quinta-feira, 21 de setembro de 2017

O fim das concessões mineiras em Carris (I)


A verdade é que já em 1983 as hipóteses de se retomar a exploração mineira nos Carris eram muito pequenas. Com o abandono das pretensões de exploração, o acampamento mineiro é abandonado à sua sorte. As populações serranas tiram partido das infra-estruturas e segue-se um verdadeiro saque aos edifícios com a remoção de mobílias e aproveitamento de outros elementos. Existindo ainda estruturas de exploração mineira, não se sabe em que data terão sido retiradas as maquinarias mais pesadas das instalações, acontecendo isto muito provavelmente já em meados ou finais dos anos 70 e sendo a maquinaria aparentemente “…retirada e roubada…” (segundo o que terá sido referido a Carlos Sousa por Alexander Shneider-Scherbina. Por correspondência electrónica com Carlos Sousa a 11 de Dezembro de 2007.) por um dos sócios da sociedade.  

O “Mapa dos Impostos Fixos das Concessões Mineiras e das Águas Minerais Relativos ao Ano de 1984 e Lista dos Respectivos Concessionários”, publicada pelo Ministério da Industria e Energia (Secretaria de Estado de Energia – Direcção-Geral de Geologia e Minas), aponta para a existência de várias explorações mineiras identificadas em zonas próximo de Carris. 

A 30 de Dezembro de 1986 é enviado para o Secretário de Estado da Industria e Energia o pedido de suspensão de lavra para o ano de 1987. Neste pedido, Adriano Barros descreve sumariamente o passado recente da mina, referindo a reparação da estrada em Setembro de 1978, bem como a reparação e instalação de parte do acampamento. Assinala que em 1979 e 1980 a mina mantivera-se em produção mas que se vira obrigado a suspender a sua actividade, tendo neste período realizado diversos trabalhos de geologia mineira com a implantação à escala do ‘Filão Salto do Lobo’. Refere também os trabalhos sem sucesso levados a cabo pelo Serviço de Fomento Mineiro. Os motivos invocados para a nova suspensão de lavra em 1987 são as baixas cotações dos minérios de volfrâmio devido às quais não se previa num futuro próximo a execução de novos investimentos.

As explorações mineiras na zona dos Carris identificadas no “Mapa dos Impostos Fixos das Concessões Mineiras e das Águas Minerais Relativos ao Ano de 1984 e Lista dos Respectivos Concessionários”

O pedido de suspensão de lavra para 1988 é entregue a 25 de Março desse ano, sendo mais uma vez evocadas as baixas cotações dos minérios volframíticos. O pedido de suspensão de lavra contém algumas considerações com as quais se pretende facilitar a decisão da Secretaria de Estado da Energia. Referindo que a Sociedade das Minas do Gerez era uma empresa de capital maioritariamente estrangeiro, os critérios de remuneração do seu capital não se poderiam pautar apenas pelos acontecimentos no mercado português. Tendo a crise internacional dos preços do mercado do tungsténio tido início em 1981 / 1982, esta somente se fez sentir em Portugal em 1985 / 1986. Isto deveu-se em certa medida à constante desvalorização do escudo, à valorização do dólar norte-americano e à taxa de inflação em Portugal. Estes três factores levaram como que à criação de uma «almofada» que isolou as empresas nacionais de capital maioritariamente ou exclusivamente português, dos efeitos negativos das quedas das cotações. A crise volframítica originou-se mais cedo no caso da Sociedade das Minas do Gerez, pois quando a empresa encetou esforços para se financiar no estrangeiro para assim aumentar o seu capital necessário à lavra mineira, encontrou critérios de valorização de investimento que eram totalmente distintos por parte dos detentores de capital estrangeiro.

Enquanto que a Sociedade das Minas do Gerez encetava esforços para reactivar a mina, mesmo sendo mal sucedidos, surgiram outras possibilidades de investimento fora do sector do tungsténio. Porém, e por imposição do Instituto de Investimento Estrangeiro, o pacto social da Sociedade das Minas do Gerez proibia outra actividade que não estivesse relacionada com a exploração mineira das concessões que detinha e que levou os sócios a criarem a empresa PROMINAS. Através desta nova empresa foram canalizados investimentos para o sector mineiro que de outra forma seriam perdidos.

O pedido de suspensão de lavra acabaria por ter parecer positivo pelas razões invocadas a 11 de Junho, tendo a concordância do Secretário de Estado a 24 de Junho e seu deferimento a 22 de Julho de 1988.

Texto adaptado de "Minas dos carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" (Rui C. Barbosa, Dezembro de 2013)

Fotografia © Miguel Campos Costa (Todos os direitos reservados)

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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