sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A Serra! (II)

Esta é a segunda parte do artigo "A Serra!" que em Junho de 1935 os repórteres da defunda Latina escreveram após visitarem a Serra do Gerês.

Disponível no seu n.º 4 - Julho de 1935 (Vol. II), este artigo escrito por Camacho Pereira (Director da Revista Latina), descreve um passeio pela Serra do Gerês. O texto é aqui transcrito mantendo as suas características originais.

"(...)

Embora tivessemos avançado sôbre as provisões com genica ficamos com a certeza de que por longa que fôsse a jornada não passariamos fome e isto nos devia alegrar bastante, mais tarde.

De novo largamos em demanda do pico da Borrageira, terminus suporto para a nossa jornada e assim fomos passando em revista a nomenclatura da Serra: Observatório, Viveiros, Cabeça de Cão, Desfiladeiro de Artur Loureio, contornamos o Varegeiro onde milhares de pinheiros já de mais de palmo e meio atestam os trabalhos de repovoamento dos serviços florestais, começando então verdadeiramente o caminho da serra ou para ser mais conciso o caminho de cabras, ora saltando de penedo em penedo ora entre urzes agrestes e assim o tempo vai passando, sempre o mesmo mar de fragas com regatos saltando por todos os lados indiferentes ao calor que se vai fazendo já sentir, fontes fresquíssimas brotam a cada volta.

Oh! Magnifica água da serra!

Chegamos à primeira Chã ou Curral, a Carvalha das Éguas, pequeno trato de erva com dois carvalhos isolados e tristes na solidão das alturas e lá vamos, sempre infatigáveis.

Um novo cáos de predaria se desenrola, ao fundo na distância o Vale da Teixeira, para onde descemos; fecham o espaço o Junco e o Pé de Salgueiro; Garganta da Preza é p nome da passagem aberta ao vale. A prumo quási em frente a Borrageira para estar a um quarto de hora, porám quantas dobras de motanha!

A meia distância da Carvalha das Eguas e do Vale da Teixeira, na descida para este, quem for curioso que se lembre de soltar um grito e quando já supõe a sua voz perdida ouvi-la-há repetir o seu grito do lado da Garganta da Eirinha uma, duas, três e quatro vezes e depois sumir-se lentamente de tempos a tempos. Eis o Éco; a Serra vos responde."

Fotografia: © Rui C. Barbosa (Original de Camacho Pereira e Carlos Ribeiro; Revista Latina)

2 comentários:

DuK disse...

...começo a ter saudades dos velhinhos serviços florestais...

Unknown disse...

Magnífico. Este é de facto um blogue de excelência!

Parabéns!

Obrigado!

Joaquim Campos