quinta-feira, 7 de abril de 2022

As mariolas e os «montinhos de pedras»

 


Nas passadas semanas tenho-me apercebido de um aumento significativo do número de «montinhos de pedras» por entre as mariolas que vão assinalando os caminhos que percorro pela Serra do Gerês. Se por um lado é sinal de que o número de praticantes de caminhadas (de montanha) pode estar a aumentar, é também revelador do significado das mariolas na paisagem serrana, ou do desconhecimento deste.

Elemento secular, as mariolas têm como função assinalar os caminhos pela montanha ou uma passagem mais complicada num colo, portela, corga ou garganta, sendo úteis nos dias de lobo nos quais o nevoeiro impede uma visão mais alargada da zona que percorremos. Assim, a sua preservação é fundamental não só por uma questão etnográfica e histórica, mas também por uma questão de segurança daqueles que percorrem as serras do Parque Nacional e não só.

No entanto, podem também ser um elemento poluidor da paisagem quando o seu número, principalmente quando no mesmo local já existe algum tipo de sinalética, aumenta desnecessariamente. Muitas destes «montinhos de pedras» surgem por uma questão de moda, por uma fotografia no Instagram ou por mero desconhecimento da sua real utilidade. Não sendo elemento decorativo, muito menos são elemento de suposta crença espiritual «new age», tornando-se apenas elemento de estupidez, ignorância e de vaidade humana quando se colocam essas estruturas sem necessidade.

A situação, apesar de em tempos ser alertada para o seu efeito negativo no ambiente, está de novo a tornar-se ridícula. No Parque Nacional da Peneda-Gerês e noutras áreas protegidas (veja-se por exemplo no Parque Natural da Serra da Estrela) esta situação pode colocar em risco algumas espécies de fauna que se protegem da luz solar por debaixo das pedras. De facto, em 2020 um grupo de cientistas "...publicou uma carta a alertar para o impacto negativo dos populares montinhos de pedras," conforme alertou a Wilder numa publicação a 15 de Maio de 2020.

Porém, como quase tudo nos nossos dias e devido a uma má explicação do problema, estes alertas levaram a uma não compreensão do problema, inacreditavelmente resultando na destruição de muitas mariolas úteis para o pastoreio que ainda vai resistindo no Parque Nacional da Peneda-Gerês e em outras áreas protegidas de montanha. 

Assim, nunca é demais alertar para esta situação e para a utilidade das mariolas e a perfeita inutilidade dos «montinhos de pedras». 

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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