Esta foi a primeira etapa da denominada "Grande Rota Transfronteiriça Gerês-Xurés" num evento promovido por RB Hiking & Trekking.
A Grande Rota Transfronteiriça Gerês-Xurés completa o circuito iniciado com a GR50 Grande Rota da Peneda-Gerês, caminhando através das paisagens rurais e de montanha do Parque Natural de Baixa Limia – Serra do Xurés.
A diversidade climática impõe, no Parque Natural de Baixa Limia-Serra do Xurés, dois climas e, em consequência, duas vegetações diferentes.
Uma das grandes atrações deste parque é sua variedade paisagística. Quanto à vegetação, este espaço situa-se entre duas grandes regiões de flora europeias: a euro siberiana, da província atlântica, e a mediterrânea, da província carpetano-leonesa. Por isso, a vegetação alterna bosques caducifólios, característicos das áreas climáticas húmidas, com os de folha perene. Os habitantes da região aproveitam as terras mediante pastagens e cultivos forrageiros, alternando-os com pousios de centeio.
Percorrendo o Parque Natural, a GR Transfronteiriça Gerês-Xurés tem uma distância total de 102 km, iniciando-se (ou terminando) em Tourém.
Segundo o portal da Grande Rota da Peneda-Gerês, Tourém está "enquadrada em zona planáltico, de onde se avistam os picos da serra do Gerês e o Larouco, próxima da pequena albufeira do rio Salas e rodeada de campos, lameiros e carvalhais, Tourém surge num cenário paisagístico extraordinário. No interior da aldeia raiana o casario essencialmente em granito, de grande valor arquitetónico, e o património comunitário, símbolo do espírito coletivo desta comunidade. Destacam-se o Forno Comunitário, a capela de Santa Ana e Igreja Matriz de Tourém, o Moinho da Presa, a Ponte Medieval de Tourém e a antiga casa do Boi do Povo, entretanto convertida num polo do Ecomuseu do Barroso. Este polo retrata o tema do contrabando, do Couto Misto, dos exilados políticos e da relação transfronteiriça, contando também com uma exposição das principais espécies de avifauna que ocorrem em Tourém e no Planalto da Mourela, onde se regista uma grande diversidade de aves, incluindo aves migradoras."
A primeira etapa leva-nos desde a portuguesa Tourém até à galega Maus de Salas, atravessando terras do Couto Misto. Segundo o portal Couto Mixto - Meaus, este "foi formado pelas povoações de Santiago, Rubiás (ambas no município de Calvos de Randín) e Meaus (município de Baltar). Estamos perante um território que foi autogovernado por sete séculos.
Situado na fronteira com Portugal, a sua história remonta ao século XII, chegando a considerar a República do Couto Mixto como o estado mais antigo da Europa. A principal tese da sua origem está nos “coutos homiciados” que eram abrigos para refugiados ou foragidos. Criados na atual fronteira (muito permeável) durante a Idade Média, foram também o local onde os presos cumpriam as suas penas, repovoando as terras após a chegada dos muçulmanos.
A realidade fala-nos de um pequeno território em forma de Estado democrático e alheio às duas coroas que o rodearam até ao século XIX. A sua extensão era de 27 km2, no sopé das Serras do Larouco e da Pena.
Os seus habitantes tinham vários privilégios sobre o resto da população de ambos os reinos. Eles não eram obrigados a escolher a nacionalidade (podiam ser de qualquer um dos reinos ou mistos). Não pagavam a maioria dos impostos e taxas, comercializavam e cultivavam livremente (até mesmo tabaco), não eram obrigados a trazer nenhum documento que os identificasse. Finalmente, os seus habitantes não tiveram que enviar homens para o exército.
No Couto Misto havia um juiz democraticamente eleito em assembleia pelos moradores. Esse juiz era eleito a cada três anos e apoiado pelos “Homens do acordo”, dois homens de cada lugar. Estes eram os delegados do juiz em cada lugar (aldeias ou lugares de Santiago, Rubiás e Meaus). Por outro lado, também se tinha um “vigário do mês” (xerife), aquele encarregado de executar as ordens. Santiago era a sua capital e centro administrativo. Meaus (município de Baltar) o núcleo económico e comercial. Rubiás foi o maior quanto a número de vizinhos.
Evidentemente, poder cultivar o que quisessem, facilitava o contrabando. Existia um percurso que ligava as três vilas e Tourém, do lado português, que se chamava “Caminho Privilegiado”. Uma rota de 6 km que estava livre de controles de guardas de fronteira. Nenhum bem podia ser apreendido, nem ser detida qualquer pessoa.
Para guardar os documentos importantes existia um baú com três chaves. Para poder abri-lo, tanto o juiz quanto os “Homens do acordo” tinham que estar presentes.
O Couto perdeu a sua soberania e privilégios em 5 de novembro de 1868. Com o chamado “Tratado de Lisboa”, as fronteiras entre Espanha e Portugal foram perfeitamente delimitadas, deixando as três vilas do lado espanhol. O último juiz do Couto foi Delfín Modesto Brandán. Atualmente, uma estátua é-lhe dedicada no átrio da igreja de Santiago."
Parte do traçado desta primeira etapa percorre do denominado "Caminho Privilegiado", que era caminho neutro, de cerca de 6 km de extensão, que, partindo do Couto, atravessava as terras de Calvos de Randín, na Galiza, e de Tourém, em Portugal, onde terminava. O percurso era delimitado por mourões ou marcos de pedra, marcados com diversos sinais, como cruzes, sendo utilizado para o trânsito de pessoas e de mercadorias, e onde as autoridades de ambos os países não podiam realizar nenhuma apreensão dentro dos seus limites (nem de contrabando), nem de molestar quem o utilizava.
Um dos grandes pontos de interesse desta primeira etapa é o Castelo de Piconha. O texto seguinte é extraído daqui.
O "Castelo da Piconha" localizava-se entre as aldeias de Pena (hoje desaparecida, no caminho de Piconha a Montalegre), Vilar, Vilarinho e Randin, no atual outeiro de Almena, no município de Calvos de Randín, na Comunidade Autónoma da Galiza, na Espanha.
Castelo raiano na margem esquerda do rio Salas, no caminho que liga Randín a Vilar e Vilarinho, a leste da atual freguesia portuguesa de Tourém, era a cabeça das Terras da Piconha, defendendo ainda o chamado Couto Misto, que transitou para os domínios da Espanha pelo Tratado de Lisboa de 1864.
História
O castelo medieval
À época da Independência de Portugal, intensificou-se o povoamento das fronteiras com a Galiza. Nessa fase, no século XII, o Castelo da Piconha constituía-se em importante fortificação lindeira, com a função de guarnecer, juntamente com os castelos de Portelo, Montalegre, Monforte de Rio Frio e Chaves, os acessos aos vales dos rios Cávado e Tâmega.
Sancho I de Portugal (1185-1211) outorgou carta de foral a São Paio de Piconha, alçada à categoria de vila, em 1187, e visitou-a em 1189. Acredita-se que remonte a este período a construção ou ampliação do castelo.
Em 1221 forças de Afonso IX de Leão conquistaram Chaves e arrasaram a Piconha.
Afonso IV de Portugal (1325-1357) concedeu-lhe privilégios (5 de maio de 1325).
O castelo foi reconstruído em 1388 por determinação de João I de Portugal (1385-1433), que em seguida (4 de junho de 1398) doou esses domínios ao seu filho, o Infante Afonso de Portugal (1390-1400).
Sob o reinado de Manuel I de Portugal (1495-1521), a povoação e seu castelo encontram-se figurados por Duarte de Armas ("Livro das Fortalezas", c. 1509). Nesse período, a Piconha recebeu o Foral Novo, passado pelo soberano em 1515.
Os alcaides de Piconha
Afirma-se que, em 1538, ali apenas residia o alcaide. Estes eram nomeados pela Coroa de Portugal até à extinção das alcaidarias (3 de agosto de 1767). Eram apresentados pela Casa do duque de Bragança desde 24 de agosto de 1476. Os direitos da Casa de Bragança foram extintos em 1834. Entre os nomes desses alcaides, registam-se:
- Fernão de Sousa, que se notabilizou em Tânger, em 1437;
- António de Sousa, a título honorífico, em 1532;
- Fernão de Sousa;
- António de Araújo, em 1540, com uma história de roubo e crimes ao meirinho do vale de Salas;
- Gaspar de Carvalho ( 1564);
- Martin Afonso de Sousa
- Fernão de Sousa (1587)
- Tomé de Sousa (1635);
- Belchior do Prado;
- Duarte Teixeira Chaves (1682);
- Francisco Teixeira Chaves (29 de outubro de 1693);
- Alexandre Gusmão (16 de maio de 1714 a 1745);
- Alexandre de Sousa Pereira (20 de agosto de 1779), morgado de Vilar de Perdizes; e
- João António Sousa Pereira Coutinho (13 de maio de 1800 a 1825).
Da Guerra da Restauração aos nossos dias
No contexto da Guerra da Restauração da Independência de Portugal (1640-1668), este castelo, juntamente com outras praças vizinhas na região, foi demolido por tropas espanholas (1650).
Em 22 de novembro de 1788 o ouvidor da Comarca, Dr. Miguel Pereira Barros, relatou: "(...) não achei nem castelo, nem mais vestígios do que um poço com degraus, e menos achei casas algumas."
Às vésperas da Guerra Peninsular (1808-1814), entretanto, o castelo ainda permanecia na memória e na tradição, uma vez que o título de alcaide-mor do Castelo da Piconha foi recebido, em 20 de dezembro de 1800, por João António de Sousa Pereira Coutinho Yebra e Oca, 9.º morgado de Vilar de Perdizes e do Hospital de Santa Cruz, fidalgo da Casa Real (em 14 de outubro de 1799). As tropas napoleónicas na região destruíram, entre outros danos, a documentação sobre as origens e a história do castelo.
Tourém assumiu-se como o centro politico administrativo e económico da honra de Tourém, substituindo, nos cartórios da Administração Pública, a designação de concelho do Castelo da Piconha por concelho da Honra ou Vila de Tourém, uma das seis honras de Barroso (as demais eram Gralhas, Meixedo, Padornelos, Padroso e Vilar de Perdizes). O concelho de Tourém foi extinto na reforma de Passos Manuel de 1836.
Conforme os termos do Tratado de Lisboa (1864), tendo a maior parte das duas terras passado para domínio espanhol em 1865, o termo da Piconha foi extinto em 1866.
Subsistem, no Outeiro da Piconha, as ruínas dos alicerces do seu castelo medieval, carecendo de classificação por parte do poder público e de pesquisa arqueológica. Atualmente, só são visíveis partes de escadas e a cisterna escavada na rocha granítica. O caminho que conduzia o castelo encontra-se impraticável.
Características
O castelo era dominado pela torre de menagem, de planta quadrada, dividida internamente em três pavimentos, de onde se avistava toda a parte norte do vale do rio Salas. Era acedida por uma entrada, a meia altura, por uma escada amovível de madeira.
Após 18,5 km, a etapa termina na aldeia de Maus de Salas. O portal
Maus de Salas, centro de atividades de montanha, refere que "
o que antes era uma singular aldeia de montanha tornou-se agora um dos centros desportivos mais importantes da Província de Ourense. Situado no coração da própria povoação, existe um centro de atividades desportivas que disponibiliza as suas instalações a atletas, clubes, federações ou associações para que possam desenvolver as suas diferentes modalidades desportivas ao pé da montanha, funcionando também como centro de BTT.
Mesmo às portas da Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés (RBTGX), e com a Raia portuguesa ao fundo, esta aldeia com um curioso topónimo, possivelmente derivado do latim “manus”, ou “mãos mortas”, aquelas Igreja protecção patrimonial da monarquia no Antigo Regime) acolhe uma antiga necrópole nas margens da barragem de Salas.
Maus de salas tem vários pontos de interesse. Um deles é a igreja paroquial de Santa Baia das Maus de Salas, com arquitetura religiosa típica da Galiza rural. No interior, um retábulo único, com escultura relevada que sobressai sobre as demais (o Bom Pastor) Outro elemento notável da aldeia é o cruzeiro. Por outro lado, na entrada do povoado encontra-se uma maquete com as “mámoas do Vale da Morte”. Casas de pedra, fontes e celeiros, alimentam a imagem de uma aldeia com muita história."
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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