quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Trilhos seculares - As imensas Fechinhas e o Curral da Pedra

Pela manhã o dia ameaçava chuva e as nuvens bem que nos acompanharam de perto em grande parte do caminho. A ideia inicial era de facto caminhar na Serra da Peneda, pois há já muito tempo que não vou para aqueles lados (fica para a semana!). Porém, a hipótese de dar a conhecer mais um pedacinho da Serra do Gerês a um amigo e a possibilidade de passar por aquela lagoa, fez-nos alterar o previsto e lá rumámos à Portela de Leonte a partir de onde começaríamos a jornada.

A parte inicial é um dos trajectos mais percorridos em todo o parque nacional. Subida ao Vidoal e passagem pela Preza em direcção ao Curral da Fonte, seguindo depois pelas Lamas de Borrageiro, Lomba de Pau e descida para o Conho. No Conho flectimos em direcção às Fechinhas... por muitas vezes que se passem em certos locais da Serra do Gerês, há paisagens que sempre nos provocam um arrepio. Olhar para aquela imensidão de granito recortado pela força de séculos, caminhar em vales profundos escavados pela força das águas e dos gelos que lentamente os vai desgastando, cria em nós uma sensação única que dificilmente se exprime em palavras. São aqueles momentos que valem um dia, e este dia foi cheio de momentos.

Em muitas zonas, e apesar da presença das vezeiras, é notória a diminuição da passagem em determinados caminhos. O mato ou os carvalhais espontâneos vão aos poucos ganhando a batalha e reclamando para a Mãe Natureza aquilo que sempre lhe pertenceu; seremos nós os estranhos numa terra «estranha».

A caminhada fez em passo ligeiro e o dia com temperaturas amenas, mas muito suor. Chegados à Cabana de Fechinhas, e já refrescados com um golos de água fresca, rumamos então ao grande objectivo do dia que se encontrava algures no último troço do Ribeiro do Porto das Vacas antes deste se juntar a dois outros cursos de água e formar o Rio da Touça. A lagoa havia avistado numa passeata com o Maior de Barcelinhos que na altura nos fez chegar a Fechinhas vindo dos píncaros que ladeiam antes de Porta Ruivas. Começando então de Fechinhas, o trilho segue subindo e descendo suavemente pela encosta em direcção ao ribeiro. Algumas centenas de metros mais à frente, já em pleno vale que nos levaria ao Curral da Pedra, ali estava ela. Mesmo com a pouca água do Verão aquele cenário era bucólico chamando-nos para um épico de Peter Jackson... não me admirava nada encontrar por ali um velho de chapéu bicudo vestido de cinzento e com um bordão de madeira. Olhando para o fundo do vale estávamos perante uma obra prima, um verdadeiro épico cinematográfico da Natureza com as Portas Ruivas e as Fechinhas a guardar a entrada para as Sombrosas e para o fundo do vale. Simplesmente memorável e com a vontade de tudo abarcar de uma vez só!!!...

Agora havia que tomar a decisão por onde regressar. Havendo sempre a hipótese de seguir o caminho inverso, as notas do Maior da Figueira deram-me a indicação de seguir em direcção aos Prados da Messe passando pelo misterioso trilho até ao Curral da Pedra... e lá fomos. Caminho velho e sinuoso pela encosta, permitiu-nos ver como em tempos as gentes serranas procuravam minorar as dificuldades dos trajectos pela serra. É fantástico ainda ver em determinadas passagens a forma como as pedras foram colocadas para fazer pequenos patamares que favoreciam a passagem sobre o abismo, diminuindo a possibilidade de uma aparatosa queda. Infelizmente, muitos destes trilhos seculares vão-se perdendo por falta de uso e consequente falta de manutenção. Se o gado já não por ali passa, então é normal que os caminhos deixem de ser usados pelas gentes do Gerês e lentamente caiam no esquecimento. Seria uma óptima ideia que todos nós, tirando partido da ajuda das gentes locais, conseguíssemos preservar esses caminhos, preservando assim também as memórias que aos poucos de vão dissolvendo com o passar dos anos.

O velho carreteiro levou-nos a um pequeno prado cheio de fetos geresianos e daqui tentámos encontrar a passagem para o Curral da Pedra. Ela de facto lá existe e ao longe vislumbra-se em certas zonas o seu traçado original. Porém, mais uma vez a falta de uso e de manutenção, faz com que seja difícil por vezes encontrar as passagens. Apesar de existirem as mariolas nos extremos a passagem para o Curral da Pedra fez-se com alguma dificuldade. Depois decidimos prosseguir em direcção ao Conho com um pequeno repasto na pequena lagoa junto da Fonte dos Caçadores, antes do percurso final que nos levou pelos domínios vizinhos de Maceira de volta ao ponto de partida.

Algumas fotos do dia...























Fotografias: © Rui C. Barbosa

Sem comentários: