Carris, 23 de Dezembro de 1993
Já muitas vezes escrevi sobre a caminhada a Carris, mas...
Subir a Carris é uma experiência única, quase transcendental... Transformamo-nos ao longo do caminho, o grupo assume as suas individualidades únicas repartindo experiências ao longo do percurso... A paisagem leva-nos a outros tempos da nossa existência, finalmente temos o tempo que nos tiram para pensar em nós, para relembrar o passado, projectar um futuro...
Escutar o Homem que corre ao nosso lado encadeia-nos o passo, é uma força contra a qual não queremos lutar... Somos a nossa essência que se vai transformando nela própria... Vai-nos moldando ao longo do caminho... Este vai cobrando cada passo que vamos dando, pois ali somos a simples parte da Natureza que insistimos em transformar à nossa imagem, tal como deuses nos picos mais altos da serra que nos miram com desdém... pequenas criaturas...
A montanha vai-nos envolvendo num ambiente quase sagrado e as suas imagens fazem-nos entrar no caminho do profano... Imaginamos fadas e duendes, bruxas e outras estórias da montanha... Os nossos medos estão sempre prontos para nos assaltar ao cair da noite, no fugaz movimento do arbusto, no levantar do pó do caminho, na sombra que se esconde da luz... trémula do final do dia...
Chegados ao final cansa-nos a alma, respira o espírito... treme o corpo. O ambiente é de uma catedral, um monumento que insiste em se manter de pé... impõe-se o silêncio, nem mesmo nos atrevemos a pensar alto no interior de nós... As ruínas surgem como guardiães de um templo, perdidas num tempo que insiste em não correr mais, deixar-se ficar no passado...
Carris é único! Tem uma presença que nos transforma... é uma caminhada que nos torna Humanos...
Fotografia © Rui C. Barbosa
1 comentário:
Carris é um espaço a não perder, a paisagem envolvente é deslumbrante. Assim que chegámos, não queremos voltar, mas sim continuar...
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