quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Trilhos seculares - Pelas Fechinhas

 


Neste dia, fiz uma «ligeira» alteração a um percurso que é dos meus preferidos na Serra do Gerês. A subida pela Costa de Sabrosa e posterior passagem pelos Prados da Messe, Conho e Lomba de Pau a caminho da Preza e Vidoal, dá-nos a oportunidade de ter um óptimo dia de montanha na Serra do Gerês.

Porém, desta vez, introduzi um desvio que me levaria a passar pelo Rendeiro e descer a Fechinhas, seguindo depois pela Mourisca a caminho do Conho.

Para uma descrição do percurso aos Prados da Messe pela Costa de Sabrosa e regresso pela Lomba de Pau, podem consultar este texto.


O dia estava particularmente calmo e o céu anunciava desde logo de manhã que o cenário iria mudar nos dias seguintes na Serra do Gerês. Previa-se neve e um período mais húmido, após vários dias de um tempo primaveril em Fevereiro. Em conversa, dizia que "era o respirar fundo antes do mergulho," parafraseando um célebre feiticeiro de vestes cinzentas.

Os Prados da Messe apresentavam-se calmos e tranquilos, e mesmo a passarada parecia antever o que chegaria dias mais tarde. Os pequenos regatos iam cantarolando na sua interminável demanda do oceano e uma brisa por vezes com tons tépidos fazia a vegetação balancear.


Passando as velhas ruínas da casa dos Serviços Florestais, procurei o carreiro e depois as mariolas que me levassem à passagem para o Rendeiro. Escondidas e cobertas pelo tempo, ali estavam elas indicando o caminho a seguir. Há muitos anos, nas minhas primeiras incursões na geresiana serra, via aquela passagem como uma porta para um «mundo mais selvagem» da Serra do Gerês. Curiosamente, quase quatro décadas depois, a sensação ainda é a mesma. É como se estivesse a entrar num templo perante e dentro do qual, se preza um certo silêncio, uma verdadeira reverência. Silêncio! Aqui sente-se a Natureza e tudo o que dela faz parte!

Usualmente, este percurso é usado para chegar a Borrageiros, percorrendo pequenas corgas e longos vales, mas neste dia decidi descer a Fechinhas. Desde que se entra no Rendeiro, a paisagem absorve-nos de uma forma imensa, pois os espaços que se nos deparam são imensos. O vale é guardado por dois colossos: Velas Brancas (à direita) e Porta Roibas (à esquerda), dois titãs que se parecem precipitar no vale. Quando deixamos o carreiro para procurar o velho caminho que nos levará às profundezas do abismo, vamos ter o Cocão das Quebradas e as Lamas de Modo que passam quase incógnitas na paisagem, pois o nosso olhar vai a perscrutar o leito da Ribeira do Porto de Vacas que corre lá ao fundo.


No Verão, esta é ainda zona onde a vezeira vai passando, ou pelo menos os animais vão por ali à procura de alimento. Em tempos, foi um carreiro bem definido na paisagem; hoje restam as mariolas para nos sugerir por onde passar. A descida é para se fazer com calma, pois a paisagem e a prudência assim o exigem. Aqui e ali, à medida que descemos, surgem pequenos promontórios, quase como altares, que nos proporcionam o vislumbra do Vale do Rio da Touça que abre caminho entre gigantes, pois ali, pequenos somos nós.

Tanto Porta Roibas como as Velas Brancas agigantam-se à medida que vamos descendo e os ribeiros ganham viva com o constante cantar por entre as pedras dos seus leitos nus. Já no fundo, quando o carreiro se acalma, temos de levantar a cabeça para fitar estes ciclopes que se se petrificaram em granito. Com o Curral de Fechinhas já ali adiante, restava atravessar a ribeira que, felizmente, tinha pouco caudal, pois caso contrário teria de fazer todo o percurso inverso de volta aos Prados da Messe.


O Curral de Fechinhas faz parte da vezeira de Fafião. O nome advém das inúmeras fechas, isto é, das quedas de água que se podem observar no ribeiro que se despenha desde a Lameira da Mourisca. Após uma curta visita ao seu abrigo pastoril, iniciei a subida pelo vale glaciar. O velho carreiro sobe o vale pela sua margem esquerda, levando-nos à base da Mourisca, a Lameira da Mourisca, e aqui flecte à direita, cruzando o curso de água junto de uma peculiar fecha e segue em direcção ao Curral do Conho, onde finalmente descansei.

Algumas fotografias do dia...








































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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