quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Trilhos seculares - Cubato, Vidoal e Raiz

 


Com uma forte marca da actividade pastorícia que moldou a Serra do Gerês ao longo dos séculos, o seu abandono gradual levou ao inevitável desaparecimento de muitas das suas características quer seja ao nível da toponímia, quer seja ao nível da rede de carreiros que sulcavam as encostas serranas, etc.

Por outro lado, a chegada dos Serviços Florestais e, de forma mais vincada, a chegada do Parque Nacional da Peneda-Gerês, veio cobrir de esquecimento muitos dos recantos e características que tornam estas serranias em locais únicos em todo o país.

Indubitavelmente, foram os pastores que foram criando uma teia de caminhos de pé posto que permitiam o acesso às zonas mais difíceis e recônditas da serra. O abandono de certos locais de pastorícia e abrigo - como, por exemplo, o Curral de Lavadouros, o Curral de Fontaíscos e outros - levaram à perda de uma memória colectiva destas paragens, memória essa que o Parque Nacional foi incapaz ou talvez nunca tenha tido a intenção de preservar.


Assim, e por vezes, restam os velhos mapas e as mariolas cobertas de musgo e líquenes, para nos ajudar a (re)descobrir esses locais, contribuindo assim para a preservação de um património imaterial que - talvez não sendo de importância nacional - o é a nível local.

Esta preservação surge ao nível do registo fotográfico, da sua georreferenciação e da sua memória descritiva, quanto mais não seja pelo simples relato que (ainda) alguns vão fazendo para lá da vaidade da imagem que fica esquecida nos arquivos electrónicos e na «linha do tempo» de efémeras redes sociais.


É muitas vezes com o intuito de dar um humilde contributo para essa memória futura, que percorro por inúmeras vezes os mesmos espaços, olhando e tentando perceber com diferentes sentidos e diferentes ambientes o que me rodeia. Por vezes, tira-se também partido de trabalhos de limpeza realizados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas ou mesmo pelos diferentes baldios que vão cuidando dos seus terrenos.  

Esta incursão na Serra do Gerês levou-me a passar por três velhos currais, iniciando o caminho na Portela de Leonte. Seguindo a estrada, tomei pouco depois um velho caminho traçado na Encosta da Água da Adega pelos Serviços Florestais. Tomado em parte pela vegetação, o caminho oferece-nos o vislumbre de uma esquecida fonte tapeteada de musgo, num cenário bucólico neste dia de Outono. O caminho leva-nos a atravessar o Ribeiro da Água da Adega, seguindo encosta acima, mas terminando um pouco mais adiante. Ali, surge-nos a paisagem da Encosta de Bemposta e dos píncaros serranos que antecedem os espigões do Pé de Cabril.


Continuando serra-acima e seguindo as mariolas, estas vão-nos levar à tranquilidade do Curral de Cubato com o seu pequeno abrigo pastoril. Em tempos recuperado, já são poucos os animais que por ali deambulam nos dias da vezeira e aos poucos a vegetação vai tomando conta do pequeno abrigo e da chã.

Não havendo indicação do caminho para sair daquele local, teremos de procurar um pouco até o encontrar escondido pela vegetação. O caminho vai-nos levar até ao Curral do Vidoeiro à medida que a paisagem do Vale de Maceira se torna mais imponente com a visão do Pé de Medela e Carris de Maceira, bem como da Corga do Cântaro e do Cabeço do Cântaro.


Após uma pequena paragem no abrigo pastoril do Curral do Vidoal, segui em direcção ao Mourô e entrei na Corga de Mourô, tendo por destino o Curral da Raiz. Caminha-se na parte superior da corga por um caminho que nos leva ao curral e dando-nos a visão do Vale do Rio Gerês. Por esta altura, e com o Sol em pleno mergulho para o final do dia, o jogo de luzes no horizonte tornou-se em algo que mereceu uma paragem prolongada!

Passando o Curral da Raiz, e após apreciar o tamanho dos seus carvalhos, inicia-se então a descida da Costa da Cantina, passando por frondosos bosques de azevinhos, carvalhos e cedros, resultado das plantações dos Serviços Florestais.

Chegado à estrada, rumei na direcção da Cascata de Leonte e lodo adiante tomei o velho caminho que me levou ao Escalheiro e dali à Portela de Leonte.


























Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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