeiro ouro ao calor que entretanto se foi instalando.

Prosseguindo caminho fui vencendo o declive no velho trilho e cheguei à junção de caminhos. Aqui teria duas hipóteses: ou seguia para o Curral do Cando ou seguia em direcção ao Prado de Teixeira. Sendo esta última opção a mais apelativa por me levar a percorrer alguns metros desconhecidos, tomei a decisão. É sempre bom ter a noção de quem não se conhece tudo e há sempre algo mais a conhecer no velho Gerês. Seguindo então as velhas mariolas lá fui passando por antigos vestígios da presença humana naqueles píncaros ásperos: as pedras para uma fogueira num dia de Inverno; a velha nascente agora seca e abandonada no que teria sido um local de passagem e descanso das longas jornadas com o gado. São estes pequenos detalhes que valem um dia na montanha, momentos fugazes que não podem ser condicionados por interesses económicos. Abarcando longos horizontes os picos vão rasgando os céus azuis sobre o Gerês e o sobe e desce pelas rochas vai-se sucedendo. À medida que se vai avançando vai-se tomando nota de futuras opções para outro regresso, pois as derivações nos caminhos vão-se sucedendo.

E de repente vi-me chegado ao Vale de Teixeira. Sendo ainda cedo, havia tempo suficiente para então «atacar» a subida da Corga do Areeiro e passar pela Cova do Azevinheiro. E que subida seria aquela. Se o caminho está «bem» definido na parte inicial, a ausência da passagem do gado naquela zona leva a que se deva estar bem atento e procurar os sinais que nos guiarão na jornada. O trilho troca de margens duas vezes antes de começar a verdadeira subida, aquela que nos faz parar para adorar a paisagem que se vai desenhando atrás de nós. O imenso vale vai ganhando importância e enche-nos a objectiva da câmara fotográfica a cada passo que vamos dando. Lá no alto, quando as pontas das botas quase bordejam um imenso abismo, a retina é demasiado pequena para tanta beleza, para tanto esplendor. Se por um lado a paisagem que vamos deixando para trás é algo que só um poeta pode descrever, aquela que nos espera mais à frente pertence às mais belas obras primas do Universo. A Serra do Gerês em toda a sua pujança vai-se estendendo pelo horizonte abarcando todos os pontos cardinais. Terminando a subida «à sombra da Roca Negra», ficou a vontade de lá trepar. Mais atrás a Meda de Rocalva guarda serenamente os verdejantes prados onde não tardarão a chegar os gados de Fafião.

O caminho levar-me-ia de seguida a passar pelo Borrageiro e depois pelo arco natural do Borrageiro, descendo até à Chã da Fonte e daqui para o Camalhão e Teixeira. A jornada terminaria com muito calor no ponto de partida.

Devem imaginar a dificuldade na escolha das fotografias, ficam aqui algumas...













































Fotografias © Rui C. Barbosa

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