"O Escutismo foi para mim uma escola de formação complementar
à educação familiar e à formação escolar. Desde cedo me ensinou a viver em
grupo, partilhando vivências, aventuras e ganhando um conhecimento que me
ajudou a formar para a vida adulta, respeitando o meu semelhante nas suas
diferenças e estando ao seu lado em todos os momentos. Mas também me ensinou a apontar as injustiças e a defender as causas pelas quais me dedico.
Baden-Powell criou o Movimento Escutista para educar os
jovens através da sua responsabilização no seio do seu grupo - a Patrulha, e
através do contacto com a Natureza, privilegiando as inúmeras actividades ao
ar livre. Citando-o, "o nosso objectivo é criar cidadãos saudáveis,
felizes, e úteis, de ambos os sexos, para erradicar o egoísmo - pessoal,
político, partidário e nacional - e substituí-lo por um espírito mais aberto de
sacrifício e serviço em prol do bem comum, e assim desenvolver a mútua
compreensão e cooperação não só no próprio país, como no estrangeiro, entre
todas as nações." Define-se o Escutismo na sua proposta pelo o
desenvolvimento do jovem, por meio de um sistema de valores que dá prioridade à
honra, baseado na Promessa e na Lei do Escuta, e através da prática do trabalho
em equipe e da vida ao ar livre, fazer com que o jovem assuma o seu próprio
crescimento, tornando-se um exemplo de fraternidade, lealdade, altruísmo,
responsabilidade, respeito e disciplina.
O Método Escutista é um sistema de progressão com a intenção
de estimular cada jovem a desenvolver as suas capacidades e seus interesses, colocando
desafios a serem superados, aventuras, incentivando a explorar, a descobrir, a
experimentar, a inventar e a criar a capacidade de determinar soluções,
respeitando-os sempre individualmente.
Assim, Baden-Powell criou as bases de um jogo no qual se vai
evoluindo na fase da juventude para a vida adulta, tentando no fundo nunca
esquecer essas bases que nos devem servir, como Dirigentes responsáveis, para
estabelecer as pontes com os jovens Escuteiros.
Através do seu lema "Sempre Alerta para
Servir", a formação do Escuteiro como elemento interveniente na sociedade
deve servir para derrubar as barreiras que nos separam. Ao tomar a sua decisão
consciente, uma opção de vida, o jovem Escuteiro é chamado a representar um
papel responsável e de elevado respeito pelo seu próximo. Respeitar as suas
diferenças e estabelecer o seu papel exemplar, como um paradigma para a
Sociedade moderna.
O respeito pelo próximo e a aceitação das
diferenças deve, em suma, caracterizar o movimento.
Ingressei no Corpo Nacional de Escutas nos
primeiros meses de 1983 e fiz a minha Promessa de Explorador a 26 de Fevereiro
de 1984. Desde então passei pelo Grupo Pioneiro (então Explorador Sénior) e
pelo Clã, tendo no final deste ciclo tomado a decisão de prosseguir no
Movimento e avançando para a minha Promessa de Dirigente a 13 de Dezembro de
1992. Aqui assumi o cargo de Chefe do Grupo Pioneiro 28 do Agrupamento XIX – S.
Vicente, Braga, a minha alma mater Escutista desde sempre. Devo aos meus Chefes
desde Explorador todo o caminho traçado no Escutismo e tendo como vários dos
seus princípios procurei ajudar os jovens Pioneiros a prepararem-se para aquilo
a que chamam de “Homem Novo” na construção de uma sociedade mais fraterna,
leal, altruísta, responsável, respeitadora e disciplinada.
Ao longo dos anos o Corpo Nacional de Escutas foi sofrendo
uma metamorfose, transformando-se no grande movimento de juventude nacional. O
Escutismo foi servindo de exemplo para muitos outros movimentos de jovens na
forma como estes são formados. Porém, e como acontece em muitas situações, aos
poucos vão-se perdendo as características que o caracterizam. O Corpo Nacional
de Escutas não deveria (não deve) ser um laboratório de experiências pedagógicas
nas quais se vão esquecendo as raízes do Movimento a nível mundial,
transformando-o num emaranhado de propostas completamente desfasadas das
necessidades dos nossos jovens.
Quem dirige o Corpo Nacional de Escutas não pode esquecer os
pilares fundamentais do Movimento Escutista, isto é, a fraternidade, a lealdade,
o altruísmo, a responsabilidade, o respeito e a disciplina. Quem dirige o Corpo Nacional de Escutas não pode ser a fonte
de descriminação nas decisões que toma, penalizando estilos alternativos de
vida saudável dentro do próprio CNE e privilegiando outros factores que mancham
o nosso movimento. Os exemplos são vários e estarão à vista de todos. A nossa Direcção Nacional deve procurar a excelência no Servir. Não
querer aprender com os erros passados, fechando os olhos às evidências, é
tentar transformar o CNE num grande movimento de jovens que só se diferencia no
essencial pelos números, mas que no geral é apenas uma parte indiferenciada de
uma manta de retalhos que se rompe à mínima tensão.
Braga, 1 de Agosto de 2012
1 comentário:
Concordo plenamente consigo. Este novo método quer transformar os chefes, deixando de serem os amigos e companheiros que sempre deveriam ser, para se tornarem em psicólogos e controladores de progresso estampado em mapas, mapinhas, folhas e folhinhas complicadas demais. Ainda por cima parece que está feito para valorizar os "melhores" realçando-os, quando o que se deveria valorizar eram aqueles que ajudam os outros e os mais fracos do seu grupo.
Uma canhota
Enviar um comentário