sábado, 14 de novembro de 2009

O Trilho das Minas dos Carris


Este foi o texto escrito numa Ficha de Participação que entreguei no dia 12 de Novembro de 2009 na sede do Parque Nacional da Peneda-Gerês com o meu comentário do que deveria ser um 'Trilho das Minas dos Carris'.

"O Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) deve ser um santuário da protecção ambiental, cultural, etnográfica e arqueológica. Em todo o seu território encontramos elementos que assinalam as diferentes fases da passagem do Homem ao longo dos anos e desde os tempos mais remotos.

A proposta para o novo Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês (POPNPG), assinala em todo o seu território os diferentes pontos de interesse natural e humano.

Sendo uma zona de uma beleza paisagística ímpar, de interesse ambiental incomparável e com uma História contemporânea por descobrir e contar, as Minas dos Carris não mereceram qualquer destaque neste POPNPG, tal, aliás, como tem vindo a acontecer ao longo dos anos.

Hoje as ruínas das Minas dos Carris são um testemunho silencioso do passado, mas o seu potencial ao nível do turismo de montanha (na sua vertente paisagística e histórica) e da educação ambiental encontra-se extremamente subaproveitado.

É assim, com o intuiro de dar a conhecer ao visitante do PNPG uma das zonas mais bonitas do nosso único parque nacional, que proponho a criação de um trilho de pequena rota (PR) denominado 'Trilho das Minas dos Carris'.

O Trilho das Minas dos Carris iria percorrer parte de uma área que agora se encontra dentro dos limites da Zona de Protecção Total (ZPT), mas tirando partido do estradão entre a ponte sobre o Rio Homem e que percorrendo o Vale do Alto Homem, chega às velhas ruínas do complexo mineiro.

Os utilizadores deste trilho teriam assim a oportunidade de tirar partido de um enquadramento ambiental. arqueológico e histórico que não existe na actualidade e que é único em todo o PNPG.

O PR teria início na ponte sobre o Rio Homem e seguiria o antigo estradão de acesso às minas construído nos anos 40 do século passado. Ao longo do trilho sewriam criados pontos de observação e interesse, nomeadamente no Bosque da Abilheirinha, Água da Pala, Ponte do Cagarouço, Curvas das Febras, Modorno (com a sua vista panorâmica sobre o vale), Teixo, Águas Chocas, Abrótegas, turfeira / campo de futebol, Salto do Lobo, antes da chegada às Minas dos Carris. Nestes locais seriam colocados painéis explicativos ou placas numéricas indicativas para a descrição do respectivo enquadramento.

Ao chegar às ruínas das Minas dos Carris o visitante seria encaminhado por sinalética específica que p levasse a percorrer e tomar conhecimento do complexo mineiro passando numa volta circular pelas zonas de interesse (edifícios de apoio mineiro tal como o refeitório, casas para casais, casas de habitação, secretaria, casa do pessoal superior da mina, enfermaria, lavarias, poços sinalizados, bocas de mina, represa, etc.). Além de tirar partido das ruínas o PR estaria valorizado pelos diversos panoramas paisagísticos (Lamalonga, Garganta das Negras, Nevosa, horizonte do Planalto da Mourela / Pitões das Júnias até Montalegre).

Quais os benefícios deste PR?:

- por ser uma zona sensível permitiria conduzir o visitante para áreas nas que não interferisse directamente com a preservação;

- o enquadramento natural, histórico e arqueológico do local dando o valor a uma parte esquecida da História da Serra do Gerês e das suas gentes;

- afastar os visitantes dos locais de maior perigo; - a beleza paisagística de um local único em todo o PNPG;

- criação de uma área destinada á arqueologia industrial (não só mineira) na área do PNPG (um aspecto totalmente descorado pelo PNPG desde a sua criação) e que estaria localizada no Centro de Educação Ambiental do Videoeiro ou na Porta de S. Joao do Campo;

- a recuperação em termos paisagísticos das Minas dos Carris com a eliminação de focos de poluição visual e paisagística e a recuperação parcial do estradão no acesso final ao complexo mineiro.

Como fazer? Sabendo da limitação de recursos orçamentais para projectos deste tipo, propõe-se a realização de campos de trabalho voluntário para a limpeza, acomodação, recuperação parcial e caracterização das instalações mineiras e do PR, além do encorajamento do mecenato cultural no apoio logístico e criação de documentação referente ao PR.

Localizadas nos pontos mais altos da Serra do Gerês e a poucas centenas de metros da fronteira luso-galega, as Minas dos Carris são o local do PNPG sem qualquer acesso rodoviário mas que mais visitantes atrai. Pode-se questionar quais as razões deste interesse na criação de um PR? O longo trilho que percorre o Vale do Alto Homem com toda a sua beleza natural, ambiental e paisagística, o misticismo das ruínas mineiras dos Carris, o interesse por uma história esquecida e desconhecida, a vontade de abranger os grandes espaços e que impele muitos para aquelas paragens, etc. Todas estas são razões que levam dezenas de pessoas todas as semanas a percorrer o penoso caminho até aos Carris.

Infelizmente o PNPG nunca reconheceu o verdadeiro potencial arquológico-industrial das instalações mineiras em abandono e ruína desde os anos 80. Foi sempre ignorada uma história que se iniciou em Junho de 1941 com os povos serranos a perscrutarem os solos e as entranhas da terra em busca do volfrâmio, um verdadeiro ouro negro que fazia fortuna e trazia a ruína da noite para o dia.

Com três distintas fases de exploração, o complexo mineiro foi crescendo e atingiu o seu auge nos anos 50, mas a queda do valor do volfrâmio após o fim da Guerra da Coreia, traçou o destino das minas. O aparecimento do PNPG selou por completo, e bem, uma vontade de reactivar e criar um grande complexo mineiro da Serra do Gerês desde as Minas dos Carris, passando pelas Minas do Borrageiro e para área da Arrocela e Cidadelhe.

Assim, a criação deste trilho PR poderia colmatar uma lacuna que há muito existe nos destinos deinteresse no PNPG recordando assim parte de uma memória colectiva da Serra do Gerês e que mesmo sendo uma ferida aberta na preservação ambientaç deverá merecer, tal como acontece em outras áreas protegidas internacionais, o devido lugar da sua História."

Fotografia © Rui C. Barbosa

3 comentários:

Anónimo disse...

portanto, a discução será na vila do geres!? mas em que sitio mais concretamente??

vou fazer um esforço para la estar, infelizmente a minha vida profissional não sei se vai deixar, mas vou fazer os possiveis

Rui C. Barbosa disse...

No dia 18 de Novembro será mais uma discussão pública do Plano de Ordenamento e certamente que mais uma vez se irá falar da portaria (e agora mais pois já começamos a ser afectados pela mesma). Por outro lado, e por ser quase a zona nuclear do PNPG, a reunião nas Caldas do Gerês terá certamente um papel muito importante pela presença de muitas pessoas ligadas aos vários movimentos que contestam não são o plano de ordenamento mas também esta portaria.

Rui C. Barbosa disse...

A discussão terá lugar no auditório muncipal no Centro das Caldas do Gerês.