segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Minas dos Carris – um não-paradigma da conservação arqueológica


«Perdidas» nos imensos espaços serranos do Gerês, as ruínas das Minas dos Carris representam hoje um belo exemplo do que não se deve fazer em relação à preservação de um valioso património mineiro que somente uma execrável ganância ambiental conservacionista, incompreensivelmente mal planeada ao longo de décadas pode explicar.

Tal como a Dra. Maria Otília Pereira Lage referiu no contexto do primeiro plano de ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês, “a sua localização no interior de uma área protegida com um estatuto muito restritivo de visitantes, faz com que as evidências da actividade mineira que ainda existam, possam e devam ser preservadas, particularmente no que respeita aos testemunhos imóveis.”

A preservação já por tantas vezes apregoada por académicos seria da responsabilidade do Parque Nacional da Peneda-Gerês, entidade com a suprema responsabilidade na preservação e conservação do património natural e humano. Porém, desde o encerramento das minas absolutamente nada foi feito nesse sentido e aquele local sempre foi visto com ignorantes «maus olhos» por parte de muitos dos técnicos daquela instituição, constituindo assim um dos muitos não-paradigmas da preservação arqueológica nacional.

Nos nossos dias, as ruínas das Minas dos Carris são a tela do vandalismo e o cenário da destruição devido a diversos factores. Aquele é simplesmente um espaço esquecido, deitado ao abandono e já para lá do limite do irrecuperável.

Por muitas vezes alertei para a necessidade de se conservar um património histórico tendo mesmo no debate público do Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês, dado a sugestão de se criar um trilho interpretativo que, à semelhança do que é feito, por exemplo, no Parque Nacional dos Picos da Europa – Astúrias, Espanha – possa servir de referencial histórico e memória das vidas passadas nas escuras galerias que em tempos ganharam o sustento de muitas famílias. A utilização e recuperação de um dos edifícios mineiros como abrigo de montanha poderia ter uma dupla utilidade: por um lado na promoção de um contacto mais directo e responsável com o Parque Nacional e por outro perpetuar a memória daquele lugar.

Adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", Rui C. Barbosa - Dezembro de 2013

Fotografia © Rui C. Barbosa

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