A subida do Vale do Alto Homem em direcção aos pontos mais elevados da Serra do Gerês, proporciona ao visitante algumas das paisagens mais deslumbrantes de todo o Parque Nacional. O antigo estradão mineiro, construído em parte do seu percurso ao longo do antigo carreiro de pastores, leva-nos por entre memórias e restos de histórias que fazem daquele vale uma zona única na Serra do Gerês.
O antigo carreiro iniciava-se junto da ponte sobre o Rio Homem e percorria o vale ao longo da sua margem esquerda até às proximidades da Água da Pala. Aqui, o caminho atravessava o rio e seguia pela margem direita até depois o Modorno e da Água da Lage do Sino, voltando a atravessar o rio para a sua margem esquerda. O percurso seguia então pela Chã do Teixo (ou somente Teixo), enveredando de seguida na direcção das Águas Chocas e depois para a Chã das Abrótegas. Penso que o carreiro terminaria neste local de onde partiriam outros pequenos carreiros em direcção ao Curral dos Carris, Curral de Lamas de Homem (e Cocões do Coucelinho), Curral da Amoreira, etc.
Ora, sabemos que a exploração do volfrâmio é a actividade humana mais recente que de certa forma marcou as alturas serranas. Porém, outras actividades precedem a exploração mineira naquelas paragens. São vários os artigos, livros e autores que descrevem a pastorícia, a sementeira de centeio e a carvoaria como actividades que tinham a sua época em determinadas alturas do ano.
Com o incêndio de 2 e 3 de Setembro de 2013 registado na zona alta do Vale do Homem e que afectou uma vasta área, muito do coberto vegetal foi eliminado deixando à vista construções e outros elementos que anteriormente estavam escondidos. Isto torna-se particularmente evidente na Chã do Teixo onde um significativo conjunto de rudimentares construções está agora perfeitamente visível ao longo do antigo carreiro de montanha que ligava a Portela do Homem (Curral de S. Miguel) com os píncaros serranos. Assim, como explicar tal profusão de construções numa tão «pequena» área?
Talvez a explicação imediata esteja relacionada com a exploração de volfrâmio. No livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês' (edição do autor), o Teixo surge como o registo mineiro n.º 64 efectuado a 23 de Março de 1943 (ou n.º 4 efectuado a 2 de Abril de 1945) pela Sociedade Mineira dos Castelos Lda. junto da Câmara Municipal de Terras de Bouro (pág. 88 e seguintes). Outros registos (n.º 141 'Teixo 1' e n.º 144 'Teixo 2') são feitos a 5 de Abril de 1943. O facto de haver um registo mineiro não indica necessariamente a ocorrência de uma exploração mineira no local, mas sim a realização de prospecções para determinar o valor mineiro da área. De facto, nunca chegou a ser constituída uma verdadeira concessão mineira e como tal a actividade mineira na Chã do Teixo ter-se-á limitado à realização de sondagens. Nesta altura, o desenvolvimento das infraestruturas mineiras na concessão do Salto do Lobo (que daria mais tarde lugar às Minas dos Carris) encontravam-se numa fase avançada de construção o que por si não implicava a necessidade de se proceder ao dispêndio de tempo e recursos para a construção de infraestruturas (por mais pequenas que fossem) na Chã do Teixo.
Ora, aquela chã foi também em tempos, local de pastagem e de abrigo dos gados. Prova disso é o pequeno curral (Curral do Teixo) que existe na margem esquerda do Rio Homem umas dezenas de metros a jusante da junção das águas da ribeira da Corga dos Salgueiros da Amoreira e do Rio Homem vindo das Águas Chocas.
Comparando o local com a paisagem envolvente, a zona é relativamente plana. A localização dos abrigos está relativamente situada em relação a uma área plana junto da margem do rio. Junto das construções facilmente se encontram restos de cerâmica e de vidro, utensílios e inscrições (Pedra do Rei), testemunho da presença «prolongada» do homem no local. Os abrigos encontram-se em óbvia ruína, com as paredes construídas em pedra solta e atingindo cerca de 0,5 a 1,0 metros de altura, em alguns casos tirando partido de rochas de maiores dimensões para a formação de uma das «paredes» do abrigo.
Na zona não surge qualquer área delimitada que permita afirmar a presença de uma zona de cultivo de centeio. Assim, é minha convicção que aquela área tivesse sido utilizada em tempos para o fabrico de carvão que seria escoado pelo Vale do Homem para as Caldas do Gerês ou para S. João do Campo, ou então para as aldeias serranas no vale do Cávado.
Teoria semelhante é também utilizada para justificar o grande número de abrigos na área dos Carris (mas neste caso associado à actividade mineira e do contrabando).
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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