Em Trilhos seculares - Para lá do Vale do Homem, falei sobre o que ficou a descoberto com o incêndio de Setembro de 2013 na zona das Águas Chocas. Na altura referia que "Todo o Parque Nacional da Peneda-Gerês é um imenso manancial de segredos à espera de serem descobertos e acima de tudo estudados. Par lá das belas paisagens, das sensações de provoca e dos momentos bem passados numa harmonia (tentada) com a Natureza, a cada recanto esconde-se um sinal do passado, sinal esse que nos pode ajudar a compreender o presença e, quiçá, ajudar a preparar um futuro melhor.
Em minha opinião, um Parque Nacional, e em especial uma área na qual congrega a milenar presença humana, não se deve limitar à preservação do meio ambiente e da Natureza. Isto em especial quando esse meio ambiente e essa Natureza criaram uma relação íntima, quase promiscua, com o Homem que nela habita. Foi este Homem que a moldou e dela tirou o seu sustento ao longo dos séculos. Em muitos casos, e por factor evolutivo, muitas foram as acções que foram desaparecendo, outras infelizmente mantendo-se escondidas pelo falso véu de uns 'direitos adquiridos' ou de um proclamado e doentio 'contacto com a Natureza'.
Pelas serras do Parque Nacional são infindáveis as marcas conhecidas do Homem antigo. Acredito que muitas destas marcas estejam por descobrir. Enfim, histórias por contar. Veja-se o exemplo do livro 'Minas dos Carris - Histórias mineiras na Serra do Gerês' que levanta o véu sobre a evolução daquele complexo mineiro desde os violentos anos do segundo conflito mundial até ao fim dos seus dias já nos anos 80 do século passado. É certo que foram muitos anos de dedicação a um objectivo: trazer à luz do dia factos e histórias pessoais que marcaram uma época na Serra do Gerês. Sendo uma obra exaustiva, acredito que muito fica por dizer e será à partida um livro incompleto no infindável sentido das palavras que o compõem, no olhar que as fotografias irão mostrar, e na sua interpretação e análise.
O mesmo tipo de trabalho pode ser feito com muitos outros elementos que fazem parte de um puzzle que aos poucos se vai construindo. Em tudo isto, o rearranjo de peças será inevitável o que torna em si apelativo todo este jogo.
Para mim, caminhar nas nossas montanhas é muito mais do que o registo fotográfico e do que as estatísticas da caminhada. Caminhar é, em si, um exercício de observação, de busca, de interpretação e principalmente de imaginação! É tudo isto que torna cada passo único, cada olhar uma visão analítica e a caminhada um exercício que sentimento em prol da nossa história como país e como povo."
Com o passar das estações, todas estas marcas, registos e memórias voltam a estar encobertas com a vegetação e esquecimento, mas de tempos a tempos lá vai surgindo algo que nos ajuda a preservar em imagem o que estes locais foram há já muitos anos. É o caso destas fotografias que nos mostram o Vale do Alto Homem e em particular a zona das Águas Chocas em 1946-1947.
Nas fotografias é bem visível o então recém aberto estradão mineiro para as Minas dos Carris e na zona das Águas Chocas uma derivação desse estradão.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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