Começo este texto com uma citação retirada de um artigo de opinião publicado on-line. Todos sabemos, ou pelo menos quem se interessa pela temática, que o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) nasceu e sempre viveu em dificuldades num país onde a preservação do ambiente e da Natureza nunca foi uma prioridade.
No PNPG tenta-se fazer o que se pode numa constante deriva de orientações que vão surgindo com cada nova governação, com cada novo Plano de Ordenamento.
Por isso, quando li o artigo "Parque Temático Peneda-Gerês", de Daniel Veríssimo e publicado on-line no jornal PÙBLICO a 6 de Janeiro de 2022, esperava ler algo de novo por alguém que tivesse, de facto, visitado o PNPG. Infelizmente, Daniel Veríssimo só visitou "...os principais pontos turísticos..." Começamos bem!
Daniel Veríssimo refere ter-se maravilhado com a paisagem, caminhado "...por trilhos, entre cascatas, riachos e florestas..," mas «tem pena de não ter visto» "...cabras montesas e camurças nas zonas acidentadas; corços, veados, cavalos e auroques nos prados dos vales, águias e abutres nos céus e nas escarpas, salmão e truta nos rios e riachos e lobos, linces e ursos..." Infelizmente, só viu pessoas que lutam por viver no território do PNPG, talvez os últimos de uma raça quase extinta, que há mais de 6.000 anos habita estas montanhas.
Daniel Veríssimo precisa de "...ver, cheirar e sentir a natureza...," no fundo, tal como todos os que verdadeiramente se interessam pela preservação dos redutos naturais de Portugal. Infelizmente, são poucos. Mas muitos mais há que se interessam por outras coisa... cascatas promovidas ad vomitum pelas páginas de iniciativa cidadã, rios e poços promovidos ad vomitum pelas páginas de iniciativa cidadã, violar os espaços preservados e destruir património promovidos pelas páginas de iniciativa cidadã, etc. Veríssimo vive numa sociedade que nunca foi preparada para a preservação da Natureza e do meio ambiente. Uma sociedade que se preocupa mais pelas baterias de lítio dos seus telemóveis do que pelas crateras que irão ficar no Barroso ou em Arga.
Sim, é necessária uma educação ambiental, mas de base! E se as "zonas protegidas são o local ideal para o fazer" e para "dar a conhecer a natureza," os cidadãos já deverão estar consciencializados do local onde se encontram para que não se veja o arranque de árvores para recordação ou para saberem ser necessária uma autorização para entrar em "áreas interditas". Será que se ensina economia a quem tem dificuldade em dividir ou somar?
Por má que seja, a informação disponibilizada na Internet pelo ICNF é muito superior ao que existe na suposta "única" página on-line dedicada ao PNPG (pois, de facto existem muitas) que é um vazio de informação, um vácuo de ideias e uma montra do tipo de visitantes que atrai ao PNPG, só vive de fotografias, sem informação e trabalho de base, logo analfabeticamente funcional e absolutamente inútil. Dá para uns trocos de publicidade...
Em relação à cabra-selvagem, Daniel Veríssimo esquece-se de um ponto muito importante. Apesar de implementada em território nacional, a reintrodução da cabra-selvagem vinda da Serra de Gredos, Espanha, ocorreu de um «incidente» que resultou na libertação dos animais do cercado onde se encontravam no Parque Natural de Baixa Límia-Serra do Xurés. Da mesma forma, e apesar de haver já um número considerável de animais, o seu equilíbrio é instável e o seu comportamento está em estudo. A informação sobre a cabra-selvagem pode-a encontrar nas diferentes Portas do Parque e está também disponibilizada on-line pelo ICNF.
Já algum tempo que me espanto com a peregrina ideia de uma possível reintrodução do urso num espaço onde o homem habita. Quem defende isto para o PNPG, não faz a mínima ideia do que é este território! Das duas, uma: ou quem escreve é um completo desconhecedor sobre o assunto, ou assume que quem vive no Parque Nacional de lá terá de sair para que o urso volte. Não consigo ver uma coexistência em território tão pequeno. Desculpem, mas no Verão já cá vêm muitos, não são precisos mais...
Veríssimo necessita de saber que vive gente dentro do PNPG há muitos, muitos anos. Citando as palavras do Movimento Peneda Gerês Com Gente, "Contrariando as ideias do Eng. Lagrifa Mendes, mentor e criador do PNPG, que ao desenhar os limites do parque teve particular cuidado de neles incluir aldeias, campos e bouças, de modo a dar-lhe esta particularidade de ser um espaço natural onde vivem pessoas, ao tempo, talvez o único em toda a Europa, nos últimos anos, as políticas seguidas pelo PNPG vão no sentido contrário, tentando eliminar, pura e simplesmente, até as actividades ancestrais dos residentes compartes, negando, assim, causas do enriquecimento do património histórico e cultural do parque nacional, presente em todo o seu território, desde os vales ao cimo das serras.
(...) as políticas seguidas pelo PNPG vão no sentido de eliminar a actividade dos residentes compartes dentro do território que administra, o que não é aceite por esta comunidade, tanto mais que ela entende que faz parte integrante do território e que todo este património natural, histórico e cultural da região é fruto de uma sábia interacção entre o Homem e a natureza, desde há vários milhares de anos.
E no que diz respeito ao património natural, nunca devemos esquecer que os principais ataques ao território foram levados a cabo pelo próprio Estado. O abate das florestas autóctones de carvalhais foi feito pelos serviços florestais para ganhar espaço na plantação de resinosas. Os carvalhais que hoje existem devem-se à resistência dos compartes residentes!"
6 comentários:
Exelente artigo . As pessoas que trabalham e sempre viveram nesses locais de um momento para o outro passaram a "curiosidades" . Em vez de os valorizarem como povo que mantém as tradições e o próprio parque são vistos ou como uns "coitados" por alguns que distam de "coitados" como eles duas gerações no máximo ; ou como uma fonte de informação útil para determinados tipos que vivem de determinadas actividades que se começaram a lá desenvolver ,mas que os passam a" inimigos do parque" assim que percebem que as pessoas que teem aquele modo de vida não são parvos e não prestam para marionetes ; ou ainda de " uns selvagens primitivos sem noções de progresso civilizacional"(como os radicais do PAN tanto gostam de chamar) porque teem um modo de vida que não é como os\as depressivas urbanas acham que devem ter (sendo os DU um movimento que nunca produzir um grama do que come mas que sabe tudo de produção alimentar .
Paulo Vilela
Caro Paulo,
Os residentes do PNPG, de forma geral, estão mal preparadas para lidar com os visitantes e muitos que investem nos seus locais de origem fazem-no porque: já têm negócios familiares com história ou o investimento não singra como desejavam com o passar dos anos e acabaram por fechar.
Por outro lado, existe uma corrente de pessoas que instigam a divergência entre os residentes e os visitantes ou quem se quer estabelecer no território.
Não sendo do PAN, a ideia de que existe uma radicalização associada é uma falácia. Queremos mais radicalização do que caçar para divertimento?
Este tipo de lugares comuns que muitas vezes se usa sem querer ver o todo, leva a conclusões que não beneficiam nem quem vive, nem quem visita.
Caro Rui
Um facto curioso que tenho observado nestes tempos modernos é que por norma as coisas quando não resultam a culpa é de quem lá está mas não de quem chega talvez por certas faixas da sociedade tenham alterado o termo integração por inclusão .... ideias .
Pois isso desconheço como ai se passa mas tenho conhecimento de outras zonas onde quem chega é que acha que os outros estão mal (apesar de terem supostamente vindo de onde estavam bem, mas curiosamente não tendo lá ficado )
Não é uma falacia, pura e simplesmente porque pessoas que nunca nada produziram e muitas nem fazem ideia de como fazer-lo tentam ensinar quem sempre o fez.
Não percebo o que o caçar por divertimento tem a ver com radicalização ?? a caça hoje é diferente do que foi outrora e muitas das especies que prosperam assim o fazem porque neste mundo moderno trazem beneficio a alguem pois se não o fizerem estão condenadas esta é a realidade , pode não ser a ideal mas que é verdade é . A caça é um recurso natural como qualquer outro (pesca, silvicultura etc etc) e quando bem gerida traz ganhos a muita gente incluindo as próprias populaçoes selvagens .
A prova do que lhe digo e vou apenas falar a nivel nacional pois exemplos no mundo não faltam é o do lince , que é reentruduzido em zonas de caça e não em parques naturais .
Para mim Radical é ter um negocio que alguem chama de estufas (que são o diabo em "figura de agricultura " segundo esse alguem ) e que diz mal delas de todas formas , mas que tem umas iguais e que chama de túneis e são só benesses para a vida selvagem , ainda por cima sendo dirigente de um partido eheheheh isso sim super radical
Caro Paulo,
A palavra fulcral de todo o comentário é, 'reintroduzido'. Porque houve a necessidade de reintroduzir? Porque há a necessidade de reintroduzir seja que espécie for? Porque a caça destrói ecossistemas e depois há a necessidade de os reequilibrar com a reintrodução das espécies caçadas até à exaustão. Nos nossos dias, a caça é desnecessária e radical.
Bom, desconheço quem se mude de onde estava bem para onde estará mal. No entanto, não faltam casos no sentido contrário e que acabam por ficar para onde foram, não querendo ficar de onde vieram e nem lá investir.
Não tenha medo de falar em nomes, Paulo, e essas notas que refere, apesar de verdadeiras, não alteram em nada a realidade do tema, podendo ser, no entanto, condenáveis para quem as faz.
A verdade é que outros partidos tiram proveito de uma clivagem que querem criar de forma artificial, fazendo um fosso entre quem vive no cosmopolitanismo das cidades e da pacatez das aldeias.
Caro Rui , por norma não costumo perder tempo a explicar coisas a pessoas que não conheço pessoalmente , em outros tempos fazia-o mas depois deixei-me disso . A continuidade dos meus comentários será feita numa base em que o Rui não será do grupo " eu não concordo logo proíba-se". Acho que tem todo o direito de não gostara de caça tal como outros o teem de gostar, partido do principio que nem o Rui deve ser obrigado a participar nem os que gostam impedidos de o fazer . .
A parte fulcral não é a palavra reintruduzido mas sim a sua falta de conhecimento sobre este tema que é a caça . O seu conhecimento é minimo e o seu pensamento baseado em factos que aconteceram há 100 anos e mais . A caça (tal como muitas outras actividades ) teve os seus erros no passado mas hoje é feita de um modo completamente diferente . Desde há varios anos que as pessoas para serem caçadores teem de ter uma serie de requisitos e de cumprirem uma serie de deveres , ser caçador não é como ser ciclista em que basta comprar uma bicicleta e siga. A caça é das actividades mais bem escrutinadas , regulamentadas e fiscalizadas dos nossos dias . Para se ser caçador tem de ser aprovado num exame , se caçar com arma de fogo sr portador de UPA (o qual para ser obtido tem de passar em varios exames ), tem de ser portador dois seguros (responsabilidade civil e da arma) , seguros esses que lhe darão acesso a tirar uma licença que lhe permitira exercer o acto venatório ao abrigo das leis vigentes .
No exemplo que lhe dei da reintroduçao do lince percebi pelo seu último comentario que não faz a mais pálida ideia da causa da sua grave diminuição apenas largando as culpas para a caça . O lince diminui o seu numero devido a duas doenças que assolam os coelhos no nosso território( que são a sua dieta base pois o lince é um predador muito especifico) e que fizeram que desaparecesse de muitos habitat nada tendo a caça a ver com isso . O que se passa é que nas zonas onde se caça os caçadores investem tempo e dinheiro a manter comedores e bebedores artificiais , com culturas que lhes reforcem o estado fisico ,desinfectando tocas e fazendo outras estruturas onde os coelhos se fixem e possam sr vacinados (esta parte com resultados muito erráticos já que o virus da mixomatose é mutante ). Dai o lince quando é libertado o ser nestas zonas e não em parques naturais onde nada teem para se manter pois nada ai é feito .
Como lhe disse anteriormente a caça é uma das forma de se manter os ecossistemas já que é através de quem a faz que muitas matas e culturas são mantidas para os animais se poderem reproduzir e prosperar , pois se os donos dos terrenos não tiverem uma mais valia com isso rapidamente optam por outro tipo de negocio muitas das vezes em que animal nenhum beneficia .
Eu falei no que muitos que chegam dizem mal para onde vão e das suas gentes enquanto dizem muito bem de onde vieram , dai o meu comentario irónico .
Medo de falar em nomes ??? medo de??? o caso não é conhecido ???
Todos os partidos tentam tirara partido de muitas coisas até do inverso que diz , há de tudo
Caro Paulo,
Já reparamos que estamos de lados diferentes da barricada em relação à caça. O Paulo pratica-a, eu abomino-a. Não há como chegar a um entendimento neste ponto.
Quanto ao resto, são floreados de política para entreter.
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