Lembro-me de em tempos pensar na Serra da Peneda como a mais selvagem das quatro serras do Parque Nacional da Peneda-Gerês. A sua distância, o seu isolamento, os profundos vales, a cor escura dos seus granitos, traziam a sensação de um mundo à parte. Nos nossos dias respira-se essa sensação e a Serra da Peneda tem numerosos recantos que merecem a nossa visita.
Regressei ao Trilho da Peneda (PR17 AVZ) após muitos, demasiados, anos. Este é um percurso de pequena rota com pouco mais de 10 km, mas cheio de paisagens e emoções visuais ímpares. Devido aos desníveis (iniciais) é um percurso difícil, mas que compensa cada segundo de esforço que realizamos.
Este percurso realiza-se em plena Serra da Peneda, entre dois povoados serranos: o aldeamento da Peneda e a Branda de Bouças dos Homens. Partindo do parque de estacionamento, tomamos o trilho, seguindo as marcações que se destacam na paisagem, sendo estas de cor amarela e vermelha. Por estes carreteiros passavam os carros de bois de raça barrosã, ligando aqueles dois povoados. Após 3 km e à cota aproximada de 1100 metros, inicia-se descida, avistando ao longo Branda de Bouça dos Homens. Pouco depois da saída na estrada alcatroada, tomamos um antigo caminho de romeiros devotos à imagem da Sr.ª da Peneda. Trata-se de um caminho designado de pé posto uma vez que não permite outro modo de percorrê-lo. De seguida iniciamos uma nova ascensão até às faldas da Penameda e logo, voltamos a descer até pequeno lago artificial, conhecido pelos locais por “Pântano” situado no lugar de “Chã do Monte”. Esta represa servia uma mini-hídrica que há anos atrás fornecia a energia elétrica ao povoado da Peneda. Cruzando o lago, seguimos um regato e a descida torna-se numa verdadeira e intrépida aventura devido aos íngremes declives do relevo. À medida que vamos descendo, podemos observar lá no fundo a igreja e o aldeamento da Penada, assim como também, ao nosso lado esquerdo a Fraga da Meadinha, procurada por inúmeros escaladores nacionais e estrangeiros. Mais uns abaixo, alcançamos a desembocadura do trilho e daí tomamos a estrada que nos levará passado cerca de 1 km, ao ponto de chegada que coincide com o ponto de partida, ou seja, o parque de estacionamento. Se não for acompanhado por guia, preste atenção às marcações e não saia do trilho marcado e sinalizado. Guarde o máximo cuidado nos dias de nevoeiro e/ou de neve, uma vez que as marcações podem encontrar-se ocultas.
Neste dia decidi iniciar o traçado junto da Igreja da Peneda e subir o íngreme caminho na vertente da Meadinha. A caminhada deve-se ir fazendo passo a passo, sem pressas e ir apreciando os sons que nos vão surgindo. As paragens regulares são aconselhadas, aproveitando as estruturas existentes para descanso e apreciando a paisagem que vai mergulhando no vale.
Recentemente, o caminho sofreu a queda de grandes pedras que impediam ou dificultavam a progressão. Porém, um excelente trabalho de recuperação e preservação deu ao caminho a facilidade de progressão desejada.
Terminando a subida íngreme, entramos numa parte mais suave que nos levará à Chã do Monte onde encontramos o Pântano da Sra da Peneda - ou simplesmente Pântano (local assim designado pelos locais) - com o seu Couto da Chã do Monte. Reza a tradição que as mulheres que, com a mão esquerda, conseguissem colocar uma pedra no cimo do penedo, no ano seguinte se casariam. Ainda hoje esta lenda perdura, pois, são muitas as mulheres que se deslocam a este local na esperança de casarem no ano seguinte!
O traçado do Trilho da Peneda leva-nos a atravessar a pequena represa, entrando então na Corga das Vargens do Furato. Ao nosso lado direito ergue-se o cume de Penameda, com os seus 1.268 metros de altitude, e à medida que vamos subindo a corga vemos as fragas da Casinha de N.ª Senhora. Por outro lado, à nossa esquerda, sucedem-se a Fraga do Abaixo do Furato e a Fraga da Pomba. O caminho vai-nos levar à Portelinha do Vento, passando no cimo da Corga do Curral das Lameiras até chegar às Lapoceiras já a descer para a estrada que atinge já no final da Corga das Veigas.
Acompanhando a estrada por algumas dezenas de metros, vai flectir à direita e iniciar nova subida, passando na Volta dos Picotos e seguindo serra acima até passar ao lado da Fraga da Arinha ou do Barroco, um interessante conjunto geológico. Iniciando a sua descida, o percurso (designado aqui como 'Caminho de Currelos') leva-nos perto da Fraga das Portas e do Carvalho das Portas. A descida é longa e permite-nos apreciar as magníficas vertentes, formas graníticas e vales profundos que aqui a Serra da Peneda tem para oferecer.
O carreiro de pé posto irá terminar num dos parques de estacionamento da Sra da Peneda, a pouca distância do ponto de partida.
O traçado (gps) do percurso pode ser obtido aqui e seu folheto (pdf) aqui.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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