terça-feira, 28 de agosto de 2012

A problemática do acesso às Minas dos Carris

Não pretendo aqui discutir o zonamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês e a forma como condiciona o acesso ao complexo mineiro dos Carris, sendo isto o mesmo que dizer 'a forma como condiciona o acesso à zona mais elevada da Serra do Gerês que é a zona à qual não se pode aceder por viatura mas que recebe mais visitantes por ano.'

O caso de uma jovem turista que no dia 23 de Agosto de 2012 foi resgatada nas Minas dos Carris por um helicóptero devido a uma lesão num membro inferior que impedia a sua deslocação por terra, veio novamente levantar dúvidas sobre a forma como o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) geriu e tem gerido o acesso àquela zona montanhosa.

Como é do conhecimento geral, o principal acesso às Minas dos Carris é feito por um caminho que se inicia junto à Cascata de S. Miguel e termina no topo da Corga da Carvoeirinha após percorrer um pouco mais de 9 km através do Vale do Alto Homem. Este caminho foi construído em 1943 pela Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., na altura concessionária das explorações mineiras existentes junto ao marco geodésico de Carris na Serra do Gerês. Ao longo dos anos o caminho serviu para o abastecimento do complexo mineiro, servindo naturalmente para o escoamento do minério obtido nas explorações. O seu estado foi sendo mantido durante os períodos de exploração, degradando-se de forma natural nos períodos em que a exploração mineira estava suspensa.

Com o encerramento do complexo mineiro em 1975, o caminho foi-se degradando sofrendo no entanto duas reparações de monta em princípios dos anos 80 e durante os anos 90. Desde então a degradação foi-se acentuando e a última vez que viaturas terão percorrido o caminho terá sido em Abril de 2007 já com alguma dificuldade. Nos últimos anos a degradação tem sido exponencial e evidente, chegando ao ponto que impedir em certas zonas a passagem de viaturas.

A decisão de deixar a degradação atingir o estado actual foi tomada pelo PNPG certamente tendo em conta as pressões originadas pelo Plano de Ordenamento do PNPG e da sua adesão ao Pan Parks numa tentativa de se conseguir uma área selvagem sem intervenção humana de forma artificial. Esta decisão levou ao estado actual do caminho para as Minas dos Carris.

Nos últimos anos ocorreram várias situações de emergência nas quais foi necessária a intervenção de um meio aéreo para o resgate de pessoas na montanha. Como é óbvio, não é necessário ser um perito na área para se deduzir que este tipo de resgates tem um custo muitíssimo superior ao custo de um resgate que poderia ser feito por terra. No entanto, e como já se constatou, estes resgates são impossíveis devido ao estado do caminho. Assim, uma má decisão tomada em tempos pela Direcção do PNPG tem uma repercussão no futuro que certamente não foi tida em conta.

Quanto custará um resgate de helicóptero? Em tempos ouvi valores na ordem dos €15.000,00 ou mesmo €30.000,00, não estou certo. Da mesma forma, quanto custará o arranjo e a manutenção anual do caminho para as Minas dos Carris? Se este caminho permitisse o acesso de viaturas oficiais e de emergência, o resgate não seria algo mais rápido e mais barato para o Estado? Alguém pode fazer luz sobre estas questões?

É óbvio que tendo um caminho em mau estado é de certa forma desmotivante para muitos daqueles que não tendo apetência para caminhar na montanha o vêm como um elemento dissuasor. Mas esta questão é resolvida pela aplicação do que está estipulado no Plano de Ordenamento do PNPG. Ou pelo menos deveria ser.

Fotografia: © Rui C. Barbosa

6 comentários:

Alice Lobo disse...

Se formos a ver o número de pessoas que até agora necessitaram de cuidados nas minas não justifica os milhões que serão necessários para a construção de todo o estradão. Já não falando do impacto ambiental. Achas mesmo que o estradão se estivesse em bom estado em caso de emergência nas Minas ou naquela zona o transporte indicado seria o veículo? Já agora porque é que nas cascatas de tahiti , uma zona de risco para os visitantes e o custo não seria tão elevado ainda não pensaram em construir uma escadinhas de madeira ?

Rui C. Barbosa disse...

Se tivermos em conta o número de situações ocorridas nos últimos 3 anos nas Minas dos Carris e na zona envolvente, estaria mais do que justificada a reparação do estradão (e além do mais a sua reparação não serviria somente para as situações de emergência podendo ser utilizado em situações de prevenção, por exemplo).

O resgate por terra seria sempre o mais indicado por várias razões e dependendo da emergência. No caso em concreto, accionou-se um helicóptero por causa de uma entorse quando o transporte poderia ter sido feito por terra se as condições o permitissem. O que aconteceria se estivesse mau tempo com chuva e vento forte?

Em relação à zona que se designa por cascatas de tahiti, o acesso é feito por terrenos privados e em violação de propriedade privada. O dono tem tido muita paciência nestes últimos anos em permitir o acesso ao local. De qualquer das formas, e caso se chegasse a um acordo, não vejo porque não se deveria dotar a zona de infraestruturas de apoio aos visitantes.

Baltasar Rocha disse...

- Caro Rui,
- Gostaria de partilhar a minha opinião em relação ao acidente ocorrido no passado dia 23 de Agosto. Será que a jovem que tomou a decisão (penso que de forma livre) de se deslocar para aquela zona do PNPG tomou as devidas precauções em relação ao tipo de trilho que escolheu para percorrer nesse dia? Tentou informar-se acerca das características do percurso (tipo de terreno, distância, desnível, tempo necessário para concluir, grau de dificuldade, etc..)? Será que ao percorrer o trilho não cometeu, ela própria, uma ilegalidade (refiro-me ao habitual trajecto Portela do Homem-Carris, pelo vale do rio Homem)? Será que tentou informar-se, no caso de algo correr mal, quais dos meios disponíveis para um eventual socorro? Como em tudo na vida, tal como numa simples viagem de autocarro numa cidade ou atravessar uma rua a pé, ir às montanhas implica as suas regras. Quem vai aos Carris já devia saber que o único meio de resgate é por via aérea. Caso não queiram correr esse risco, a solução é muito simples, não vão! Há dezenas de outros locais onde se pode usufruir da montanha com relativa segurança, ou pelo menos com uma maior e mais rápida intervenção dos meios de socorro.
- Em relação ao arranjo e manutenção do caminho para as Minas dos Carris, mesmo que a intenção seja unicamente a utilização de viaturas oficiais e de emergência, não achas que o caminho seria imediatamente invadido pelos adeptos do TT a motor? E se isso acontecesse, quais as medidas? Pôr vigilantes a controlar as entradas e saídas de pessoas? Para isso teriam que ser pagos… Pôr uma cancela? Quantas é que já foram propositadamente destruídas por essa serra fora… E os custos? Um eventual arranjo, que na minha opinião seria mais uma espécie de reconstrução total e a respectiva manutenção não custaria meia dúzia de tostões, estamos a falar de milhões! E no tempo em que vivemos…
Um Abraço Montanheiro,
Pedro Durães

Rui C. Barbosa disse...

Viva Pedro,

Como deverás saber as Minas dos Carris são procuradas por aquelas pessoas que usualmente visitam as regiões montanhosas (chamaremos de montanheiros) e por aquelas que pessoas que ouviram falar do local mas que não têm por hábito praticar montanhismo. É fácil distinguir quais os praticantes e os não praticantes. Se por (muitas) vezes os praticantes não respeitam as regras do jogo, o que acontecerá com aqueles que nem imaginam o que é um «zonamento» do Plano de Ordenamento (muito menos saberão que existe um plano de ordenamento) e pensam que um parque nacional é algo parecido com um jardim zoológico.

Como é óbvio, isto não será uma desculpa, mas tudo aquilo que referes não é usual na maioria dos praticantes de montanhismo.

Quem vai aos Carris ou quem sobe ao Vidoal, faz-lo assumindo um risco que sabe existir. Isso não invalida que o socorro exista seja de que forma for, e este será feito de qualquer das maneiras.

Em relação à reparação do caminho para os Carris penso que é explícita a forma como se resolveria a problemática do acesso, i. e. da forma que é hoje resolvida. O acesso é condicionado por uma autorização e caso não haja essa autorização quem não a tem só tem de sofrer as consequências. Essas invasões estão bem definidas na lei do país. Agora se não existe meio de as fazer cumprir, aí o problema já é outro.

Aquele caminho não necessita de uma reconstrução total e as reparações certamente não custariam meia dúzia de tostões. Porém, certamente que o dinheiro gasto nos (pelo menos) três resgates que eu me lembro já terem acontecido de helicóptero, seria o suficiente para cortar a vegetação e colocar uma máquina que fosse capaz de tornar o caminho transitável aos veículos de socorro.

SudEx disse...

De 2012 até hoje, quantos mais resgates, quantos mais Bombeiros GIPS e Proteção Civil ali andaram atrás de incautos "passeadores de montanha" munidos de Fato de Treino e All Stars .... ?

Se o caminho estivesse melhor, haveria mais "passeadores" ? Possivelmente...
mas os resgates, seriam menos e mais simples ? Seguramente !

DNogueira

SMota disse...

Caro Rui,

A falta de visão dos nossos políticos e gestores dá nisto. Em Espanha, Itália e França, abriram-se estradas para criar novas rotas para o ciclismo que depois atraem ciclo turistas, para a Vuelta, Giro e Tour. Em Portugal só se olha para as praias, não se aposta no turismo no interior. Depois vemos políticos a falar do problema da desertificação do território.
Seria uma estrada muito bonita para o clico turismo. E melhor seria se tivesse continuidade até Pitões. Podiam apostar num observatório, num pequeno albergue, aproveitar a lagoa. Um parque natural não tem de ser apenas calhau e aqueles edifícios em ruínas, ambientalmente falando ficam pior assim do que arranjados. O Parque Natural deveria gerar receitas para depois investir na manutenção do espaço (plantar árvores, desmatar para prevenir incêndios).
Para evitar o TT só tinham de fazer a estrada em calçada grossa de granito. Custa +/- 35€/m2. Mais encaminhamento de águas conte com um 1,2 milhões de euros. Depois parece-me que há ali umas zonas que necessitam de estabilização.
Mas deixo o exemplo de onde se enterram fundos comunitários do POSEUR http://www.cm-tvedras.pt/artigos/detalhes/protecao-costeira-das-praias-formosa-e-azul/
Deveriam tentar uma candidatura para fazer algo ali.