quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Notas históricas (XXI)

Carris, anos 40

Apesar de por vezes nunca ter merecido muito a nossa atenção, existe uma parte da História recente de Portugal que se mantém mais no domínio dos investigadores mas que ocupa espaços de mito urbano nas nossas memórias. Muitas vezes são temas recorrentes nas nossas conversas as histórias daqueles que enriqueceram com a exploração de volfrâmio. Pessoas que no limiar da pobreza dos restos do nosso império, se viam da noite para o dia com verdadeiras fortunas resultantes da descoberta de volfrâmio. O enriquecer era de tal ordem que surgem as velhas estórias dos que utilizavam as notas de 500$00 para fazerem os seus cigarros.

Claro que não o posso afirmar, mas certamente que em resultado das explorações iniciais de volfrâmio naquilo que viriam a ser as Minas dos Carris, muitos terão vivido essas experiências. Num país onde a PVDE mantinha todos sobre vigilância e onde a pobreza reinava, uns quilogramas de volfrâmio dariam para constituir uma pequena fortuna que se desvaneceria tão rapidamente como surgira.

A fase inicial da exploração do volfrâmio no Salto do Lobo, já depois de terminada a querela entre os dois concessionários originais, foi controlada pela Sociedade Mineira dos Castelos. No entanto o que podíamos encontrar naquela zona seria um pequeno conjunto de edifícios na sua maioria dedicados ao processamento do minério recolhido por dezenas de 'apanhistas' que seriam então pagos pelo seu trabalho.

Em muitas aldeias limítrofes da Serra do Gerês, encontramos ainda velhas histórias daqueles que na penumbra da noite calcorreavam as serras escondidos da guarda em busca do negro minério para o depois vender em Vieira do Minho, na Póvoa do Lanhoso ou em outras vilas que ligação com a cidade de Braga era mais rápida. Outra parte do minério seria também vendida nas Caldas do Gerês que para além de ser a zona termal que todos conhecemos, seria um ponto de comércio do ouro negro em direcção aos grandes centros urbanos.

Transportar o minério pela serra era algo de muito arriscado, tendo pelo receio da guarda, sempre vigilante em defesa dos interesses do omnipresente estado, como pelo medo dos salteadores, sempre à espreita de uma oportunidade.

As condições vividas nas Minas dos Carris seriam paupérrimas e hoje fazem-nos lembrar as melhores cenas de um verdadeiro western americano. Não deixa de ser curioso ter sido esta mesma comparação que me foi referida a quando da primeira descrição que escutei relacionada com as Minas dos Carris.

Fotografia: © José Rodrigues de Sousa

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