Sabemos que em relação ao interesse conservacionista e de preservação da memória histórica, as Minas dos Carris receberam muitíssimo pouca atenção por parte do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Vistas desde o início desta área protegida como um ponto negro a ser eliminado, terão surgido ao longo dos mais de 40 anos de PNPG, uma ou duas iniciativas de índole pessoal por parte dos directores desta área protegida em se avançar com algum tipo de preservação do complexo mineiro e espaço circundante.
Uma destas iniciativas passava pela recuperação do antigo carreiro que a partir da Água da Pala, percorre o Vale do Alto Homem até às proximidades das minas. Na altura, o projecto baseava-se no facto de que o limite da Área de Protecção Total era estabelecido pela margem esquerda do Rio Homem naquele vale e assim a recuperação daquele percurso faria com que os potenciais visitantes não violassem a zona de protecção total.
Também numa certa altura um dos directores chegou a considerar a possibilidade de se proceder à recuperação dos edifícios mineiros, transformando o local numa zona de lazer. Ambos os projectos nunca viram a luz do dia e o complexo mineiro foi deitado ao abandono e decadência. Uma zona industrial em plena Serra do Gerês que já reclamou vidas humanas e onde não se encontra qualquer aviso de segurança para os mais distraídos.
As Minas dos Carris representam um momento histórico na Serra do Gerês. A sua importânia é sublinhada todos os dias por este blogue e pelo livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", cuja edição está esgotada.
Atestando o verdadeiro impacto da mineração levada a cabo no Século XX na Serra do Gerês, e em particular nas Minas dos Carris, está a verdadeira dinâmica populacional originada por esta indústria. Muitos daqueles que trabalharam nas minas eram provenientes dos lugares e aldeias nas imediações ou nas faldas serranas, e ainda hoje estão cravadas nas memórias dos netos as histórias contadas pelos seus avós que referem os árduos dias passados no alto da serra numa vida de sobrevivência e tempos difíceis. Assim, não haverá núcleo habitacional no Gerês que não tenha tido alguém que trabalhou nas Minas dos Carris, na mineração no Borrageiro ou em pontos isolados da Serra do Gerês. Estas dinâmicas populacionais só teriam paralelo nos períodos que equivalem às construções dos grandes projectos hidroeléctricos da Paradela, Salamonde e Caniçada.
No seu livro “O Gerês – de Bouro a Barroso” , a Dra. Maria Fernanda da Silva apresenta os dados obtidos dos baptismos a partir do levantamento executado nos Livros de Registo Paroquiais entre 1900 e 2000. Nestes, são notáveis os aumentos verificados entre 1924 e 1936 / 1946 tanto na freguesia de Cabril como na freguesia de Vilar da Veiga, com a autora a referir que “o aumento do número de baptismos em território vilaveiguense coincide com a expansão do termalismo sazonal e, entre 1935 e 1950, a extracção do volfrâmio nas Minas dos Carris.” É óbvio que este aumento não está somente associado à exploração mineira na Serra do Gerês, tendo as Minas da Borralha um efeito substancial nos valores resultantes. Da mesma forma, regista-se um aumento substancial nos baptismos entre 1948 e 1961, período da construção das grandes barragens mas que engloba também a segunda fase de exploração mineira dos Carris.
Fotografias © Rui C. Barbosa
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