Neste dia caminhei desde a Portela de Leonte até Albergaria e depois pela Costa de Bargiela (Varziela) seguindo um velho carreiro que aos poucos vai sendo tomado pela vegetação.
A saída faz-se na Portela de Leonte e segui pela estrada que percorreu a tranquilidade do bosque açoitado por um vento frio. As nuvens corriam rápido e lambiam os topos das fragas, por vezes querendo deixar um pouco de si para trás. Ausente de fotógrafos ávidos de paisagens outonais, pois as árvores já estão quase despidas e preparadas para o Inverno, a caminhada fez-se na solidão dos ruídos típicos de um dia ventoso e do restolhar das folhas no chão.
Chegado aos Viveiros de Albergaria, e depois de passar a ponte de madeira sobre o Rio Maceira, segui encosta acima caminhando por entre um maravilhoso bosque onde os raios de Sol já brincavam entre a ramada.
A parte inicial da subida leva-nos por um velho bosque, memória dos tempos antigos em que grande parte do Norte de Portugal se encontrava coberto por paisagens que hoje apenas resistem em locais como este. Aqui, em finais do século XIX e início do século XX, os Serviços Florestais foram reflorestando, resultando no bosque que hoje nos maravilha.
Por entre o murmurar do Maceira e do Homem tentamos escutar o menor som que nos diga que não estamos sós na nossa solidão por entre este mar de verde e de algumas árvores caídas. A floresta vai evoluindo como os entendidos desejam, mas começa a pedir uma intervenção mais cuidadosa perante o risco de um propositado abandono.
Ao caminhar, deseja-se ter um vislumbre de uma corça, o rosnar zangado de um javali ou o cantar de um pássaro mais tímido. Em silêncio, abrimos os olhos e de repente, pelo canto do olho, parece termos visto um pequeno duende ou uma fada que se esconde por entre um tronco caído de um velho carvalho ou se encobre sobre o espesso musgo que tapeteia as rochas dispersas pelo chão húmido do bosque...
À medida que o caminho sobe, a paisagem vai-se transformando. Agora vêem-se os altos que reinam sobre o vale que se afunda para a Albergaria, e atrás de nós, a Serra Amarela vai ganhando corpo por entre a folhagem. Com a vegetação muito fechada, toda a atenção é pouca para não perder de vista o carreiro que nos conduz por entre grandes rochas, pequenas chãs e pequenos bosques que dão um cenário muito especial a este percurso.
Antes de chegar ao Alto de Bargiela, encontra-se um tímido muro de pedra solta que delimita aquilo a que se chama os "Terrenos do Mourinho". Curiosamente, esta área foi a razão de uma disputa entre os habitantes do Campo do Gerês e os Serviços Florestais que os incluíram no interior do perímetro florestal do Gerês, um tema a que em breve irei dar a devida atenção neste blogue.
Chegado à Chã de Bargiela (Curral de Bargiela), com o seu abrigo pastoril alagado e onde há muito um imbecil roubou a placa identificativa do local, surgem duas opções: ou descer para a estrada através do Colado Seco e Costa de Bemposta ou prosseguir na direcção do Curral do Mourinho. Decidi-me pela segunda opção e segui para o Curral do Mourinho.
Já numa anterior caminhada por este percurso, havia notado que muitas pequenas árvores encontravam-se partidas como que a abrir ou assinalar caminho. Desta vez, notei que, além de algumas setas pintadas nas rochas, alguma vegetação estava cortada.
Deixando a Chã de Bargiela, segui pelo topo da Corga de Vale dos Porcos e após chegar a uma larga chã, passava para o topo da Corga de Mourinho, seguindo depois para o curral com o mesmo nome. A parte final do percurso em direcção à Portela de Leonte, levou-me pela Manga do Mourinho e Cancelo, descendo depois para a Portela de Confurco e finalmente o caminho florestal até ao ponto de partida, mas passando pelo Curral de S. João do Campo.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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