Regresso à Encosta do Sol percorrendo uma parte da raia, sendo este um dos percursos míticos da Serra do Gerês, proporcionando paisagens únicas em todo o Parque Nacional.
Ao caminhar pelo Vale do Alto Homem olhamos para os píncaros serranos e para as paredes alcantiladas que formam como um corredor de acesso ao interior selvagem do Gerês. Ao caminhar pela raia somos chamados para o passado. Nos nossos dias não nos lembramos de outros tempos nos quais estas paragens eram constantemente vigiadas dos dois lados da fronteira. Eram também por estas alturas nas quais se davam as passagens com o contrabando e muitas fugas desesperadas a salto terão percorrido estes carreiros.
Ao caminhar pelo Vale do Alto Homem olhamos para os píncaros serranos e para as paredes alcantiladas que formam como um corredor de acesso ao interior selvagem do Gerês. Ao caminhar pela raia somos chamados para o passado. Nos nossos dias não nos lembramos de outros tempos nos quais estas paragens eram constantemente vigiadas dos dois lados da fronteira. Eram também por estas alturas nas quais se davam as passagens com o contrabando e muitas fugas desesperadas a salto terão percorrido estes carreiros.
Devido aos acentuados declives, principalmente na fase inicial, este é um percurso que se pode classificar de elevado grau de dificuldade. Partindo da Portela do Homem e seguindo pela estrada nacional em direcção ao Rio Homem, o trilho inicia-se uns 500 metros mais abaixo do lado esquerdo da estrada. Nesta altura do ano a vegetação dificulta um pouco o progresso na subida, mas o carreiro está lá bem definido. Num espaço reduzido, a vegetação vai-se alterar tornando-se mais escassa. Na fase inicial somos presenteados com uma vista sobre a Mata de Albergaria com o olhar a fixar-se no Pé de Cabril. Lá, no fundo, vai ficando a mata e à medida que vamos ganhando altitude, os nossos horizontes alargam-se.
Com a Mata de Albergaria a afundar-se no horizonte, o nosso olhar vai ganhar o Vale do Alto Homem banhado de luz até ao Cabeço do Modorno. A paisagem coloca-nos na nossa escala e a imensidão dos espaços torna-nos silenciosos, até no respirar!
O percurso continua serra acima até atingir a Cruz do Pinheiro, passando ao largo de vários marcos de fronteira que serão quase uma constante até o ponto onde teremos de decidir entre duas opções um pouco mais adiante. A Cruz do Pinheiro não representa o ponto mais alto do percurso, longe disso, e este prossegue por esta altura relativamente afastado do bordo do vale. O caminho aproxima-se deste bordo na Bela Ruiva onde existia um marco triangulado aparentemente atingido por um relâmpago. Deste ponte privilegiado temos uma visão estonteante do vale. Bela Ruiva está em frente da Água da Pala, lá no fundo do vale. É daqui que podemos ver o interior de corgas e vales que nos estão «escondidos» quando subimos o estradão em direcção às Minas dos Carris.
Antes da chegada à Bela Ruiva, de facto muito antes, passamos pelo marco triangulado de Negrelos, local que assinala a «viragem» que se fazia para o Curral da Costa de Negrelos, um dos perdidos de Vilarinho da Furna. A utilização de currais dos dois lados da fronteira era usual para as gentes raianas; tradição de termina com a chegada dos «florestais» e da vigilância mais apertada da fronteira. São séculos de história que se vão ocultando pelos recantos da serra à medida que os caminhos desaparecem, as mariolas se alagam e as memórias se tornam mais turvas e distantes.
Deixando a Bela Ruiva para trás, o percurso chega ao Raio e aqui vai flectir a Norte, voltando novamente para Nascente ao descer para um pequeno vale. Aqui temos duas opções sobre o percurso a seguir: ou continuamos ligeiramente a Norte caminhando quase junto da fronteira seguindo depois em direcção à Laje do Sino; ou enveredamos por um carreiro que nos vai levar pelo bordo do vale em direcção à corga por onde corre a Ribeira da Teixa das Almas (Albas?) que origina a Água da Laje do Sino.
Muitas vezes os nossos percursos são quase decididos na hora, ou naquele instante, mesmo apesar de o termos planeado com antecedência. Pode ser a pura curiosidade ou então um mero desequilíbrio que nos faz optar no momento por passar pelo lado esquerdo da rocha, a verdade é que na altura o percurso transforma-se em algo de completamente novo, apesar de o já termos percorrido anteriormente.
Seguindo mais perto da fronteira, passei pela Pedra Furada e segui em direcção à Laje das Cruzes, mas desta vez não consegui descobrir onde estavam as cruzes que em tempos delimitaram a fronteira e o limite do perímetro florestal da Serra do Gerês estabelecido em 1888.
Toda a zona envolvente da Ribeira da Teixa das Almas (Albas?) foi também palco de sondagens mineiras, mas nunca encontrei qualquer vestígio destas. Curiosamente, aqui encontra-se uma velha vedação à muito abandonada que delimita uma extensa área. Suponho que o seu objectivo tenha sido o de afastar os animais de uma área de estudo, mas pergunto-me o porquê de estas vedações nunca serem removidas pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês após o final destes estudos (o mesmo aconteceu na zona próxima às Lamas da Carvoeirinha a caminho das Minas dos Carris). Esta vedação inicia-se próximo da Laje do Sino e prolonga-se até à corga adjacente ao Outeiro da Meda e na sua grande parte está caída.
A paisagem que temos desde a Laje do Sino é ainda de desolação, após o incêndio que devastou o Parque Natural de Baixa Límia - Serra do Xurés. O contraste entre os dois lados da fronteira é vincado pelas cores primaveris que tapeteiam a Serra do Gerês, em contraste com o cinzento triste que pinta a zona a Norte.
Passando a Laje do Sino, seguimos então para a Portela da Amoreira que fica um pouco depois do Curral da Amoreira, descendo para o Vale do Rio de Vilameá à vista da Mina Mercedes As Sombras. O regresso ao ponto de partida é feito pela interminável estrada florestal que nos levará até perto da Portela d'Home.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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