domingo, 19 de abril de 2009

Nas terras altas de Xertelo (I)

Minas do Borrageiro, 18 de Abril de 2009

A concentração dos participantes na actividade 'Viagem às Terras Altas de Xertelo' deu-se às 6h30 em Braga rumando pouco depois em direcção à aldeia de Xertelo onde teria início a caminhada cujo objectivo era atingir o local da antiga mina do Castanheiro. Porém, tal como estava previsto, as condições atmosféricas não eram as mais indicadas para um percurso seguro pela Serra do Gerês e após se conferenciar entre todos os participantes, foi decidido se optar pelo percurso alternativo que nos levaria a passar pelas Lagoas do Marinho e atingir as Minas do Borrageiro.

As nuvens e o nevoeiro com breves espreitadelas do Sol, sempre nos acompanharam ao longo da manhã proporcionando algumas paisagens únicas apesar de não nos deixarem ver o todo o esplendor da Serra do Gerês no seu estado mais natural.

Depois de sairmos de Xertelo passamos ao largo do Alto do Facho e da Chã de Suzana até atingir o estradão florestal de termina no Porto da Laje. Atravessando as Lajes dos Infernos começamos a subir em direcção ao Alto da Surreira do Meio-Dia até atingir a Roca Alta. Aqui dirigimo-nos para o abrigo das Lagoas do Marinho onde retemperamos forças. Com o estômago mais aconchegado e a alma aquecida pelo convívio entre todos, prosseguimos até ao nosso objectivo, as místicas Minas do Borrageiro. Local de centenárias explorações de volfrâmio, estas minas encontram-se cravadas á sombra do Borrageiro. Com uma meia dúzia de casas em ruínas, a mina traça uma perigosa cicatriz na Serra do Gerês marcada por grandes escombreiras.

O primeiro documento para assegurar os direitos de exploração da zona de Borrageiros é enviado à Câmara Municipal de Montalegre por José Frederico Lourenço da Cunha, 32 anos, a 18 de Setembro de 1916. A concessão da Mina de Borrageiros é posteriormente tomada por endosso por Paulo Brandt, suíço de 37 anos, e António L. Cunha, de 43 anos, a 18 de Setembro de 1916. A 4 de Outubro de 1919 Alberto Augusto Pinho Vieira é proposto para Director Técnico da Mina de Borrageiros. A mina atinge o máximo de produção em 1941 com 63.891 kg. A galeria tem um comprimento de 90 metros e poço uma profundidade de 20 metros.

A Mina do Borrageiro encontra-se abandonada desde 21 de Abril de 1972. A Concessão é requerida pelo Eng. Adriano Fernando Barros a 10 de Maio de 1979 e um despacho de 24 de Julho de 1979 autoriza a nova atribuição por negociação directa com o interessado pela concessão. A atribuição seria para a Sociedade PROMINAS – Geologia e Minas, Lda. que fora constituída a 9 de Agosto de 1979. A 5 de Maio de 1980 a PROMINAS solicita a concessão da mina 949 e propõe o Eng. Adriano Fernando Barros como Director Técnico. O alvará de concessão é publicado no Diário da República n.º 253 IIIª Série de 31 de Outubro de 1980. A 4 de Março de 1981 a PROMINAS comunica ao Parque Nacional da Peneda-Gerês uma proposta de acordo para a concessão da Mina do Borrageiro. A 15 de Junho de 1981 o Parque Nacional da Peneda-Gerês não autoriza a abertura de um estradão. Uma reunião com o Director do Parque Nacional da Peneda-Gerês é levada a cabo a 25 de Agosto de 1981, mas a decisão da área protegida mantém-se. O abandono irrevogável é solicitado a 28 de Abril de 1989.

A caminho da Mina do Borrageiro depois de sairmos do abrigo as condições atmosféricas pioram de forma substancial e a chuva começa a fazer-nos companhia à medida que o nevoeiro vai tomando conta da paisagem, tornando-a turva em tons de cinza e pontilhada com o branco da neve que ainda pinta os topos serranos do Gerês. Após uma breve permanência na Mina do Borrageiro decidimos então iniciar a caminhada de regresso a Xertelo. Descendo em direcção ao Couce todo o cuidado era pouco pois o granito tornara-se escorregadio e traiçoeiro. Passando ao largo do abrigo das Lagoas do Marinho e da Roca Alta, seguimos pelo longo estradão muitas vezes acompanhados de chuva. Atingimos Xertelo pelas 18h00 com o Sol a querer forçar a passagem por entre as nuvens sobre Cabril.

No final contamos histórias, fortalecemos amizades num jantar no restaurante do complexo de apartamentos de Vale de Azereiros (http://www.valeazereiros.com/) nas Caldas do Gerês.

Fotografias: © Rui C. Barbosa

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