quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Um nada bruxuleante


Lentamente vai chegando tomando conta de mim enquanto o horizonte anuncia um novo dia...
Contemplo o último nascer do Sol como sendo a beleza dos dias que não tive
A aurora transmuta-se numa paleta de cores em dias cinzentos
E o corpo adormece, finalmente em paz
Não mais sinto o cheiro da terra molhada
Ou o leve toque das folhas d'Outono
Não mais sinto o frio da montanha
Ou o clamor das luas d'Inverno
Não mais escuto o som do rio
Ou o uivo do lobo solitário
E pela aurora a eterna noite vai chegando
Com os seus lençóis de terno veludo
Ela toca-me com dedos de cetim
Sinto o seu ternurento aconchego
E nos seus braços, à luz do seu doce sorriso
Adormeço embalado pela sua secreta melodia
Penumbra e escuridão
Teias de solidão nascem por todos os lados
A eterna noite chega... em paz.
Silêncio...
Entre a passagem do tempo
Navego nas colinas ondulantes da saudade
Desagrego-me em folhas de escrita e palavras açoitadas pela leve brisa dos dias... fui a ruína que resistiu
E nas memórias do tempo surge uma pausa... de novo, silêncio!
...levo as minhas mãos ao rosto e sinto o frio e áspero passar dos anos nas rugas da minha pele
Algo transcende a luz e todas as outras coisas
E a sua própria existência
Fui...
...como a primeira luz da manhã
...como o luar numa noite de Inverno
...como uma brisa numa noite quente de Verão
...como a água que me saciou a sede
O último pensamento, todos os dias... desde sempre.
Sou...
...um nada bruxuleante...

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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