quinta-feira, 10 de julho de 2008

PNPG, PAN Parks e Carris

Carris, 8 de Julho de 2008

Partindo da sugestão do leitor Miguel Borges num comentário a uma entrada neste blogue no passado dia 19 de Junho, gostava de poder conversar com os restantes leitores acerca da entrada do Parque Nacional da Peneda-Gerês para a rede PAN Parks.

Vou começar por definir o que é um PAN Park utilizando um texto publicado pelo ICNB a 20 de Junho de 2008:

"O PAN Parks é uma iniciativa inovadora que visa a criação de uma rede das melhores áreas naturais, do Árctico ao Mediterrâneo. Fundada pela WWF, a fundação sem fins lucrativos PAN Parks tem como objectivo aumentar o conhecimento e ajudar a proteger algumas das mais importantes áreas naturais na Europa.

(...)

Entre os requisitos imperativos para a adesão de uma área protegida à rede PAN Parks destacam-se:

- Possuir uma área não inferior a 20.000 ha;
- Integrar uma wilderness zone (zona sem intervenção humana) com uma área mínima de 10.000 ha;
- Desenvolver uma política de gestão da visitação (plano de gestão de visitantes); e
- Programar, implementar e monitorizar uma estratégia de desenvolvimento do turismo sustentável.

Com a certificação PAN Parks é de esperar um incremento substancial do afluxo de turistas estrangeiros (nomeadamente do norte da Europa), pois irá permitir integrar o PNPG no roteiro dos grandes operadores turísticos especializados em turismo de natureza. Resulta, ainda, outro aspecto verdadeiramente importante que é a possibilidade de consolidar a estratégia deste Parque Nacional de se manter uma zona de Ambiente Natural sem qualquer intervenção humana, a qual poderá ser um verdadeiro banco de ensaio para se testar a sucessão ecológica, implementando o conceito de wilderness em Portugal. Acresce que a certificação PAN Parks é também uma certificação da gestão da área protegida. Como tal, pretende-se estabelecer uma bitola que idealmente se poderá estender a toda a Rede Nacional de Áreas Protegidas, servindo de benchmarking para a gestão que o ICNB leva a cabo nessa rede."

Com estes requisitos, pelo menos 14,2% da área do PNPG será dedicada à zona PAN Park. Sou sincero e digo que não tenho noção a que correspondem 10.000 ha. Por outro lado, sendo o Homem um elemento secular dentro da área do PNPG, mesmo na sua zona de ambiente natural com toda a sua protecção total, não consigo visualizar que área poderá ser designada de PAN Park e a única que me ocorre será a zona na Serra Amarela entre o Muro e a Portela do Homem (apesar de mesmo aqui podermos encontrar zonas com intervenção humana).

Na Serra do Gerês existem espaços amplos onde a intervenção do Homem é mínima (será que os trilhos também contam?), e esta é uma montanha que recebe inumeras visitas ao longo do ano.

Com os requisitos estabelecidos para o PAN Park, penso que a zona de Carris está excluída dessa área. Aqui, a intervenção humana foi muito forte e parece-me que a actual política do PNPG é deixar todas aquelas estruturas se detriorarem até ao ponto em que não sejam recuperáveis. Não querendo ser péssimista, penso que no futuro Carris voltará a ser um lugar com uma paisagem sem a memória do passado. Se por um lado isto é positivo, por outro perde-se a oportunidade de se criar estruturas de apoio aos visitantes que certamente irão aumentar pelo motivos referidos no texto do ICNB (porém, esperamos nós que não se transforme o PNPG num novo Algarve somente destinado aos turistas no Norte da Europa...).

Foi uma entrada simples... se quiserem está aberta a discussão...

Fotografia: © Rui C. Barbosa

4 comentários:

MEDRONHO disse...

Quando saiu essa notícia... falava que a SERRA do GERÊS não tinha "tamanho" para entrar nesse projecto...E por isso teve que se alargar ao XUREZ. Será uma cooperação dos dois lados da fronteira...Onde...os Carris fazem parte. Acho!
Não estou a ver um risco no mapa a contornar os Carris...

Entramos numa mentalidade que TUDO tem que dar LUCRO. Vejam o que se passa actualmente no PNPG. As empresas podem "passear" no "parque", os caminheiros que gostam e vão para lá TODO O ANO..são preseguidos, e ou impedidos.

é a vida...dura!!

Rui C. Barbosa disse...

Humm, isso é um pouco estranho pois o anuncio do ICNB diz que o PNPG é a primeira área protegida da Península Ibérica a entrar para a rede PAN Park. A informação que tive apontava para que somente uma parte da Serra Amarela fosse considerada para essa área. Por outro lado, a zona da Serra do Xurez encontra-se muito humanizada... penso eu de que!

Jorge Nogueira disse...

Um dia vamos dizer que temos uma Serra muito bonita em Portugal, mas que ninguém a pode ver, nem usufruír da sua beleza :) Vamos esperar para ver!

P.S. As empresas de Animação Turística, pagam uma taxa anual da ordem dos 300 a 600€, para poderem organizar as suas actividades, mas estão sujeitos, como nós, às restrições e às condicionantes do PNPG!De facto é lucro!
Eu costumo enviar um mail, dirigido ao Director, do PNPG a solicitar autorização para realizar as actividades do EC/DC, até hoje ainda nunca me disseram NÃO! Se quiserem posso dar-vos o modelo!

Abraço

Miguel Borges disse...

Os meus 2 cent. sobre os PAN parks:

Como "naturómano" respeitador, vejo com alguma apreensão a inclusão do PNPG (ou parte dele) na rede PAN.

Parece-me que pode haver um certo estrangulamento à circulação a médio prazo. Se à partida parece um bom princípio (o da gestão cuidadosa dos acessos), creio que o efeito final é o de afastar as pessoas bem intencionadas de poderem deambular respeitosamente pelo parque e abrir espaço *apenas* às empresas de turismo de montanha - que o merecem, desde que no respeito pelas regras.

Depois da certificação inicial será muito fácil ao PNPG cair numa atitude mais repressiva ou menos amistosa para os montannheiros, virtude da falta de fundos - como ilustram alguns exemplos, é mais fácil proibir do que gerir com inteligência.