quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Os trabalhos dos Serviços Florestais na Serra do Gerês em 1904-1905

 


O ano de 1904/1905 marca uma nova tentativa por parte dos Serviços Florestais de estabelecer o regime florestal nos denominados "terrenos do Mourinho" e nos terrenos contestados do aforamento de Vilarinho da Furna. Note-se que ambos haviam sido compreendidos no interior dos limites do perímetro florestal que havia sido demarcado em 1888.

Para este efeito, o Governo faz publicar em Diário de Governo (n.º 210, de 20 de Setembro de 1904), o seguinte decreto (indicando também uma Nota Cadastral com os limites gerais do perímetro florestal da Serra do Gerês)...



Os limites do terreno do Mourinho são definidos da seguinte forma: ao Sul, caminhando para Norte - Cabeça do Torgo sito na extrema do perímetro florestal do Gerês; Fraga da Roca Gorda, idem; Coucões, idem; Cabeça do Arieiro, idem; Portela do Confurco; Fundo da Corga do Mourinho, sito dentro do perímetro; Cabeço da Azilheira, idem; Portela do Prado Marelo, idem; Portela da Quelha D'reita, idem; Fraga da Portela do Perro, idem; e daí ao limite Sul já indicado do Torgo, sendo a superfície total dos terrenos do Mourinho compreendidos no perímetro calculada em 250 hectares.

Os limites dos terrenos aforados aos povos de Vilarinho da Furna são definidos como: foz do Rio de Mós na extrema Leste do perímetro florestal, seguindo pela estrada Romana até os Marcos Miliários da Cova da Porca, confrontando nestes pontos a Sul com a mata florestal do Gerês, partindo dos marcos miliários para o Norte e confrontando com a mata florestal do Gerês a Nascente segue para o Rio Homem e dali a Chão da Deveza, Cabeço da Pousada, Outeiro Agudo ao sítio denominado 'das Covinhas', Chã das Ovelhas, Chã do Azevinheiro, Curral de Separros, Chã do Corisco e de aí a Chã de Fento e Boca de Fento, estes dois últimos pontos sitos na extrema do perímetro florestal, sendo a superfície total dos terrenos do aforamento compreendidos dentro do perímetro calculada em 850 hectares.

À nota cadastral lavrada no Diário do Governo, segue-se um plano de arborização e exploração a que ficariam sujeitos os proprietários dos terrenos do Mourinho e dos aforados aos povos de Vilarinho da Furna, bem como a transcrição dos artigos do decreto-lei de 13 de Dezembro de 1888, que interessavam aos povos limítrofes do perímetro florestal da Serra do Gerês sujeito ao regime florestal.

Porém, ainda não seria desta vez que se daria a incorporação dos referidos terrenos no domínio florestal, "apesar do decreto e das diligências que se lhe seguiriam depois."

A 18 de Junho é apresentado por parte dos moradores do Campo do Gerês (S. João do Campo) um requerimento, assinado por 17 dos seus representantes, em que é solicitada uma rectificação de extremas com o objectivo de se terminar com os conflitos com o Estado devido à questão do Mourinho. Neste requerimento, são solicitadas certas regalias e são tomados determinados compromissos.

Porém, segundo Tude de Sousa, este requerimento não pôde ser deferido por várias razões, entre as quais "a de que tal documento carecia de autenticidade para completa validade jurídica, se de futuro se desse qualquer questão, por isso que se ignorava por que acto público aquele povo constituira seus representantes legais a determinados indivíduos."

Só em 18 de Junho de 1905, o Estado afixaria os editais a que o decreto de expropriação se referia.

Assim, continuaria sem solução a questão do Mourinho e a do aforamento de Vilarinho da Furna.

A 14 de Setembro de 1904, entrou para o serviço na Serra do Gerês, o regente florestal Tude Martins de Sousa, que serviu como auxiliar e futuro sucessor do regente Carlos de Oliveira Carvalho, então encarregado daquela regência, tendo sido nomeado para o quadro dos Serviços Florestais por decreto de 17 de Agosto de 1904 e colocado no Gerês por portaria de 5 de Setembro (Diário do Governo, 7 de Setembro de 1904). 

Neste ano procedeu-se à limpeza dos maciços dos Vales (Rio Homem), Escuredo, encosta de Leonte, Lage, Vidoeiro, Ponte Feia, encosta da Pereira e Porcas, procedendo-se a reparações nas casas dos guardas na Bouça da Mó (a primeira casa era um barracão de madeira que foi neste ano substituído por paredes de alvenaria - imagem em cima), Observatório (Pereira), Leonte, Vidoeiro, Assureira e Preguiça.

Procedeu-se à reparação do caminho da Albergaria à Bouça da Mó, do caminho no Campo do Capitão-Mór, Assureira e no Rio Homem.

Neste procedeu-se às seguintes sementeiras (hectares):

- Vitureiras e Torgo..........19,50

- Assureira........................7,13

- Encosta da Pereira.........19,63

- Galeana..........................5,00

- Porcas.............................7,00

- Penedo Redondo............22,50

Existem referências à sementeira de 1 hectare de pinus strobus junto do Pontão da Figueira, mas estes nunca lá foram encontrados.

AS sementeiras realizadas na Assureira, Galeana, Porcos e 2 hectares na Encosta da Pereira, foram ressementeiras devido a falhas anteriores ou em clareiras produzidas por incêndios.

Por seu lado, as plantações foram:

Encosta da Pereira

- Cupressus glauca...............430

- Cupressus macrocarpa.......157

- Acacia melanoxilon............67

- Sequoia gigantea................6

- Pseudo-tsuga douglasii......782

- Eucalyptus obliqua............10

- Eucalyptus blobulus..........835

- Acacia floribunda..............16

- Acacia dealbata.................30

- Acer pseudo-platanus........235 (TOTAL, 2568)

Forno Novo

- Quercus pedunculata.........770

- Acer pseudo-platanus........2146

- Robinia pseudo-acacia......345

- Platanus orientalis.............5

- Castanea vulgaris..............148

- Betula alba........................114

- Betula lenta.......................42 (TOTAL, 3570)

Encosta do Vidoeiro

- Betula alba........................72

- Robinia pseudo-acacia......30 (TOTAL, 102)

Assureira

- Eucalyptus obliqua............8

- Eucalyptus blobulus..........14

- Acacia floribunda..............27

- Cupressus macrocarpa......15

- Robinia pseudo-acacia......22

- Platanus orientalis.............2

- Sorbus aucuparia...............6 (TOTAL, 94)

Escuredo

- Fraxinus nigra....................463

Palas

- Fraxinus nigra....................230

Albergaria

- Quercus rubra.....................2073

- Castanea vulgaris................960

- Pinus sylvestris...................8130 (TOTAL, 11163)

Texto adaptado de "Mata do Gerês - Subsídios para uma Monografia Florestal" (Tude Martins de Sousa, 1926)

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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