Se na maior parte das vezes é-me relativamente fácil descrever os trilhos que percorro pela Serra do Gerês, é difícil encontrar palavras para descrever as paisagens e emoções do Trilho da Cumeada. Os grandes espaços tornam-se evidentes ao percorrer este trilho e a imensidão do Gerês, esta 'pequena' serra no Norte da Lusitânia, cai sobre nós como uma grande onda na zona de rebentação. É uma paisagem simplesmente avassaladora e fantasticamente única de píncaros graníticos, caprichosas formas rochosas, e promontórios e portelas que nos abrem passagem para mundos de sensações possíveis só a quem lá está e só a quem vive momentos de contemplação.
A imensidão do Vale do Alto Homem torna-se evidente vista do alto da Encosta do Sol. As figuras milimétricas que percorrem o estradão para os Carris dão-nos a escala do que se expõe perante o nosso olhar; um vale imenso ladeado de altas muralhas de granito como que a defender um santuário muitas vezes pouco respeitado por quem o percorre. Ali, é o domínio dos grandes espaços, da imensidão da Serra do Gerês.
Iniciamos a caminhada com uma subida em direcção aos primeiros marcos de fronteira logo após a Portela do Homem. Inicialmente coberto por muita vegetação, o trilho vai-se abrir para o que esperávamos fosse uma caminhada difícil tendo em conta os dias quentes e secos que o final da Primavera nos havia brindado. Felizmente, as primeiras horas de Verão nas serranias do Gerês foram bem condescendentes para o trio que, com a devida autorização, se dispunha a calcorrear os limites da nação lusitana com a nação galega.
Acompanhando os marcos fronteiriços, o nosso caminho brindava-nos com as primeiras paisagens vendo-se o místico Vale da Albergaria, local de fadas e duendes... sejam eles quais forem, e os altos da Abilheirinha, que vão recuperando da inconguência dos homens. Com um olhar alternado entre terras galegas e lusitanas, o caminho foi sempre empinando e serpenteando por entre pequenas estátuas de granito esculpidas pelo frio do Inverno e pelo calor tórrido do Verão que assim ao longo das eras vai-lhe alternando a forma. Fazendo lembrar criaturas fantásticas de uma Terra Média há muito desaparecida, estão ali, como guardiões dos tempos passados fazendo-nos lembrar do teor sagrado e profano do lugar por onde caminhamos.
Ao longe o nosso olhar fazia-nos constantemente lembrar das dificuldades que por vezes tínhamos de passar; se por vezes o caminho era suave e plano, por outras surgia um pequeno vale que depois da descida nos brindava com um ligeiro esforço de pernas para o vencer. No entanto, o prémio era sempre mais deslumbrante com uma nova paisagem, uma nova sensação.
Abeirando-nos do bordo do vale vimos a Água da Pala como nunca vista, o Cagarouço lá no fundo como um pequeno transbordar de água, as sucessivas lagoas paradisíacas do Rio Homem (às quais nenhum infeliz se lembrou de chamar por algo semelhante às 'cascatas do Tahiti', coisa ridícula... ai, o fundamentalista!), o 'Z' desenhado na encosta do vale a marcar as Curvas das Febras, o fantástico Modorno... todo um vale que se estendia perante o olhar e o rodar da cabeça.
A parte final do trilho marca a chegada às terras mais altas. Por entre o picos da serrania lá estavam o Pico da Nevosa, o Altar dos Cabrões (é nosso pá!), o alto dos Carris, o Alto da Amoreira, o Outeiro da Meda sobranceiro ao Teixo e aos Curras das Albas como que um posto de vigia sobre a Corga dos Salgueiros da Amoreira, rebuscado cenário de montanha para quem chega às Águas Chocas pelo Vale do Rio Homem.
A parte final do percurso foi iniciada junto do marco n.º 91 entrando difinitivamente na Galiza e descendo para as Minas das Sombras, local do repasto merecido. Descemos pelo Sendero das Sombras e fomos então brindados com um calor torturante perante as quase inacessíveis lagoas do Rio da Amoreira.
Fica sem dúvida a vontade de lá voltar... até porque ficaram vários marcos de fronteira por fotografar...
Eis a primeira série de fotografias...
Fotografias: © Rui C. Barbosa
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