segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Formar, é preciso...

Já por várias vezes alguns leitores me têm enviado algumas referências relativamente à forma como são informados na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

O caso que se descreve a seguir, onde achei por bem proteger a identidade dos intervenientes, é clarificador sobre a formação que foi dada a pelo menos alguns dos jovens que se encontram nos postos de controlo e de cobrança das taxas de acesso à Mata de Albergaria. Este assunto já havia sido levantado em parte a quando do acidente ocorrido com um ciclista na estrada nacional. Na altura foi referido que a selecção dos jovens obedecia a certas regras e que após a selecção estes tinham uma formação em várias áreas. Parece no entanto que a formação sobre o objectivo da sua presença naqueles postos e a formação sobre o diferente zonamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês ficou um pouco aquém do pretendido.

Transcrevo então o email que me foi enviado por uma utilizadora usual do PNPG... Cada um que tire as ilações que achar convenientes...

"Sábado, 25.08. 2012, 19 horas, perto do final de mais um dia maravilhoso no PNPG, que nos levou desde Campo do Gerês ao Pé de Cabril, seguindo pela Varziela e descendo até à ponte do Maceira. Seguiu-se toda a Mata de Albergaria, e os seus belíssimos verdes e o brilho do sol nas águas da barragem, até ao nosso destino final, Campo do Gerês.

Já perto da casota das taxas brincámos uns com os outros sobre se nos aplicariam também a nós alguma taxa... quando nos aproximámos dos funcionários (...) de serviço à casota, apercebi-me que a funcionária tinha ouvido a nossa brincadeira e participou dela dizendo que iria cobrar 1,5€ por cada perna... gerou-se ali uma convivência simpática, até que eu digo que as nossa duas pernas estão bastante cansadas porque naquele momento já deviam ter uns 18 km em cima. Foi aí que a conversa se estragou e começa o diálogo (...)

-Nem me digam de onde vêm, porque se andaram esses km todos vêm de uma zona proibida. Eu não ouvi nada, melhor não ter ouvido nada. É melhor nem dizerem de onde vêm.

Franzi, mentalmente, o sobrolho e apressei a minha gente frisando o tarde que era. Mas alguém disse que vinhamos do Pé de Cabril.

-Pé de Cabril??? Proibido, zona de protecção total...

Alguém do grupo tentou fazer um esclarecimento, e falou de Palheiros, isso sim, ZPT, etc. a conversa continua e alastra para os Carris.

- Carris??? Proibido!

Outro do grupo tenta explicar à senhora que os Complexo Mineiro dos Carris não é uma ZPT e que se pode lá chegar por outros sítios, como Pitões, sem estar a infringir as leis. Fala-se nas Minas das Sombras, mas a nossa amiga mais uma vez, toda entusiasmada:

- Minas das Sombras??? Proibido!!!

É tudo proibido....pelo menos para ela...mas curiosamente dentro da área da Mata, por onde tínhamos acabado de passar, e onde é proibido até parar os carros, estavam alguns estacionados e muita gente a tomar banho na barragem, mesmo nas barbas dos funcionários.

Resta acrescentar apenas duas coisas:

- o colega da senhora que, pelo menos durante o tempo em que lá estive parada, tentou contrariá-la , não tendo no entanto produzido qualquer efeito, leva-me a crer que ele estaria mais por dentro do assunto, mas dá uma péssima impressão.

 - a outra, é nota negativa para o ICNF ou que entidade for, que devia dar formação básica (para saberem o que estão a dizer) e condições dignas ao pessoal que contrata para estes serviços. Qualquer estrangeiro que procure informação, se lhe pespegam com este chorrilho de proibições a torto e a direito, fica no mínimo perplexo.

Só para rematar: éramos 9 (sendo que 2 eram crianças), e não precisamos de autorização em zonas tipo I e II, mas quanto a isso não sei se a senhora também sabia tudo."

Fotografia: © Rui C. Barbosa

6 comentários:

joca disse...

É triste, mas acabam por ser estas pessoas que prestam as informações aos visitantes. Eu se um dia apanhar uma destas vou dizer-lhe umas coisas de que não vai gostar. Tenho sérias dúvidas que se lhe pedissem para indicar numa carta qualquer um dos locais referidos o soubesse fazer e por isso até percebo que desconheça o zonamento. Devia era ser mais humilde e não falar do que não conhece. O problema é que a muita gente não se lhe pode dar nem um bocadinho de responsabilidade, porque, em vez de perceber os deveres que lhe estão associados, ficam embriagados com a sensação de "importância" destes pequenos poderes. O caso relatado é um exemplo de pura embriaguez de "autoridade".

Pxaranha disse...

Calma amigos!
Às vezes a nossa amiga 'flor galega' tira-me do sério!
Eu estava lá no meio desses 9 visitantes e lá fiquei a falar com a menina da portagem sobre o que pode e não pode ser visitado.
Não vi nenhuma atitude de prepotência da miúda ('hermana' galega, já agora) que até dizia ser 'proibido' com um sorriso no canto da boca.
É certo que deu umas quantas calinadas nas informações, mas não é autoridade para multar ninguém.
Também temos de entender que o pessoal do ICNF não é nenhum bicho-papão e a intenção final é proteger a natureza da invasão humana (veja-se também os casos da tal miúda do entorse no pé nos Carris, a tal senhora que caiu no Tahiti e um tal homem que caiu e faleceu nas Fisgas do Ermelo neste sábado passado). Cabe a cada um ler e entender o POPNPG e respeita-lo dentro do possível, senão cada um faz o que lhe apetece e lá se vão todos os valores naturais que caracterizam o PNPG. Formar é realmente preciso e a miúda dizia ter formação do PNPG, mas calinadas toda a gente as dá!
Além das calinadas principais que foram definidas como lei por um conjunto de indivíduos de gravata em Lisboa, os quais nem sabemos se alguma vez puseram os pés no PNPG, o que o pessoal tem de fazer é usar bom senso e ter respeito pela natureza e pelas adversidades do meio.
Alguém tem de manter a integridade da natureza e cabe ao pessoal ICNF a tarefa de zelar por ela.
Ou alguém acredita que vai ser com boas intenções que o parque se vai manter integro?

Rui C. Barbosa disse...

Só duas pequenas notas...

"É certo que deu umas quantas calinadas nas informações, mas não é autoridade para multar ninguém," não, não é autoridade para multar, mas estando na posição que está pode informar mal quem visita o PNPG e esta questão é importante e foi já sublinhada

"Também temos de entender que o pessoal do ICNF não é nenhum bicho-papão," na posição que ocupa ela não é funcionária do ICNF. Foi seleccionada a partir de um grupo de jovens e recebeu formação para o trabalho que faz. Usam os coletes do ICNB, mas não sao funcionários do instituto.

"Formar é realmente preciso e a miúda dizia ter formação do PNPG, mas calinadas toda a gente as dá!" é certo, mas o pior é dar calinadas e pelos vistos não assumir os erros... e isso é mau.

"Além das calinadas principais que foram definidas como lei por um conjunto de indivíduos de gravata em Lisboa, os quais nem sabemos se alguma vez puseram os pés no PNPG," o POPNPG não foi definido por indivíduos em Lisboa. Foi escrito pelos técnicos do parque nacional.

Pintar a macaca disse...

Pois, mas quem quiser informação detalhada sobre o PNPG vai às portas do parque! Ou procura na net, ou envia mail para os serviços do parque, os quais tanto são o ICNF (regulamentação e fiscalização) como a ADERE (turismo e desenvolvimento local)! O ICNF só regula e aplica a defesa da natureza, não é entidade responsável pelo turismo! Quanto ao saber por onde se pode e não se pode andar, não vai ser num posto de portagem que vamos definir isso!

Ela disse que tinha formação ICNB (antes do F das Florestas!) e vestia coletes do ICN. Agora, a portaria 31/2007 de 7 de Janeiro define o ICN como entidade cobradora da tal taxa automóvel. Se ela não é funcionária ICNF, esse é um erro a criticar, mas não me parece ser o caso. Só quando virmos a situação contratual é que podemos confirmar o caso. No entanto... para cobrar 1,5€ não será preciso ser-se doutor! Era o cúmulo!

As calinadas foram o que eu chamo 'fogo de juventude'. Queria 'mostrar' serviço e abriu demais a boca. E de certeza que eles têm instruções 'off-record' para 'despachar' o pessoal para longe do parque. Conforme os casos apontados antes (turistas acidentais e acidentados) eu percebo o porquê!

O POPNPG foi estudado por uma equipa extra-parque:
http://www.icnf.pt/NR/rdonlyres/5FDAD229-ABBE-40BF-8918-4B5B85B53DC3/0/FICHATECNICA_INDICEGERAL.pdf

Neste PDF , na página 3, não é indicado nenhum elemento como funcionário do parque, logo, não temos prova que sejam os funcionários que definam as linhas mestras.
Mas numa das minhas próximas reuniões com os funcionários lá tirarei isso de dúvida.

O que sei por indicação 'off-record' é que nem tudo o que foi enviado lá para baixo foi tido em consideração. Daí existirem lacunas e vazios de interpretação no POPNPG. Estamos de acordo que os Carris deviam ser ZPP 1 e como tal, visitáveis até 10 indivíduos.
Mas que é sempre o pessoal da gravata que faz o 'lodo' final, lá isso é!

Digo e repito o mesmo: o pessoal do ICNF não é nenhum bicho-papão e só aplica o POPNPG!
Que há falhas e certos fundamentalismos escusados no POPNPG, isso também o digo e é verdade. Basta comparar com as realidades aqui ao lado nos Picos de Europa, Gredos, Pirinéus, etc. Cabe-nos ver (e comunicar lá para baixo, se possível) o que vai ser redefinido por estes indivíduos responsáveis pela gestão do país.

Rui C. Barbosa disse...

"Pois, mas quem quiser informação detalhada sobre o PNPG vai às portas do parque!" como será óbvio a toda a gente, porém não é esse o caso que está aqui em discussão e isso pareceu-me claro. Estamos de falar de informações erradas dadas por pessoas que se querem passar por funcionários do ICNF, coisa que não o são. Por isso, não vamos aqui misturar assunto diferentes. Ninguém disse que o ICNF é responsável pelo turismo (apesar de ter uma palavra na sua regulamentação na sua área).

Os jovens que trabalham nos postos de cobrança são seleccionados no conselho pela CMTB. Participam num programa semelhante ao OTL. Nâo são funcionários do ICNF, isto é, do Estado.

"No entanto... para cobrar 1,5€ não será preciso ser-se doutor! Era o cúmulo!" sem dúvida uma declaração dentro do contexto. Qualquer pessoa que participe em qualquer trabalho recebe uma formação. A quando do acidente com o ciclista na Albergaria chegou-se a dizer que os jovens até formação em socorrismo teriam (coisa que eu duvido!)

"E de certeza que eles têm instruções 'off-record' para 'despachar' o pessoal para longe do parque" de certeza mesmo? É que nunca ouvi algum comentário a respeito de uma instrução desse tipo.

"O POPNPG foi estudado por uma equipa extra-parque"... de certeza?? Ora vamos lá ver... Adolfo Macedo é jurista no PNPG; Henrique Regalo é arqueólogo no PNPG (organizou comigo uma exposição sobre as Minas dos Carris); Cristina Machado e Maria do Céu Osório são técnicas do PNPG; Jorge Dias é Engenheiro Florestal no PNPG (foi antigo Director do Parque Natural de Montesinho); Carla Rodrigues era à altura funcionária no PNPG vinda da ADERE Peneda-Gerês; Ana Pinto é funcionária do PNPG. Chegam? Portanto, não vamos falar daquilo do qual não sabemos ou temos a certeza.

"Estamos de acordo que os Carris deviam ser ZPP 1 e como tal, visitáveis até 10 indivíduos" Carris, marco geodésico ou Carris minas? É que Carris marco geodésico a Norte é ZPT; Carris marco geodésico a Sul é ZPP1; Carris minas é ZPP! Logo pode ser visitado até 10 pessoas sem autorização. Porém o problema não são as Minas dos Carris - o problema é como lá chegar!!!! O Vale do Alto Homem é todo ele a partir da árvore caída (!!!) ZPP, terminando esta na curva do caminho quando este entra na Corga da Carvoeirinha!

Não é necessário ser 'off-record' porque já toda a gente sabe que o POPNPG acabou por ser alterado em Lisboa. O POPNPG e já agora para que toda a gente saiba, o ICNB (na altura) fez tábua rasa das opiniões dos técnicos (do PNPG e não só) sobre a Portaria 1245/2009 e da Portaria 138-A/2010.

"...o pessoal do ICNF não é nenhum bicho-papão e só aplica o POPNPG!" mas só tem mais é que aplicar o plano senão o patrão indica-lhes a posta da serventia. Mai' nada!

Rui C. Barbosa disse...

Uma correcção... Carris, marco geodésico ou Carris minas? É que Carris marco geodésico a Poente é ZPT; Carris marco geodésico a Nascente é ZPP1; Carris minas é ZPP1 logo pode ser visitado até 10 pessoas sem autorização. Porém o problema não são as Minas dos Carris - o problema é como lá chegar!!!! O Vale do Alto Homem é todo ele a partir da árvore caída (!!!) ZPP, terminando esta na curva do caminho quando este entra na Corga da Carvoeirinha!