quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Geologia do maciço da Serra do Gerês e o jazigo filoniano dos Carris


Os caprichos da tectónica de placas fizeram com que no início do Carbonífero, há cerca de 350 milhões de anos (Ma), a Europa Ocidental se situasse numa zona de colisão de duas enormes massas continentais, a Gondwana (a Sul) e a Laurrússia (a Norte). Esse acontecimento gerou aquilo que hoje é conhecido como orogeno Varisco (também dito Hercínico), uma antiga cordilheira montanhosa, hoje totalmente irreconhecível do ponto de vista geomorfológico. A fase de colisão do orogeno, responsável por um aumento do espessamento da crusta na região, ficou registada nas rochas através de estruturas dúcteis geradas em diferentes fases de deformação (D1, D2 e D3). Posteriormente, o orogeno entrou em descompressão, exumação e adelgaçamento crustal, ficando sujeito a um regime de deformação frágil. Foi nessa altura que foram gerados, em profundidade, os granitos do maciço Peneda-Gerês, cristalizados a partir de um magma oriundo do manto terrestre, com forte contaminação de material da crusta (Neiva, 1993; Mendes e Dias, 2004).

O maciço granítico da Serra do Gerês ocupa uma área de cerca de 40 x 20 km (repartida por Espanha e Portugal), e de acordo com Mendes e Dias (2004) compreende seis fácies de granitos de cor clara, com não mais do que 10,5 % de minerais escuros, das quais duas ocorrem na área dos Carris. A de maior representatividade é um granito de grão médio a grosseiro, porfiróide, biotítico e de tonalidade rosa claro, que foi datado por Mendes (2001) pelo método do U-Pb em 296 ± 2 Ma, sendo conhecido como granito do Gerês. A outra fácies, denominada granito dos Carris, é de grão fino, biotítica e levemente porfiróide, tendo sido datada por Dias et al. (1998) em 280 ± 5 Ma; ocupa uma área inferior a 5 % da área do granito de Gerês. O maciço é bordejado por um complexo granítico-migmatítico e por granitos, ambos síncronos com D3 (~310-320 Ma), por granitos instalados tardiamente em relação a D3 e por metassedimentos (xistos) de idade Silúrica.


Trata-se de um jazigo de quartzo intragranítico circunscrito a duas zonas deformadas (corredores de cisalhamento) verticais, de direcção aproximadamente N-S, separados 200 m. O de maior extensão, denominado na gíria mineira, filão Salto do Lobo, tem cerca de 1500 m de comprimento; o outro, denominado filão Paulino, tem cerca de 600 m. Cada um destes alinhamentos tem uma espessura média de 1-2 m e é composto por um conjunto de estreitos filões de quartzo, normalmente 6 a 8, preenchidos com quatro minerais com interesse económico, volframite [quimicamente (Fe,Mn)WO4, sendo o mineral mais abundante], scheelite (CaWO4), molibdenite (MoS2) e cassiterite (SnO2). O estudo metalogenético do jazigo foi encetado recentemente (Moura et al, 2011; Neiva et al, 2012, Moura et al., 2013) num estudo multidisciplinar centrado na geoquímica dos minerais, no estudo das inclusões fluidas e em métodos isotópicos (Re-Os para as datações e He-Ar para a proveniência do fluido mineralizante). Os autores identificaram outros 30 minerais no jazigo, dos quais se destacam a pirite e o berilo. A mineralização terá sido formada há cerca de 280 Ma precipitando a cerca de 7 km da superfície a partir de fluidos (H2O+Na++Cl-±CO2±N2) mineralizados a temperaturas de 350-270 ºC de diferente proveniência. A volframite e a cassiterite, depositadas inicialmente, terão resultado de W e de Sn de origem magmática-hidrotermal. Mais tarde terá havido a percolação de fluidos oriundos da superfície, responsáveis pela deposição de scheelite e dos sulfuretos. Tal como o magma que originou os granitos do Gerês também parte do fluido hidrotermal terá tido uma componente oriunda do manto terrestre.

Baseado no texto retirado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", Rui C. Barbosa - Dezembro de 2013, com a colaboração de António Moura, Professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

Fotografias © Rui C. Barbosa

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