terça-feira, 15 de abril de 2025

Oportunidades perdidas

 



Neste dia de Primavera com as serranias do Gerês cobertas de neve, decidi dar uma pequena volta pelas paisagens que somente deverão voltar na próxima época invernal. Até lá, irão chegar os dias amenos e depois o estio que nos trará calor e dias de praia na montanha.

Caminhada eu a descer da Preza, quando me cruzo com um casal canadiano. O Parque Nacional, mas acima de tudo, a paisagem de montanha foi o mote para uma curta conversa. O casal estava maravilhado e impressionado com aquilo que via! De facto, a paisagem de montanha em Portugal é algo que é pouco conhecido nas promoções turísticas de um país que ainda não se habituou a ver «gente de mochila às costas». Tirando a extensa promoção que se faz à Serra da Estrela, pouco se fala de actividades de montanha em Portugal. E o problema não se limita à promoção do país; o problema reflecte-se também à promoção turística que é feita em Terras de Bouro.

O turismo de Terras de Bouro está preso num ciclo vicioso do qual não consegue (ou não quer) sair. Tendo como pano de fundo e justificação a santíssima «sazonalidade», o município limita-se ao mais confortável, repetindo fórmulas «que resultam» promovendo as cascatas, promovendo as lagoas, promovendo as velas queimadas. O resultado vê-se no excesso de turistas nas zonas balneares que, em certos locais, torna-se um problema de saúde pública quando o volume de água começa a diminuir nos rios e ribeiros em meados de Agosto.

Sim, a sazonalidade é inevitável, quanto mais não seja pelo facto de a maioria dos portugueses escolher as suas férias no Verão. Porém, a sazonalidade não tem de ser uma fatalidade de um ciclo de seis meses: de Maio a Outubro trabalha-se «como cães» e no resto dos meses o «Gerês» fecha para obras (tirando louváveis e resilientes excepções)...

O ciclo é sempre o mesmo: abertura da «época termal», animações (!) de Verão, dias quentes, as TV's vão ao Gerês e a 15 de Setembro volta (quase) tudo para casa. O ciclo repete-se, as pessoas queixam-se, a sazonalidade volta a servir de desculpa e para o ano repete-se.

Entretanto, vive-se de oportunidades perdidas. Temos umas montanhas abertas todo o ano, umas montanhas onde se consegue caminhar em dias de chuva, umas montanhas onde se consegue caminhar em dias de neve. Isto acontece noutras montanhas? Em muito poucas! Veja-se o exemplo dos Picos de Europa onde, de facto, a sazonalidade existe pelo período de férias, mas também imposta pelas condições das próprias montanhas nos meses de Inverno onde, e devido à forte acumulação de neve, é impossível aceder a muitos lugares (e mesmo assim, com os devidos equipamentos, as actividades de montanha continuam).

E os dias passam, e as oportunidades perdem-se, mas estão todos contentes...

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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